Sua história no universo digital começou como um passatempo, compartilhando as transformações que fazia em sua própria casa, junto da mãe. Com o tempo, essa habilidade para criar ambientes acolhedores e sustentáveis chamou atenção, e Daniel passou a investir mais tempo nas redes sociais, mostrando sua rotina, seus trabalhos e apresentando maneiras de renovar os ambientes. Suas dicas vão desde a transformação de móveis usados até a reutilização de materiais como garrafas, tecidos e pallets. Além disso, o decorador faz questão de incorporar em suas criações elementos que se relacionam às raízes culturais brasileiras, como artesanatos indígenas e afro-brasileiros. No momento, ele está em processo de decoração do apartamento da estilista Isa Silva, no centro da capital paulista.
Apaixonado por moda e decoração, como ele mesmo se descreve, Daniel também não abre mão de incluir em seus trabalhos uma outra paixão pessoal: as plantas. Formado em Naturologia, o influenciador acredita no poder transformador das plantas para renovar a energia e a beleza dos ambientes que decora. A combinação entre sustentabilidade e ancestralidade é o que faz de Daniel um diferencial entre os influenciadores do nicho de decoração. Ele defende que a decoração pode ser uma forma de expressar não apenas beleza e identidade, mas também o respeito pelo meio ambiente, prática que incentiva seus seguidores diariamente.
A decoração sustentável surgiu em sua vida na adolescência, quando você e sua mãe resgatavam, transformavam e ressignificavam móveis para a casa de vocês. Hoje em dia, como a sua relação com a sua mãe e a sua família influencia e inspira o seu trabalho?
Na fase da adolescência, tive momentos com muitos desafios. Para a nossa sobrevivência financeira, alugar a casa que tínhamos era a única alternativa para desafogar as contas ao longo dos meses de verão (dezembro-março). Nesse período, nos mudávamos para o sótão que havia na casa. Ou seja, todo ano decorávamos o sótão, que era um lugar de depósito do que não usávamos durante o ano.
Então, de agosto a dezembro, nossa função era encontrar móveis na rua ou saber de móveis que estavam para doação. Quando achávamos o que precisávamos, a família toda se unia e reformava para dar nos cômodos da casa, que era grande: havia quatro quartos, duas salas, três banheiros, uma cozinha grande, área de lazer. A famosa casa dos anos 1980/1990.
Pintar paredes, tingir roupas de cama, lixar móveis, compor os ambientes eram coisas que fazíamos durante o período de preparação para ambientar esses espaços, que iriam ser usados por grupos de amigos, famílias que ali ficariam por semanas.
Casa é sempre um lugar onde queremos nos sentir bem, acolhidos. Todo mundo trazia isso como relato: “Nossa, a casa de vocês tem vida”, “Nossa, vocês compõem a casa muito bem” ou as pessoas que chegavam com aquelas caminhonetes gigantes, carros importantes diziam: “Nossa, Fátima, você tem uma casa especial”. Isso ficou guardado na minha memória. Parece que estou contando e romantizando, mas não, foram momentos de muito esforço e dedicação. Ao total dessa história foram sete anos nesse mesmo ritmo.
Nossa casa se tornou 100% sustentável, aproveitamos móveis de outras pessoas, usamos roupas de cama que iriam para o lixo, montamos luminárias com sucatas, móveis com restos de madeira, metal, até pallets. A sustentabilidade tomou consciência por uma questão de sobrevivência, os desafios levaram nossa família a acreditar que a ressignificação de um item para sua casa tem muito mais valor.
Além da sustentabilidade, seu trabalho tem um propósito muito forte com a ancestralidade. De onde surgiu esse interesse em resgatar e preservar a ancestralidade através da decoração?
Eu tenho duas famílias que possuem verdadeiros artistas, todos relacionados ao universo da casa. Meu avô por parte de mãe, que já é falecido, uma figura preta de pele clara (seu Rau), foi uma pessoa muito criativa, era carpinteiro. Todas as vezes que nos víamos, eu sempre o via fazendo uma cama, uma bandeja de café da manhã, um revisteiro, um gabarito para fazer algum móvel, até ferramentas ele fazia. Era realmente um artista.
Já minha avó por parte de pai (dona Margarida), uma mulher preta com origem afro-indígena, usava sua arte na cozinha para criar remédios que atendiam a família e os vizinhos, com garrafas, óleos, pomadas. Nas horas que não precisava cuidar da casa, ela costurava mantas com retalhos, sobras que pegava de fábricas na Av. Brasil, no Rio de Janeiro. O que mais me chamava a atenção era sua honestidade e generosidade com seus próximos, compartilhando mantas que supostamente eram para ser vendidas e trazer uma parte do sustento da casa.
Ambos me aguçaram a admiração, me inspiraram. Outras pessoas da minha família também eram artistas, mas se fosse para compartilhar as referências seriam essas.
Em suas casas tudo sempre foi muito simples, mas com muitos significados, como fotos de casamento em preto e branco nos retratos. Essas fotos eram admiráveis. Além disso, estampas com tons de vermelho, azul, amarelo, laranja gritavam nas suas casas, móveis com formatos arredondados entregando a cena do pós-modernismo. Meus pais, sem dúvidas, herdaram de meus avós esses dotes para colocar em prática na sua vida e na nossa família. Hoje, no meu trabalho, muito da minha inspiração para os projetos vem dessa teia de ancestralidade que me acompanha desde o dia em que nasci.
No @cafofododani você é a inspiração para pessoas que querem adotar uma decoração sustentável, através de dicas e vídeos sobre os benefícios da prática para o mundo. E na sua vida, quais são as suas inspirações nesse processo criativo que envolve decoração e sustentabilidade?
Eu fico muito feliz que cada vez mais tem se fortalecido uma consciência coletiva nas redes sociais e fora dela. É um movimento muito importante no universo de casa e decoração. Na sustentabilidade, ressignificar é um ato de consciência. Hoje temos antiquários presenciais e digitais, temos a troca de móveis entre casas, a restauração que pode ser feita com produtos à base de água. Acho que quando falamos de sustentabilidade, o principal é entender, de fato, o processo das coisas, não só na decoração, mas nas roupas, produtos de beleza, é uma consciência que ainda estamos caminhando para compreender.
Para muitos, o movimento da sustentabilidade é uma forma de se expressar, sobreviver. Como, por exemplo, minha avó Margarida, que fazia três colchas de cama para vender por semana, ou a Nara Guichon, que é uma referência em usar redes, com peças de arte e decoração que levam mais de 100 anos para começar a se decompor.
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