Desde que assisti à semana dedicada à feira de Basel na CNN ando pensando muito no mercado de itens de luxo.
Foi interessante ver como, em muitas entrevistas, representantes de grandes marcas não queriam que seus artigos fossem tratados como "luxo". A maioria preferia dizer que se tratavam de "sonhos". E que num mundo como o que vivemos, luxo não se aplica mais a produtos.
Ficou por aí este raciocínio… Até que há algumas semanas li sobre a "Luxury Briefing" que aconteceu em Londres. Centenas de especialistas no assunto se reuniram para falar de tendências. De novo o assunto me chamou atenção.
Claire Kent, ex-analista de mercado de luxo da Morgan-Stanley, atual consutora do mercado e diretora da rede French Connection, juntamente com o milionário David Tang, que é fundador da rede Shanghai Tang, bateram na mesma tecla, de maneiras diferentes.
Claire soltou a frase explosiva, "As it-bags de luxo estão a ponto de se tornar um embaraço" (frase que, aliás, foi repetida pelo mundo todo em jornais e sites), para falar da fadiga da indústria de luxo, num momento de recessão econômica mundial como o que estamos vivendo. Claire disse que, em sua opinião, a tendência é "gastar mais, em menos itens" e que ter as bolsinhas carérrimas da estação passa a ser sinal de "falta de personalidade de moda".
Já David Tang falou da pasteurização do mercado mundial. E disse que os shoppings de luxo do mundo são todos iguais, com as mesmas grifes.
E mais: que os chineses ricos querem gastar seu dinheiro, mas que falta, de parte do empresários de moda, mais criatividade e personalização.
Engraçado que esse era o assunto que discutíamos ainda outro dia numa mesa de restaurante. Eu conversava com uma amiga de minha família que é uma senhora paulista, já mais velha e muito rica. Junto conosco uma de minhas melhores amigas, compradora de uma grande loja de moda e decoração. E falávamos justamente do assunto que o Sr. Tang falou, depois, na convenção. Antigamente, quando se viajava para a Europa, Estados Unidos ou Ásia, por exemplo, cada loja de grife de cada cidade tinha uma característica específica com produtos exclusivos para a aquele país.
Hoje em dia você pode comprar a mesmíssima bolsa aqui em São Paulo, em Barcelona, em Paris ou em Hong Kong. Tirando algumas poucas linhas, que poucas marcas fazem para o Japão ou produtos exclusivos vendidos na loja central de cada marca, o resto é idêntico. Ser rico, na maioria do tempo, não é mais sinônimo de exclusividade. É sim fazer parte de uma massa que se indentifica através de bolsas, sapatos e relógios.
Será?
É errado?
Não. É o que os consumidores querem.
Isso quer dizer que o mercado está certo e Claire e David não?
Não necessariamente.
Mas ainda continuo achando chique aquelas meninas que gostam de usar a Chanel de mais de vinte anos que era da avó, dos rapazes que usam o Rolex dos anos 60 do pai ou até a moça que ganha uma anel de mais de cinqüenta anos para seu noivado e não um que saiu há meia hora da joalheira. Pra mim isso tudo não é nem luxo, é sonho
Julia Petit
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