Dois apaixonados por arte convertidos em designers de joias pelas mãos do acaso. Dois entusiastas da identidade brasileira. Duas sólidas carreiras internacionais no mercado de alto luxo e vida entre Estados Unidos e Europa. Dois estilos de peças desejadas por grandes celebridades. Fernando Jorge, 43 anos, e Ana Khouri, 41, pertencem à mesma geração, estão inseridos no mesmo universo – na intersecção entre arte, moda e fama – e vivem momentos de consolidação e também de transformação nas carreiras. Os paralelos são muitos, mas os caminhos e visões são inconfundíveis.
As criações de ambos cativam o olhar. As peças de Fernando Jorge já vestiram Angelina Jolie, Beyoncé, Oprah Winfrey, Adele, Julia Roberts, entre outras. Ana Khouri conquistou nomes como Lady Gaga, Scarlett Johansson, Charlize Theron, Michelle Obama e a vice-presidente americana Kamala Harris.
Fernando nasceu em Campinas e tentou seguir um caminho profissional mais corporativo na engenharia e transportes internacionais. Até que, convencido por colegas do talento como desenhista, entrou para o curso de design da universidade Mackenzie, em São Paulo, e depois trabalhou em uma fábrica de joias com grandes redes como clientes. “Fiquei maravilhado com a possibilidade de estar cercado de pranchetas e aquarelas, e não apenas mandando e-mails”, lembra ele, que atuava também como professor do curso de joias do Instituto Europeu de Design. Mas sentiu vontade de ir além. O mestrado na Central Saint Martins, em Londres, por onde passam muitos dos grandes inovadores da área, como Ana Khouri, “foi o grande facilitador da minha carreira internacional”, conta.
Ana nasceu em Londrina, mas cresceu na Flórida. De volta ao Brasil, estudou artes plásticas na Faap, em São Paulo. Seu trabalho final foi uma exposição em que mulheres andavam em volta de grandes esculturas de metal. Um dos presentes pediu versões menores das obras para serem usadas como joias. Ana seguiu se considerando, antes de tudo, uma artista, e a escultura tornou-se parte do processo criativo de suas peças. Com 22 anos foi para Nova York, onde trabalhou em galerias de arte e no Metropolitan Museum of Art. A conexão com a moda se fortaleceu na assistência a estilistas como Stella Mccartney e Richard Chai. Foi da proximidade com esse mundo que algumas modelos passaram a usar suas peças, a pedir e a emprestar.
Quando Madonna foi vista, em 2008, usando uma das tiaras de ouro que confeccionou, seu nome ganhou tração. Ana Khouri criou sua marca em 2013 e trabalha com duas linhas: alta joalheria, peças únicas e vendidas apenas em seu ateliê em Nova York com hora marcada, em leilões de luxo ou em eventos especiais; e a linha Fine, com edições de dois a 15 exemplares disponíveis em lojas selecionadas, como a The Row, das irmãs Mary-Kate e Ashley Olsen.
Ana prefere o nicho à produção em escala e até mesmo a ter uma loja própria. Para ela, joias são peças, compradoras são colecionadoras, e a lógica que orienta tudo é a mesma do mercado de arte. Famosa por suas ear cuffs, também tem entre suas joias icônicas, colares que misturam diamantes com jacarandá, o anel Mirian, que serpenteia no dedo sem fechar o círculo, e o robusto anel Phillipa.
Tanto Ana quando Fernando são bem autorais e suas criações facilmente reconhecidas. Porém, diferente de Ana, ele seguiu outros passos, focando em sua loja e no chamado atacado de luxo, investindo pesado no design e expondo de maneira independente em Londres e nas fashion weeks enquanto crescia. Ao mirar no mercado americano, o relacionamento com estilistas abriu o caminho até as celebridades, especialmente em Los Angeles. “Queria famosas que fossem talentosas em todas as áreas, sem forçar a barra”, explica. Ele ressalta que os empréstimos ocorrem de maneira espontânea. “Não é nem pagar e nem dar de presente, isso é contra a minha filosofia. É o meu trabalho e o trabalho delas se encontrando, mas isso não pode ser mais importante que vender para uma cliente”, opina Fernando.
Peças icônicas do designer, como os brincos de diamantes Disco, usados por Beyoncé, Viola Davis e Mariah Carey, o anel de ouro Stream e o brinco de ouro Flame podem ser encontradas em lojas conceituadas de 26 cidades ao redor do mundo, e também podem ser compradas direto no site dele. Aliás, o designer está completando dez anos da marca em meio a uma mudança de ateliê em Londres e lançamento da High Series, releituras mais luxuosas de seus clássicos.
Já Ana Khouri vendeu suas esculturas pela primeira vez em maio de 2022, na edição nova-iorquina da Tefaf (The European Fine Art Fair) e mantém no Brasil, desde 2014, o Projeto Ovo, que revende roupas e acessórios doados por fashionistas e marcas, e já arrecadou R$ 3,4 milhões para 80 instituições assistenciais do país.
Texto por Beto Saraiva.
A matéria faz parte da nova edição da Revista J.P.
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