Armando Babaioff, o policial boa praça de “Segundo Sol” que circula por vários núcleos da trama, o que faz do personagem o maior desafio de sua carreira, encontrou uma pausa nas gravações para falar com o Glamurama. A honra de atuar ao lado de Arlete Salles, José de Abreu e Francisco Cuoco, o relacionamento abusivo com Doralice (Roberta Rodrigues) e a doação de sêmen para Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu) são alguns dos assuntos em pauta. Mas a gente também quis saber sobre a vida fora da ficção, claro! No papo, o ator reflete sobre a importância de teatro em sua vida, comemora o sucesso de “Tom na Fazenda”, espetáculo que fala sobre homossexualidade, assumindo seu desejo em abrir a cabeça das pessoas usando a arte, e diz: “Minha participação em televisão sempre foi bissexta”, por conta dos espaçamentos entre uma produção e outra.
Abaixo, ele responde sobre tudo um pouco, afirma estar solteiro e que aos 37 anos está mais do que pronto para os personagens na fase dos 40. Ao papo!
Glamurama: Em “Segundo Sol”, seu personagem, Ionan, circula por diversos núcleos. Isso tem sido um desafio?
Armando Babaioff: “Talvez o maior. O fato dele circular em diversos núcleos o transforma em um personagem multifacetado, já que nos apresentamos de forma distinta para cada pessoa que nos relacionamos. Não somos os mesmos em casa, no trabalho, com estranhos, com a mãe, com um irmão, amigo ou amiga. Cada um nos mobiliza de uma forma, e é assim em ‘Segundo Sol’. Entender de que forma o Ionan se conecta com cada personagem tem sido um desafio e uma das partes mais divertidas, que é justamente onde o ator se diverte, em que acontece também parte do ‘jogo’. O Ionan policial é diferente do que aconselha Beto, que ouve o pai, que tenta entender Remy, que apanha da mulher. São esses conjuntos de fatores e encontros que vão criando as características, as camadas e o comportamento dele. Estar atento a todas as possibilidades e dar vazão a isso é o que torna ele cada vez mais rico e complexo.”
Glamurama: Como tem sido a repercussão do personagem com o telespectador?
Armando Babaioff: “Por conta da personalidade, a forma como ele enxerga os outros e a característica de alguém que busca um senso de justiça faz com que o Ionan seja um pouco os olhos do público e isso causa empatia. O que mais escuto é que o Ionan é o amigo boa praça que a gente tem, que está pronto para tudo, sempre disponível. E é justamente o que eu buscava com ele. O personagem caiu nas graças do público e algumas pessoas vêm me cumprimentar ou pedir para tirar foto como se realmente me conhecessem e eu, que sou uma péssima pessoa para guardar nomes e rostos, acabo cumprimentando como se conhecesse também (risos).”
Glamurama: Atuar com grandes atores como Arlete Salles e José de Abreu muda alguma coisa?
Armando Babaioff: “Não é todo dia que temos o privilégio de contracenar ao lado de Arlete e o Zé e, por favor, inclua nessa lista Francisco Cuoco. Lógico que muda. Eu chego todo dia no set desejando encontrá-los. Leio o capítulo imaginando como vão fazer as cenas. É muito respeito e admiração e tento aproveitar cada segundo de convívio. O mais lindo que existe entre atores que se admiram e tem prazer em trabalhar juntos é justamente colidir as escolas e as gerações. Só fazemos o que fazemos porque temos história e crescemos vendo vários atores que moldaram outras gerações.”
Glamurama: Na sinopse da novela, Ionan e Maura terão um caso. Isso vai mesmo acontecer? Como acha que será a repercussão, já que ele vive um casamento conturbado e ela é lésbica?
Armando Babaioff: “Ainda não sei se vai acontecer e nem imagino como seria. A amizade entre os dois é o que me interessa explorar nesse momento. Se forem chegar nesse lugar, a certeza é de que o João Emanuel vai saber encaminhar da forma mais delicada.”
Glamurama: O casamento com Doralice é um tanto conturbado… O que esperar desta relação ao longo da novela? Você aceitaria viver dessa maneira na vida real?
Armando Babaioff: “Ionan realmente ama Doralice. Consigo inclusive imaginar esses dois jovens se conhecendo num evento em homenagem a Beto Falcão em que ela é a presidente do fã-clube. Mas vendo a relação no presente digo com todas as letras: jamais aceitaria viver nessa situação. De todo jeito, acho interessante a pergunta porque precisamos falar sobre isso, já que o Ionan topa viver assim. É um relacionamento abusivo. Um código pré-estabelecido de que o casamento dos dois existe nesse suporte e que ambos aceitam. Faz parte da vida do casal. Resta entender até quando isso vai mantê-los unidos. Não podemos culpar apenas a Doralice e dizer que ela é ciumenta demais, brava demais, desconfiada demais. Isso é desculpa para não se falar dos inúmeros relacionamentos abusivos que existem entre casais.”
Glamurama: O fato de ter nascido em Recife facilitou em sua preparação para o personagem? (Sotaque, hábitos e etc)
Armando Babaioff: “Sim e não (risos). O fato de ser nordestino (apesar de existir vários ‘Nordestes’ em uma mesma região), me coloca de cara em outro lugar. Ter morado em Recife, conviver com pernambucanos, viajar sempre para lá, ter como referência cultural, musical, artística, me faz entender o ‘ser nordestino’. Até a lógica é diferente, a forma como se constrói um pensamento e até mesmo uma frase são distintas do que estamos acostumados no Sudeste. Com relação ao sotaque, eles não se parecem, o de Pernambuco nada tem a ver com o da Bahia e, olha, é possível encontrar várias maneiras de se falar dentro dessas cidades. Eu tive um trabalho muito grande logo de início, mas tenho um bom ouvido e precisei criar um vocabulário para Ionan. Um policial, correto, mas que trabalha por toda a cidade, com todo tipo de gente, ou seja, existe influência de vários tipos, e eu deixei me levar por isso. Ele tem uma maneira própria de se apropriar do sotaque. É um personagem que exige muita atenção, pois é quase uma composição.”
Glamurama: Como é estar na pele de um policial? O que tem a dizer aos que exercem a profissão na vida real? Encararia a bronca?
Armando Babaioff: “É uma profissão linda. A Polícia Civil é o órgão responsável pela segurança pública: prevenir, repreender e investigar crimes. Aprendi muita coisa com o Ionan policial civil. Consigo fazer um paralelo dele, da sua correção, de sua índole e os desejos que o levaram a ser policial e a forma como ele tenta levar a profissão, da maneira mais correta possível. Mesmo vivendo sob uma grande mentira da própria família, a começar por esconder que Beto Falcão está vivo. E aí é que vive os conflitos de um personagem e é isso que me deixa com mais vontade de vivê-lo. Mas falando de ser policial civil e a realidade brasileira, realmente é necessário que haja uma maior valorização do profissional.”
Glamurama: Foi o teatro que te fez ator. Hoje, ele tem o mesmo peso que a TV em sua carreira?
Armando Babaioff: “O ‘ser ator’ é algo que se forma ao longo da vida. O teatro desde cedo foi o suporte que encontrei para me manifestar artisticamente. Amo fazer cinema e televisão. Mas a certeza que tenho é que a experimentação que fiz ao longo da vida nos palco é o que tem me formado, sim, como ator. É no palco que vivencio, é onde me sinto a vontade para criar. Na vida, fiz mais peças do que televisão e cinema. Por isso, posso dizer que sou cria do teatro e que empresto a experiência que tive nos tablados para o meu processo criativo em outros veículos. Teatro tem um peso muito grande na minha vida, pois eu vivo dele profissionalmente. Minha participação em televisão sempre foi bissexta. Além de atuar, eu também sou produtor e agora tenho um projeto nas mãos de muito sucesso que é o espetáculo ‘Tom na Fazenda’, que tem me permitido realizar várias temporadas e viajar para vários lugares. Assim que a novela terminar, vamos retomar a trajetória da peça.”
Glamurama: Que conselho você dá a jovens atores que só miram em TV e não pensam em teatro?
Armando Babaioff: “Tudo vem do teatro. As tragédias da humanidade foram escritas desde antes de Cristo e se repetem ao longo dos anos até hoje nas novelas brasileiras. Sempre achei que estudar teatro, os textos clássicos, é entender a história da humanidade. Estudar é ganhar universo, expandir o pensamento, as possibilidades. Meu conselho é: estudem. Se quiserem entender o presente é necessário olhar para o passado.”
Glamurama: Você chegou a dizer que novela em sua vida era o plano B, e que sua ideia era fazer faculdade e dar aula. Pensa assim até hoje?
Armando Babaioff: “Sempre foi um plano B e talvez sempre será, pois não tenho como basear a minha carreira em um meio em que não defino se vou estar lá ou não. Sendo eu dono do meu nariz, posso decidir se quero ou não fazer determinado trabalho levando em consideração vários fatores. Entrei na faculdade pensando em dar aula de teatro, mas sempre fui ator e estive nos palcos. Tranquei a matrícula inúmeras vezes para viajar em turnê. Acho que em algum momento talvez até volte a ser aluno, tenho desejo de fazer mestrado e, quem sabe, talvez, um dia dar aulas de teatro, mas não com intuito de transformar ninguém em ator não, mas usar o teatro como ferramenta de educação. Nessa profissão, assim como tantas outras, não podemos nos fechar a um só plano. Nunca me imaginei tradutor de uma peça, e com “Tom na Fazenda” me vi assinando a tradução. Hoje, como produtor, tenho o privilégio de escolher o que fazer. E esse é o plano que estou vivendo no momento.”
Glamurama: Algum outro projeto à vista?
Armando Babaioff: “Sim. Estamos com algumas temporadas e viagens para o ‘Tom na fazenda’ a partir de novembro. Mas já estou traduzindo um outro texto do Michel Marc Bouchard (autor do texto original de ‘Tom na Fazenda’), ainda sem título para o português, chamado ‘Le chemin des Passes Dangereuses’.”
Glamurama: “Tom na Fazenda” é um supersucesso como peça. Algum projeto em adaptá-lo para o cinema ou TV? Qual a relevância do espetáculo para os dias de hoje, já que trata de homossexualidade, um tema muito pertinente.
Armando Babaioff: “Não tenho esses planos, não por agora, mas acho sedutor. ‘Tom na Fazenda’ estreou no Brasil em um momento muito delicado, em que as minorias se veem cada vez mais atacadas. Pessoas morrem por simplesmente serem quem são. Espetáculos de teatro e performances estão sendo covardemente atacadas e sofrendo censura. Não é só a sexualidade que é um tema pertinente. Acho que precisamos levar adiante e levantar a bandeira da liberdade artística e dizer que, sim, é possível abrir a cabeça das pessoas com arte.”
Glamurama: Os 40 anos estão se aproximando… Algum receio da idade chegar?
Armando Babaioff: “Não. Nenhum. Que venham os personagens de 40 anos!”
Glamurama: Você recebe muitas cantadas? Como lida?
Armando Babaioff: “Eu não presto muito atenção nisso (risos). As pessoas chegam mais em mim para falar do trabalho, que estão gostando do Ionan, para dar conselho sobre a Doralice. Gosto de ter esse retorno do público. É um contato bem carinhoso e respeitoso.”
Glamurama: Solteiro convicto ou solteiro sim, sozinho nunca?
Armando Babaioff: “Nenhum dos dois. Eu estou solteiro. Acredito que tudo acontece naturalmente. No momento estou totalmente dedicado ao meu trabalho na novela e no teatro com ‘Tom na Fazenda’.”
Glamurama: Já usou app de paquera? Se sim, como foi sua experiência?
Armando Babaioff: “Não sou fã de aplicativo não. Sou um cara que valoriza as relações humanas, gosto de olho no olho. Acredito que esse meio virtual deixa as relações mais superficiais. Aliás nunca baixei, mas não recrimino quem o faça.” (Por Julia Moura)
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