Mais do que função, o design tem o poder de abrigar história, memória e vínculos afetivos. É essa percepção – alinhada com a essência da brasilidade – que o designer mato-grossense Sérgio Matos traz em suas peças que têm conquistado famosos e influenciadores. Talvez, enquanto o internauta pula de um Story para o outro pelo Instagram, já tenha se deparado com alguma de suas criações, entre elas, a Cadeira Cobra Coral, que é a peça-desejo do momento e já conquistou nomes como o ator Bruno Gagliasso, o cantor Ney Matogrosso, e foi até parar no Museu das Cadeiras Brasileiras.
Quando criou a peça em 2014, Sérgio até cogitou não lançar a cadeira, considerando que ela fosse muito chamativa pelas cores fortes. Mas, para sua surpresa, o sucesso foi tanto que até hoje ela é o xodó do ateliê do designer e tratada como uma peça de arte pelos clientes. “Quando projetei a Cadeira Coral pensei que venderíamos pelo menos quatro de uma vez, como um conjunto, mas a gente só vende uma. A peça se tornou mesmo uma espécie de objeto de arte para as pessoas, para decorar ambientes, e não para o uso do dia a dia”, conta ele. A inspiração veio durante uma das muitas viagens à Amazônia, pensando no rastro da serpente que habita a mata e as lendas perpetuadas na crendice dos povos da floresta. O desenho forjado no aço é capturado pela amarração artesanal em um verdadeiro balé alternado das cores coral, branco e preto.
Mas longe de ser um único projeto inspirado pela nossa fauna ou flora, a brasilidade se faz presente em todas as criações de Sérgio e de seu ateliê: cores, formas e até os próprios nomes das peças trazem um pouco da essência tupiniquim. “Ainda na universidade isso era algo que me prendia, era uma época em que tínhamos poucas referências do design brasileiro nesse sentido, com representatividade da infinidade. Quando abri meu ateliê, pensando no meu trabalho que já era muito ligado ao artesanato, decidi que tudo precisa estar atrelado a identidade do Brasil de alguma fora”, explica. A formação do Design de Produto pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em 2005, forjou uma afetividade imbricada com a terra do Nordeste. A cidade da Paraíba é o endereço residencial e profissional. E é de lá que vem muita inspiração, principalmente, pela trama têxtil que amarra tradições e hoje, amarra à suas criações registros do folclore, dos recortes extraídos do cotidiano e dos pedaços de paisagens que foram garimpados em suas viagens.
Para além dos prêmios nacionais e internacionais que coleciona e a colaboração para fortalecer a imagem do design brasileiro, o designer também usa seu conhecimento para fazer trabalhos de consultoria para comunidades indígenas em projeto encabeçado pelo Senai. Para ele, o trabalho, que desenvolve desde 2005, abre caminhos para a difusão do conhecimento “criar produtos mais comerciais, sem descaracterizar a cultura e a herança desses povos”. E, mesmo que cada experiência crie oportunidades empreendedoras e resgate sonhos individuais e coletivos para as comunidades onde trabalha, para Sérgio a troca é mútua. Enquanto oferece consultoria para povos e tribos que podem se manter do artesanato, recebe em retorno a rica inspiração, seja na herança da gente brasileira e suas tradições e histórias, ou na beleza e singularidade de cada lugar que visita. “Tenho aprendido demais com eles, mas umas das principais coisas que entendi é que cada pessoa tem seu tempo e sua forma de seguir. Isso me deixou muito mais consciente de tudo ao meu redor. Até a parte espiritual deles, que é muito grande, me enriquecei de alguma forma.”, conclui.
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