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João Cortês
Foto: Ângelo Pontes

João Côrtes surfa na contramão dos estereótipos. Adepto da moda e do comportamento genderless, chama a atenção por se posicionar em um cenário (a TV) onde a desconstrução das ideias de masculino e feminino ainda encontra fortes barreiras. Ao GLMRM, o ator de 28 anos fala sobre o tema em entrevista fluida e sem gênero. Confira!

Foto: Ângelo Pontes

GLMRM: Qual é a sua relação com a moda no geral?

JC: Nunca me atentei e botei muita energia nisso. Não me dava o trabalho e o tempo de olhar para isso e prestar atenção, sabe? Mas, ao mesmo tempo, não me identificava em nenhum lugar. Da pandemia para cá aconteceu uma revolução dentro de mim e aí liguei esse gatilho. Comecei a me conectar com a moda. Estava vivendo mudanças internas, processos evolutivos meus como ser humano e como artista, além de ter feito um paralelo com a minha sexualidade, meus questionamentos de gênero e orientação sexual.

GLMRM: Desde quando você adota a moda genderless?

JC: Comecei a prestar atenção nisso em 2019, porque foi ali o início para me conectar com o mundo da dança e circular por lá. Esse universo tem muitos figurinos sem gênero, muito tecido, roupas, desenhos… Como ator e artista, quero ter o meu lugar de se expressar. Nas redes sociais também vi que atores que eu admirava começaram a postar usando roupas que eu achava muito interessantes. Foi um processo de criar consciência, foi acontecendo de uma maneira gradativa.

GLMRM: Qual a sua peça-chave?

JC: A bota com salto plataforma. Usei pela primeira vez na gravação de um curta-metragem. Comecei a usar esse sapato na rua e senti na pele a revolução porque, como homem, a sua postura muda, além da maneira como você se expressa.

GLMRM: A moda interfere na personalidade das pessoas?

JC: Podemos ver em festas, festivais de música, muito do que a pessoa quer falar e expressar. Um boné, um colar, uma saia… Eu tenho prestado muita atenção nisso.

Foto: Ângelo Pontes

GLMRM: Como você tenta influenciar o seu público através da moda?

JC: Eu enquanto artista e homem gay me sinto muito na responsabilidade de trazer alguma coisa para essa conversa de agregar e abrir a mente de quem me acompanha.

GLMRM: Quais artistas você se inspira na moda genderless?

JC: Timothée Chalamet, mesmo sendo um homem hétero, foi se transformando em um ícone da moda, acho legal as roupas que ele usa. Zendaya também, um ícone muito forte para a geração jovem, além do Billy Porter, um homem que ousou e foi o primeiro a aparecer de vestido na premiação do Oscar.

GLMRM: Roupas que na sua opinião nunca sairão de moda?

JC: Aposto na saia. E a boina, que acho que fica elegante em qualquer pessoa, e óculos com lentes transparentes, claras ou escuras.

GLMRM: Acredita que ainda há preconceito envolvendo a moda sem gênero?

JC: Temos muito o que caminhar, principalmente no Brasil. Acredito que estamos no começo de tudo, mas estamos evoluindo. As pessoas precisam de muita coragem e ousadia. Precisa de muita ousadia para mostrar quem você é, se permitir a usar o que quer que seja e se vestir de uma forma para se sentir à vontade.

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