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Rodrigo Lombardi || Créditos: Divulgação

Arriscamos dizer que Rodrigo Lombardi no papel principal de “Carcereiros” foi uma das melhores escolhas feitas pela Rede Globo nos últimos tempos. Não a toa, a série, cuja segunda parte da primeira temporada vai ao ar ainda neste ano, ganha continuação em 2019. Paralelamente à TV, o ator entra em cartaz  nesta sexta-feira no Teatro Raul Cortez, Bela Vista, na peça “Um Panorama Visto da Ponte”, texto de Arthur Miller escrito na década de 1950 que ganha montagem sob direção de Zé Henrique de Paula.

De volta aos palcos de São Paulo, Lombardi interpreta, ao lado de Sérgio Mamberti, o italiano Eddie Carbone, que trabalha nas docas do Brooklyn, em Nova York, e se envolve em um conflito quando hospeda dois primos italianos de sua mulher, que estão imigrando ilegalmente para os Estados Unidos. A partir deste encontro o “sonho americano”  fica ameaçado, e Eddie então tomará uma atitude que marcará a sua vida e de todos que o rodeiam. Se ainda está em dúvida se quer assistir ou não o espetáculo, que fica em cartaz até o dia 25 de novembro, confira abaixo a entrevista que Glamurama fez com Lombardi entre uma exaustiva sequência de ensaios. Um bate papo que se estende ao fim dos longos contratos da Globo, à política, projetos futuros e sua última lição de vida.

Glamurama: A peça  “Um Panorama Visto da Ponte” propõe uma reflexão à sociedade moderna. Conte-nos um pouco sobre a forma como essa reflexão é trabalhada, e nos dê a sua opinião sobre ela. 
Rodrigo Lombardi: “A peça simplesmente expõe a vida, o cotidiano de uma família em situações que acontecem com todos, por isso a plateia começa a dialogar com questões pessoais, que nem estão na trama. Meu personagem,
Eddie Carbone, não tem entendimento sobre suas emoções porque ele não teve educação, e isso não é contado de forma declarada. Ele nasceu trabalhando, um estivador do porto do Brooklyn, onde a vida para ele é uma repetição: tomar café, trabalhar, voltar pra casa, jantar e dormir.E quando surge um fator que rompe com essa rotina e vai de encontro a valores que, com a sua sub intelectualidade não consegue lidar, ele vai procurar um advogado – quando deveria procurar um psicólogo – para entender. Para Eddie, qualquer pessoa que seja mais do que ele é alguém possível de ser consultado sobre qualquer coisa. A peça fala sobre essas pequenas faltas de entendimento. Quantas vezes a gente se pega sem saber como lidar com questões tão simples…”

Glamurama: A história será contada com toque de humor? 
Rodrigo Lombardi: “Sim, tem que ter. Não existe drama sem humor, tragédia sem humor, não existe nada sem humor. A peça tem um humor do patético, da incompetência de compreensão.”

Glamurama: Você parece muito imerso no preparo deste personagem. 
Rodrigo Lombardi: “O trabalho dessa peça é exaustivo. Até chegar em um lugar que se sinta confortável e dizer ‘ok, já da para contar essa história que fiz tantas vezes e está dentro de mim’, é um longo caminho. Quando você vê se passaram dois meses de oito horas diárias de trabalho, sem folga. Hoje, por exemplo, eu não dormi e não comi, mas não sindo necessidade de sono ou de comida. Sinto necessidade de ensaiar. Não é só decorar e falar, se fosse todo mundo fazia. É preciso dar razão ao personagem, inseri-lo na história. É um ciclo de testes e erros exaustivos, um processo terrível onde há muito desgaste.”

Rodrigo Lombardi e Sergio Mamberti entre o restante do elenco da peça “Um Panorama Visto de Ponte” || Créditos: Divulgação

Glamurama: Com uma imersão tão profunda na ficção, não é difícil voltar à vida real após concluir um papel?
Rodrigo Lombardi: “Venho emendando um trabalho atrás do outro e chega uma hora que é preciso não fazer nada, senão quando se dá conta está vendo tudo sob o olhar do personagem que acabou de interpretar. Meu trabalho lida muito com conexões, com chaves de emoções, então é preciso desintoxicar. Estou em São Paulo desde fevereiro, e neste tempo vi meu filho apenas quatro dias. Eu vou acompanhando tudo, a gente se fala por texto,  manda vídeos, mas chega uma hora que eu preciso do abraço dele mais do que ele precisa do meu, mas é o que a gente tem. Eu também tive essa fase na minha vida, de ter meu pai distante. Morava no sítio e ele trabalhava em São Paulo. E quando eu estou em casa quero ver um filme, ficar jogado no sofá, passear com o cachorro, não fazer nada.”

Glamurama: Entre os atores, qual é a característica que você mais nota na nova geração? Pode nos citar atores novos que você admira? 
Rodrigo Lombardi: “Uma característica que eu percebo em todas as gerações que estão surgindo é de renovação, de vontade, e até de um excesso de energia. São características dos jovens, dos iniciantes, de quem não tem toda a informação da vida e está buscando tudo isso, enquanto recebem um trabalho e precisa parecer que tem bagagem para ele sendo que não tem, e nem sabe de onde buscar. E aí gera essa histeria que é tão interessante e pulsante, e que a gente vai perdendo ao longo do tempo até que se dá conta de que precisa dela. É muito bonito ver um ator começar. Dessa nova geração eu destaco Gabriel Leone, só que ele é diferente e não faz parte desse meu discurso. Quando o conheci em um trabalho até falei: ‘você é mais velho que eu, como assim você já tem toda essa bagagem? Já veio no aplicativo?’ (Risos). Todo mundo é muito estudado e preparado hoje em dia, as novas gerações têm que se preparar para o mundo, e o mundo tem que se preparar para elas. É louco…”

Glamurama: Quais são seus projetos futuros?
Rodrigo Lombardi: “Entregamos a segunda temporada de ‘Carcereiros’, na Globo – o primeiro episódio é um longa -, e em outubro devemos começar a filmar entre São Paulo e Rio ‘O Caso Morel’, filme de Suzana Amaral baseado no livro de mesmo nome de Rubens da Fonseca. Interpreto um artista plástico que se envolve sem querer com uma mulher [Maria Casadevall]. O filme gira em torno de relatos sobre a investigação da morte dela que vão se juntando ao longo da história.”

Glamurama: Parece o roteiro de um filme policial argentino. 
Rodrigo Lombardi: “Isso, tem bem essa pegada da Argentina que é bem bacana, mas não recebi roteiro ainda porque a Suzana [Amaral] não gosta que ator receba roteiro. Só li o romance e vou saber tudo no set.”

Glamurama: Até quando vai seu contrato com a Globo?
Rodrigo Lombardi: “Não sei até quando vai mas está bem.”

Glamurama: Alguma previsão de vermos você de novo em alguma novela?
Rodrigo Lombardi: “Ainda não temos nada programado por conta de Carcereiros, que tem a metade da primeira temporada e a segunda inteira para ir ao ar, ainda tem muito tempo de programação comigo. Então não devo ter nada de novela até o começo do ano.”

Glamurama: Como está o clima na emissora, com tantos contratos não renovados?
Rodrigo Lombardi: “Acho que o mercado se encaminha para isso, para o fim dos grandes contratos. Isso é o resultado da diversidade e quantidade de produções que estão surgindo, a necessidade de elenco preparado por conta das produções, que de uma hora para hora deram um boom – tinham duas e de repente tem 100. E dessas 100, 98 não eram preparadas para o mercado. Hoje, você vê na TV a cabo séries brasileiras interessantes, com atores que são de teatro de São Paulo e até então não faziam TV, e que estão se tornando importantes. De repente uma grande emissora vê um talento ali e leva ele para a empresa, ou pode ser que o ator seja tão bom, que ele negue o contrato. Tudo é uma questão de oferta e procura. A Globo é uma empresa, pode me mandar embora amanhã.  Todas têm suas questões e a Globo não é diferente. Estamos lá para produzir, assim como tem muita gente que não trabalhava e foi mandada embora, assim como tem muita gente que eu achei que seria legal para a emissora manter, mas ela não entendeu assim e dispensou mesmo assim. E assim é a vida, dá para fazer uma peça sobre isso, faz parte do humano esse ir e vir. Vi atores que saíram de lá falando: ‘Me dei para a Globo tantos anos…’ tá, e daí? eu me pergunto. Meu primo Marivaldo também trabalhou na Caixa Econômica por 30 anos e foi mandado embora. E aí? A gente vale o agora.”

Glamurama: Qual tabu ainda falta ser quebrado na TV? 
Rodrigo Lombardi: “Acho uma bobagem tudo isso. Assim como preconceito, o tabu se elimina deixando de falar sobre ele. Quando fiz ‘Carcereiros’ ninguém veio com uma questão racial me perguntar algo sobre a minha esposa ser uma negra. Ela é uma mulher, e se fosse um homem, seria um homem, e se fosse um homem negro seria um homem negro. O que esse tipo de questionamento edifica? O que suspeitar que uma mulher gosta de outra mulher muda na minha vida ou impacta na criação do meu filho? Nada. É como quando vem um diretor no começo de uma novela e me fala que eu sou um galã da novela, e eu pergunto: ‘o que eu faço com essa informação?’ Isso não preenche em nada meu trabalho.”

Glamurama: As eleições estão logo aí. Você pretende se posicionar para seu público?
Rodrigo Lombardi: “A gente se posiciona quando tem certeza, eu ainda não sei nem quem são os candidatos. A única coisa que sempre me posicionei é sobre a consciência que as pessoas deveriam ter para votar, não só para presidente da república, mas também para senador, deputado estadual, deputado federal e vereador. A gente esquece dessas pessoas, e são elas que governam o nosso país. Se você tiver 100 amigos e perguntar para cada um deles para quem votaram para senador, por exemplo, nas últimas eleições, se dez souberem eu dou meu salário para você. E são eles que governam o pais, e não o presidente. É porque a gente só lê a manchete, não lê a notícia, a gente acha que o presidente tem que mudar o país, que é só pedir que tem que vir, e esquece das nossas obrigações. O mundo já evoluiu, temos que parar com aquelas máximas idiotas de dizer que todo político é corrupto, todo policial é ladrão, que a gente não tem educação e etc. Trabalhe, pague teu imposto, cobre, e saiba em quem você votou para todos estes postos. Comece e ler as notícias e se torne um cidadão. Aí sim vai ter questionamentos muito melhores do que esses.”

Glamurama: Qual foi a última lição de vida que você aprendeu?
Rodrigo Lomardi: “O que me vem à cabeça agora não é um aprendizado, mas uma certeza que se reforça cada vez mais, de que eu procuro ser o melhor possível, para que meu filho seja melhor que eu. Aprendi isso na peça também, porque meu personagem fala: ‘Eu me matei para pagar a escola dela, para que ela pudesse sair e conhecer gente melhor.’ Quer dizer, se você vai sair para o mundo, tem que ser pra valer, não mudar para o mesmo tipo de bairro, por exemplo. Tudo o que a gente faz na vida a gente não leva, fica como legado. Então, que seja um processo de evolução, e não o contrário.” (Por Julia Moura)

 

 

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