Diretamente de Mesquita, município da região metropolitana do Rio de Janeiro, Raíssa Campos é a influenciadora digital que todo mundo deveria conhecer (e seguir!). Aos 24 anos e formada em Design de Moda, é mais conhecida como itBaixada – trocadilho esperto que criou com o termo “itGirl”, utilizado para falar de meninas, em sua maioria ricas, que criam tendências e chamam atenção por seu estilo. Em suas redes sociais, uma série de postagens recriando capas de revistas de moda chama atenção. Questionando a ocupação desses espaços por pessoas pretas ou gordas, cada capa foi escolhida a dedo para reprodução.
“Todas tinham algum significado para mim. As três primeiras foram as que mais se aproximaram de uma crítica porque foram as primeiras capas da Vogue América, UK e Brasil com uma mulher negra e elas estavam bem esbranquiçadas e com o cabelo alisado. Então, fiz questão de reproduzi-las com meu cabelo natural. Já as outras tiveram o objetivo de homenagear personalidades e fiz: Rihanna, Lizzo e Ju Romano, que trouxe uma questão mais pessoal. Foi a primeira vez que vi uma mulher gorda na capa de uma revista de moda de grande circulação”, explica Raíssa em entrevista ao GLMRM.
Entre dicas de styling e truques de maquiagem, a influencer se destaca por suas postagens com conteúdo ainda muito restritos à grande massa, como história da moda, da alta-costura e das marcas de luxo. “Sinto que meu trabalho é continuar compartilhando assuntos que já me interessavam só que, agora, com um grupo maior de pessoas, tornando todo esse conhecimento mais acessível”, conta Raíssa. No papo, que você confere a seguir, a designer fala sobre sua infância, referências e a beleza que vem por meio da confiança. Confira!
Presença online
“Beleza tem mais a ver com confiança do que com aparência”
Raíssa Campos
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Como era a Raíssa na infância?
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Sempre gostei de atividades criativas. Era aquela criança que pedia para a mãe comprar todos os materiais do “Art Attack” e ela sempre me incentivou, até como forma de manter os meus rabiscos longe das paredes dela. O meu “o que quero ser quando crescer” mudava com certa frequência e, normalmente, a profissão da vez tinha a ver com alguma boneca que eu comprasse na época. Então, já fui de aeromoça a bióloga marinha, mas sempre gostei de moda. Toda aquela história clichê da criança que fazia roupinhas para Barbies e bonecas, eu tenho. [risos] Decidi então cursar moda com uns 12 anos, quando descobri que existia uma faculdade disso e que poderia fazer desse meu interesse uma carreira.
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Sua primeira boneca preta foi aos 7 anos, certo?
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Foi, a Trelele. Ela era uma bebê preta e foi presente de natal ou aniversário. Lembro que a gente estava fazendo uma peça na escola e tinha um bebê no roteiro. Fazia questão de levá-la para a aula vários dias e a segurava no colo como se fosse um bebê de verdade, era muito engraçado. Na época, foi bem difícil achar uma boneca negra… Se hoje em dia, às vezes, já é complicado… Imagina há quase 20 anos. Ela foi a minha primeira e única por um bom tempo até minha mãe, que sempre quis que eu tivesse bonecas parecidas comigo, conseguisse encontrar outras.
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E de onde surgiu o itBaixada?
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Foi um grande “quando dei por mim, já estava aqui”. [risos] Sempre quis trabalhar com moda, mas gostava mais da área de criação e estilo. Não ligava muito para a parte de comunicação, que é o que eu mais faço hoje em dia. Comecei compartilhando algumas coisas no meu Instagram só por gostar e, em 2017, fui convidada a participar de uma plataforma digital para microinfluenciadores organizada por uma marca de beleza. Na época, fiquei chocada, tinha só três mil seguidores, talvez até menos, e não levava aquilo como um compromisso de trabalho, apenas postava algumas dicas vez ou outra. Esse projeto durou cerca de seis meses e funcionava como uma mentoria. A partir daí, fui crescendo e passando a encarar minha presença nas redes sociais como uma profissão e gostei. Hoje, sinto que o meu trabalho é continuar compartilhando assuntos que já me interessavam, só que para um grupo maior de pessoas, tornando esses conhecimentos mais acessíveis.
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Para além dos truques de beleza e styling, o seu conteúdo tem um teor muito educativo. Como funciona o seu processo de criação?
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Comecei a pensar em fazer esses conteúdos justamente porque, às vezes, comentava sobre alguma coisa que era óbvia para mim, afinal estou imersa nesse meio há muito tempo, mas as pessoas não entendiam ou tinham dúvidas. Então, percebi que os assuntos que eu tratava não eram tão óbvios assim e passei a testar esses conteúdos mais educativos. Acho que o primeiro foi sobre alta-costura. Pesquisei antes de fazer, é claro, mas é um tema que amo e estudo há muito tempo. Resolvi começar com esse porque sei que não é muito claro para a grande maioria das pessoas, como esse mundo funciona e também porque acho interessantíssimo o tanto de regras envolvidas. Enfim, foi um conteúdo que super engajou e fez muito sucesso. Entendi o quanto as pessoas queriam consumir aquilo e o quanto eu gostava de falar sobre isso. Amo fazer esse tipo de postagem porque são assuntos que aprendi durante a faculdade, leio e pesquiso sobre (eles) até hoje. Além disso, alguns textos são difíceis de achar em português, muita coisa na moda é em inglês ou francês. Então, acho importante tornar esse conhecimento mais democrático e fazer com que essas informações alcancem mais pessoas.
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Quem são as suas referências?
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Clichê, mas verdade: minha mãe. Ela é uma grande referência para mim, super me apoia e sempre foi aquela pessoa que acreditou mesmo quando eu não acreditava. Também não posso deixar de falar da Rihanna. Ela é uma pessoa que a gente tem que admirar, não só por ser incrível, inovadora e tudo o que todo mundo já sabe, mas essa coragem que ela tem de não decepcionar os fãs com a falta de músicas é maravilhosa. Imagina só a pressão em cima dela, a cobrança do público! [risos] Mas ela está fazendo o que acha que deve e acho isso muito legal. A Samantha Almeida também é uma grande referência para mim, uma baita profissional, que foi como uma fada madrinha no início dessa jornada online, me incentivou muito. Para fechar a lista: Luiza Brasil e Josy Ramos.
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Hoje, você também é referência para inúmeras meninas, principalmente quando o assunto é amor-próprio. Sua relação com seu corpo sempre foi harmônica assim?
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Não. Acho que dificilmente alguém que tenha passado pela adolescência nos anos 2000 teve uma relação harmônica com seu próprio corpo, porque não existia referência midiática nenhuma de pessoas gordas. Ou, pelo menos, não existiam referências positivas. Então, fica realmente difícil conseguir se enxergar com clareza não tendo ninguém que se pareça com você para admirar ou se espelhar. Quando olho para trás, vejo que nossa visão sobre o corpo, no início dos anos 2000, era bizarra. A Raven-Symoné [atriz principal da sitcom “As Visões da Raven”], por exemplo, era considerada e retratada pela mídia como uma pessoa gorda e ela não chegava a ser nem plus size. Para mim, foi algo muito mais construído e fortalecido com o tempo. A internet, inclusive, me ajudou bastante nesse processo. Apesar de serem prejudiciais em algumas situações, nas redes sociais você consegue encontrar pessoas lindas e que se parecem com você.
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Quando você se sente mais bonita?
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Acho que beleza tem mais a ver com confiança do que com aparência. Posso estar sem maquiagem e desarrumada, mas se estou confiante naquele dia e com o que estou fazendo, me sinto linda. Do mesmo jeito, posso estar completamente montada, mas se falta a confiança, me sentirei mal. Também depende muito do dia, tem dias que acordo ‘borocoxô’, amo essa palavra, e tem dias que acordo me sentindo a própria Beyoncé.
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Qual item é indispensável na hora da make? E qual peça não pode faltar no seu guarda-roupa?
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Algum produto multifuncional. Sou muito adepta desse tipo de produto porque consigo usar como delineador, sombra, batom e blush. De roupa, acho que um sapato ‘diferentão’. Sou uma grande fã de sapatos feios, gosto de modelos peculiares e que tenham presença.
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