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por Pietro Marmonti

Há seis meses vivemos em um mundo diferente. Os valores, os hábitos e os comportamentos foram obrigados a se adaptar a um “novo normal”. As futilidades que antes eram vistas como indispensáveis parecem não ter o mesmo valor, e as pessoas começaram a dar mais relevância a autenticidade.

Sem poder sair de casa, os valores se alteram. Pessoalmente, essa quarentena me fez dar mais valor ao que está à minha volta. Comecei a apreciar mais minha família, meu lar e minhas coisas. Com a pandemia, nos encontramos em uma situação em que o glamour do momento são as simplicidades da vida, e assim, os pequenos prazeres viraram tendência. É claro que sinto saudades da minha vida pré-Covid, mas hoje não sei se trocaria um sábado de festa por uma tarde dando risada e bebendo cerveja com meu pai e meu irmão. Acredito que esse sentimento de autenticidade e simplicidade que a pandemia expôs, deu caminho a uma nova tendência de consumo, muito mais consciente e realista.

Ontem mesmo, no intervalo de um jogo de futebol, vi uma propaganda da cerveja Heineken que exemplifica perfeitamente essa transformação de tendências. Antes do coronavírus, as propagandas da cervejaria se baseavam em mostrar bares lotados, muita festa e animação, entretanto, a propaganda que vi era totalmente discrepante, mas me trouxe mais euforia que as anteriores. O anúncio começava com um aviso que os jogos da Champions League haviam sido cancelados por conta do Covid-19. No final, um homem aparece sozinho, sentado no sofá (provavelmente em sua casa), com uma cerveja em uma mão, pipoca na outra e seu cachorro ao seu lado. A televisão mostrava que os jogos haviam voltado e um close no rosto do homem revelou um sorriso sincero de quem estava esperando por esse momento a meses. O que mais me marcou foi a semelhança da situação descrita no anúncio com a minha no momento em que estava assistindo. A propaganda descreve de forma simples exatamente o que está ditando a nova tendência: o valor dos pequenos prazeres da vida.

Empresas que não adotarem ou demorarem para entender essa nova tendência de consumo sofrerão consequências, como foi o caso da revista Vogue Brasil, que realizou uma campanha infeliz no início da quarentena. A capa e o recheio mostravam a supermodel Gisele Bündchen em um ensaio fotográfico em sua casa. As fotos, retocadas, mostravam uma realidade totalmente divergente da maioria dos brasileiros, que estavam em casa sofrendo com o confinamento. A revista não teve sensibilidade de entender o contexto e o peso psicológico, se distanciando completamente os acontecimentos. Essa falta de bom senso fez com que a publicação fosse “cancelada” na internet na época.

Com isso, o mercado de influenciadores digitais também foi muito afetado. O coronavírus obrigou influencers a trocarem suas fotos ostentando o glamour sem propósito por imagens mais sinceras e acessíveis. Os elaborados cardápios de restaurantes de luxo deram lugar a cômicos desastres culinários e o lindo pôr-do-sol em Mykonos, a fotos tiradas na intimidade de suas casas. Murilo Bomfim, em artigo da revista Exame, citou que “esta noção de responsabilidade acelerou uma transformação que já estava em curso no mercado do marketing de influência, onde cada vez mais, empresas desejam associar suas imagens a influenciadores capazes de criar conteúdo relevante, ligados a uma causa, e não simplesmente vender produtos.”

Acredito que isso é exatamente o que a nova tendência trazida pela pandemia prega, propósito e consciência. Sem esses dois pilares, influencers serão ‘cancelados’ a cada dia. Mesmo se as compras voltarem ao números de antigamente, o consumo desenfreado não deve refletir no conteúdo dos criadores, por que isso já não é mais relevante nos dias de hoje. Não sabemos até quando essa nova tendência de consumo irá durar, não sabemos se quando o mundo voltar ao normal as pessoas vão esquecer dos aprendizados da quarentena e regredir na esfera da conscientização, porém, espero sinceramente que esse “novo normal” conserve a valorização da autenticidade e da simplicidade da vida, pois o consumo desenfreado é notadamente uma pratica passada. (Pietro Marmonti, colaborador do Glamurama e empresário da indústria criativa)

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