O sucesso da série “Onde Está Meu Coração”, que conta a história de uma jovem médica que enfrenta luta contra as drogas, tem um personagem importantíssimo, além do incrível elenco, composto por Letícia Colin, Daniel de Oliveira, Fábio Assunção e Mariana Lima. A trilha sonora da obra, elaborada por Dany Roland, que conta com Caetano Veloso, Depeche Mode, Tim Maia, Nação Zumbi, entre outras pérolas, chama a atenção e garante doses extras de emoção à história. Em conversa com o Glamurama, o DJ e produtor musical conta que não esperava tamanho reconhecimento e diz que não faltou empenho de toda equipe para esse sucesso.
Glamurama: Como foi o processo de criação da trilha sonora de ‘Onde Está Meu Coração?’
Dany Roland: Produzir a trilha de uma série de 10 episódios equivale a três longas-metragens! Então, foi um processo de 10 meses, trabalhoso, mas acima de tudo muito prazeroso. Tive alguns poucos encontros com Luisa Lima (diretora artística da série), em que trocamos ideias e músicas. Antes de mais nada, é preciso dizer que muitas das músicas comerciais que estão na série são desejos, alguns pessoais da Luisa. Ninguém faz nada sozinho. Comecei a gravar a música original exatamente no mesmo dia em que começaram as filmagens, em abril de 2019, a partir da leitura do roteiro. Portanto, sem ver nada, o que foi inédito para mim. Só tive acesso às imagens gravadas quando fui “colocar” as músicas, já em agosto, no Projac. Nesse momento, percebi que só poderia mixar a trilha na pós-produção, pois a edição mudava sempre e foi assim até o último minuto do último dia. Portanto, na mixagem (com Luis Rodrigues), eu tinha as músicas ainda “abertas”. Além disso, trabalhamos cada detalhe de cada ambiente, os sons da emergência, da casa, do porto, das ruas, os silêncios, as pausas, tudo é música. Como bem diz o falecido Paulo Mendes da Rocha, arquiteto que projetou o apartamento onde foram feitas as gravações de Amanda e Miguel: “O espaço é feito de som, do silêncio quebrado por um canto de pássaro, um ruído qualquer, o vento (…) a paisagem é um conjunto de fenômenos”.
G: Quais foram suas inspirações?
DR: Me inspirei no que estava escrito e narrado no roteiro, pois comecei a compor e gravar a partir da leitura do texto, que indicava muito a “ânsia de Amanda” (personagem de Letícia Colin), toda vez que ela estava “alterada”, ou em uma situação de perigo. Gravei em torno de 60 ou 70 “ânsias”, cada uma diferente da outra. Foram as primeiras músicas que gravei porque era importante para mim entrar de cabeça no universo dela. Só depois comecei a gravar as músicas com “melodia” e, pra fazer isso, era importante escolher uma “paleta de cores”, no caso “de sons”. Uma inspiração foi “Vanishing Act”, de Lou Reed, ou seja, piano, violinos, viola e violoncelo. Depois fui abrindo até chegar em sons mais eletrônicos. Passei também dois dias e uma noite inteira na emergência do Miguel Couto, aqui no Rio, foi punk.
G: Você foi ao set?
DR: Tive a sorte de ir ao set de filmagem em São Paulo algumas vezes acompanhar de perto as gravações. Toda vez que tinha música em cena eu ia e sempre foi muito inspirador. Raramente, ou melhor, nunca vi um set tão harmonioso e amoroso como esse. Para minha surpresa, havia sempre música tocando e pude experimentar/tocar algumas “coisas” durante a filmagem. Acompanhar de perto o afeto e minuciosidade da Luisa dirigindo, do Jorge Rezende gravando o som, a potência dramática da Letícia, a verdade do Fábio, de uma coragem impar encarar e enterrar esse personagem de uma vez por todas, o drama da Mariana… Todos os atores são protagonistas e emocionam. Fazer parte dessa equipe brilhante foi um privilégio. Um presente. Eu mesmo fui “addict” na década de 1980, vivi anos na pele o sofrimento da luta diária para largar o mundo da dependência química. Me identifiquei com vários dramas da Amanda. Te digo com toda a modéstia: convidaram a pessoa certa para criar a trilha sonora. Obrigado Zé! (José Luiz Villamarim). Eternamente grato.
G: Você acredita que esse é o segredo, fazer com que a música se torne mais um ator em cena?
DR: O segredo, se é que existe algum, é buscar a verdade, ser sincero! Aprendi uma coisa entre tantas outras com meu mestre Egberto Gismonti: “A gente não faz música, a gente conta uma história”. A música tem que contar uma história. Música é texto.
G: Como é ver seu trabalho sendo ouvido por tantas pessoas em plena pandemia, quando as pessoas estão afastadas de shows, bares e casas noturnas?
DR: É muito gratificante ver o imenso sucesso da série! Jamais, em tempo algum, imaginei tamanha repercussão da trilha sonora. Minha única pretensão foi fazer o melhor. É um sucesso surpreendente e estou muito feliz! Sobre as discotecagens estarem suspensas, sinto muito pelas casas e queridos colegas DJs, mas infelizmente não há outra saída. Sinto mais ainda pelas famílias que perderam seus entes queridos. Perdi grandes amigos… muitos. A situação do Brasil é catastrófica diante do negaciosismo e irresponsabilidade do governo federal. O vírus vai ficar circulando por muito tempo ainda e vem a terceira onda, portanto enquanto não houver vacina para todos, o básico é ficar em casa e sair somente de máscara, longe das aglomerações. (por Baárbara Martinez)
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Play para a trilha sonora de ‘Onde Está meu Coração’:
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