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(por Pietro Marmonti, colaborador do Glamurama e empresário da indústria criativa)

Após acabar o octogésimo sexto filme na quarentena e comer o terceiro chocolate do dia, não aguento mais ficar 30 minutos procurando um filme na Netflix para simplesmente desistir e assistir ‘Friends’ por duas horas. A ansiedade começa a bater e preciso fazer algo mais animado, preciso falar com meus amigos, ter contato com alguém que não seja da minha família por pelo menos uma hora do dia. Entro no Houseparty só para lembrar que ninguém mais usa esse aplicativo e pensar “como aquelas duas semanas de Houseparty foram gostosas, uma das melhores épocas na quarentena”. Fecho o aplicativo e reflito, “o que fazer agora?”

Aqui vou dividir com vocês como a geração “que não consegue ficar parada”, está socializando e se mantendo sã sem sair de casa, além de discutir os possíveis riscos do uso de mídias sociais nessa época.

Não é segredo que a Geração Z tem vários problemas de saúde mental, como a própria ansiedade. Um jeito efetivo de combater isso é mantendo-se sempre ocupado e socializando com amigos, algo que percebi ser bem difícil quando não se pode sair de casa. Pessoalmente, para me manter ativo, comecei a correr, mas muitos amigos começaram a praticar yoga ou até a fazer a nova moda do momento, tie dye. Acredito que a parte mais difícil dessa quarentena não é se manter ocupado, pois nós jovens somos muito criativos e sempre arranjamos algo para fazer. Difícil mesmo é socializar com a mesma intensidade e autenticidade do mundo pré-Covid.

Minha geração tem o luxo da tecnologia. Nunca foi tão fácil se manter conectado com os amigos e trazer para perto quem está longe. Impressiona o número aplicativos criados para conectar pessoas e, com os diversos benefícios que eles trazem, é fácil esquecer das desvantagens que eles apresentam.

O site de video sharing Youtube é de longe o maior responsável pela minha insônia diária. Quem nunca se pegou assistindo “How To Build A Modern Underground Mud House” às 4 da manhã. Entretanto, acho incrível como os criadores de conteúdo têm uma ligação com seu público e fazem você se sentir íntimo deles, mesmo sem os conhecer pessoalmente. Posso dizer que passo facilmente 6 horas por dia nessa plataforma e cada dia me admiro mais com o poder que esses creators exercem sobre a minha geração, como influenciam tendências e conseguem vender produtos facilmente para o seu publico.

Já o Instagram é um perigo. Acordo todo dia e a primeira coisa que faço, ainda deitado, é checar meu feed. O que me assusta é que todo mundo posta os 15 segundos mais top do seu dia e dá a impressão que todos estão tendo uma quarentena muito mais legal que a sua. Não vou mentir, faço a mesma coisa, todos nós fazemos, mas é importante percebermos que as pessoas sempre irão postar o que elas querem que as outras pessoas vejam, e quase sempre, não representam a realidade.

Porém, o maior gatilho é quando você entra nas memórias do insta para ver onde estava um ano atrás, e você estava em uma festa com seus melhores amigos se divertindo… e agora está sentado no sofá, sem poder sair de casa. Tenho vários amigos que deletaram o aplicativo de seus celulares e estão bem menos ansiosos. Eu ainda não fiz isso, mas a cada dia, passo menos tempo na plataforma.

Aí tem os tiktokers, que passam o dia inteiro aprendendo danças para postar e mostrar para seus amigos como eles não tem nenhum senso de coordenação motora. Ainda não aderi a essa moda, mas quase todos meus amigos já baixaram e amam o aplicativo. A sensação de ter 10 mil visualizações e 350 likes em um vídeo seu com sua amiga dançando “Sobe, desce, para, depois joga na minha cara e faz pa pa pa” dá a oportunidade de se sentir ‘famoso’, o que é muito prazeroso e viciante. Contudo, sua origem misteriosa, a conexão com o governo chinês e o vazamento de dados pessoais de seus usuários fizeram com que o aplicativo fosse bloqueado em alguns países, inclusive nos Estados Unidos, que estuda o possível cancelamento do aplicativo em solo americano. Mesmo muito divertido, o TikTok coloca em risco a privacidade de seus usuários e, por isso, temos que tomar cuidado com apps como esse, que usa o entretenimento para disfarçar sua real finalidade.

A triste realidade é que quando saímos do quarto para socializar com nossa família, tête-à-tête, damos risadas e nos divertimos, só para voltar para o quarto e mergulhar no buraco negro das mídias digitais. A quarentena é uma ótima oportunidade para entendermos os benefícios e os riscos desse novo mundo digital. Nem sempre estar conectado faz bem… e pode trazer sérias consequências para a saúde mental. Ficar checando seu celular a cada 2 segundos para ver se alguém te mandou mensagem, ou conferir quantas pessoas curtiram sua foto, não faz bem, e muitas pessoas somente perceberam isso quando foram obrigadas a ficarem confinadas em suas casas. Do mesmo jeito que a internet nos aproxima de quem está longe, pode nos afastar de quem está perto. Por isso, precisa ser usada conscientemente, mesmo em tempos de isolamento como foi o caso da pandemia do coronavírus.

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