Em 19 de agosto é celebrado o Dia do Orgulho Lésbico, uma lembrança de que a letra ‘L’ da sigla LGBTQ+ ainda é muitas vezes negligenciada. A data foi escolhida em memória à primeira grande manifestação de mulheres lésbicas no Brasil, que aconteceu em 1983, em São Paulo, e que ficou conhecido como o “Stonewall brasileiro”. Naquela noite, ativistas do Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf) ocuparam o Ferro’s Bar, no centro de São Paulo, para protestar contra os abusos e preconceitos que vivenciavam no local. Para celebrar a data histórica com muito orgulho, reunimos 17 casais de lésbicas que deixaram sua marca ao longo da história. Segue a trilha!
*Em tempo: O ‘Levante de Stonewall’ original foi um marco na afirmação de direitos pela comunidade LGBT norte-americana. No dia 29 de junho de 1969, o bar gay em Nova York foi palco para um grande levante contra as batidas policiais e prisões que restringiam a pouca liberdade que os grupos tinham na cidade.
1 – Rebecca Perot e Pastora Rebecca Cox Jackson
Rebecca Cox Jackson foi criada em uma família Episcopal Metodista Africana, mas se separou da igreja patriarcal para iniciar sua própria pregação religiosa. O sucesso a levou até a Pensilvânia e Nova Inglaterra, indo parar em uma comunidade dentro de um grupo liderado por mulheres Shakers (seita religiosa Sociedade Unida dos Crentes na Segunda Aparição de Cristo). Lá, conheceu Rebecca Perot, e juntas elas se juntaram à seita Watervliet Shakers. Como as duas mulheres tinham “visões místicas” homoeróticas e muitas vezes apresentavam o outro em contextos divinos, começaram sua própria família de Shakers na Filadélfia, combinando tradições de orações negra femininas com a teologia de Shaker, baseado na ideia do dualismo de Deus como homem e mulher.
2 – Sallie Holley e Caroline Putnam
Sallie e Caroline se encontraram na Faculdade de Oberlin e tornaram-se agentes da Sociedade Americana Anti-Escravidão logo após a formatura. Elas viajaram pelo circuito de conferências abolicionistas, muitas vezes junto com a lendária abolicionista e ativista pelos direitos das mulheres Sojourner Truth (1797-1833). Elas dedicaram-se à luta do direito dos negros ao voto mesmo quando as mulheres brancas ainda não podiam.
3 – Harriet E. Giles e Sophia B. Packard
Harriet conheceu Shopia por volta de 1850, quando Harriet estudava na Academia Nova Salem em Nova Salem, em Massachusetts e Sophia era a sua orientadora. Juntas, seguiram para Atlanta para iniciar uma escola para mulheres negras recentemente libertadas da escravidão. Sophia foi a primeira presidente da escola, conhecida então como Seminário Batista Feminino de Atlanta e agora como a Faculdade de Spelman, quando abriu suas portas em 1888. Harriet assumiu a escola após a morte de Sophia em 1891.
4 – Ellen Gates Starr e Jane Addams
Ellen Gates Starr conheceu Jane Addams no Seminário Feminino Rockford em 1877 e foi através de seu relacionamento que Jane teve a confiança necessária para embarcar no projeto Hull House em Chicago. A Hull House foi parte de um movimento para proporcionar oportunidades sociais e educacionais para as mulheres da classe trabalhadora, a maioria imigrantes recentes, oferecendo aulas de literatura e história, hospedando concertos públicos, fornecendo a assistência à infância e dando palestras livres. As duas mulheres deram aulas, serviram como parteiras de plantão, resgataram vítimas de violência doméstica e defenderam reformas legislativas que agora são vistas como os primeiros modelos de “bem-estar social”.
5 – Edith Anna Somerville e Violet Florence Martin
A romancista irlandesa Edith co-escreveu quatorze histórias e romances com sua prima e namorada Violet, que usava o pseudônimo de “Martin Ross”. Os títulos mais populares foram “The Real Charlotte” e “The Experiences of Irish R.M.”. Depois da morte de Violet, Edith estava inconsolável e decidiu continuar escrevendo livros com o nome das duas, convencida de que elas estavam se comunicando através de sessões espiritistas.
As fotógrafas Fannie e Mattie se conheceram na Exposição Pan-Americana de 1901 na cidade de Buffalo, em Nova York. Fannie foi pioneira em seu campo como uma das fotógrafas mais bem-sucedidas da América. Mattie trabalhava como assistente de seu marido, também fotógrafo, de quem se divorciou oficialmente em 1909. Assim, após oito anos de um caso de amor intenso com Fannie, Mattie partiu com sua amada, onde abriram um estúdio de fotografia arquitetônica. Elas foram encarregadas de fotografar edifícios como a Catedral de São João – O Divino e o Hotel Manhattan.
7 – Gertrude Stein e Alice B. Toklas
Um dos mais respeitados casais lésbicos de todos os tempos, Gertrude Stein foi uma romancista, dramaturga e poeta americana com um estilo não convencional e uma colecionadora de arte modernista. Ela conheceu Alice, que se tornaria sua “confidente, amante, cozinheira, secretária, musa, editora, crítica e organizadora geral”, no dia em que Alice chegou a Paris. Gertrude se apaixonou de imediato por Alice. Em 1910, elas abriram um salão em sua casa na 27 rue de Fleurus que hoje é conhecido como um dos pontos de encontro mais influentes na história das artes e literatura, recebendo convidados, como Pablo Picasso, Ernest Hemmingway, James Joyce e as artistas Ethel Marte e Maud Hunt-Squire.
8 – Frances Witherspoon e Tracy D. Mygatt
Frances e Tracy se formaram em 1908 e se comprometeram inteiramente com a paz mundial, o pacifismo, os direitos das mulheres e os direitos civis. Mas o pacifismo sempre foi a paixão número um. Durante a Primeira Guerra Mundial, elas defenderam as objeções de consciência: Tracy ajudou a organizar a Liga Anti-Alistamento e Frances fundou a primeira organização dos Estados Unidos a apoiar os direitos dos objetores, bem como aqueles perseguidos pela liberdade de expressão, o Bureau of Legal Advice. Elas se juntaram ao Partido Socialista em Nova York quando se mudaram para lá em 1913. Inseparáveis por 65 anos, morreram poucas semanas uma da outra.
9 – Ethel Collins Dunham e Martha May Eliot
Martha foi uma jovem obstinada que recusou a se casar, conheceu Ethel, que se sentia sem inspiração pelo estilo de vida de socialite e as duas decidiram estudar medicina juntas. Elas se formaram médicas na Universidade Johns Hopkins e foram ativas no movimento sufragista local. Martha assumiu um estudo de raquitismo entre as crianças de baixa renda, o que lançou sua carreira em pediatria comunitária e, em seguida, se tornou diretora do Departamento de Higiene Infantil do Children’s Bureau. Ethel se tornou uma das primeiras professoras na Faculdade de Medicina de Yale. O presidente Truman nomeou Martha como chefe do Children’s Bureau e Ethel tornou-se o primeiro membro feminino da Sociedade Americana de Pediatria.
10 – Florence Yoch and Lucile Council
Florence e Lucile foram consideradas “duas das melhores designers de jardins e arquitetas paisagísticas da Califórnia”. Lucile começou como aprendiz de Florence em sua empresa e, em logo tornou-se sua parceira. Elas projetaram propriedades, parques, cenários de filmes e jardins botânicos. O livro Landscaping the American dream: the gardens and film sets of Florence Yoch, 1890-1972, documenta os trabalhos das duas paisagistas.
11 – Dorothy Arzner e Marion Morgan
Dorothy Arzner foi a única diretora de cinema bem-sucedida da época de ouro de Hollywood. Ela conheceu sua amada Marion no set do filme Fashions for Women (1927). Marion Morgan era uma dançarina e coreógrafa que conduzia sua própria trupe. Elas trabalharam juntas em vários filmes e em 1930, contrataram o arquiteto W.C. Tanner para construir seu lar, casa que teve os jardins projetados por Florence Yoch.
12 – Mabel Hampton e Lilian Foster
Mabel Hampton foi dançarina de estrelas como Moms Mabley e Gladys Bently e viveu abertamente como lésbica. Mabel conheceu Lillian Foster em 1932, e se tornaram inseparáveis até a morte de Lilian, vivendo juntos na rua 169 no Bronx e chamando uma a outra de marido e mulher. Ativas no movimento dos direitos dos homossexuais, dirigiram seu próprio negócio de lavanderia e trabalharam juntas para coletar e organizar uma grande quantidade de documentos, recortes de jornais, fotografias e livros com temática lésbica. Em 1974, Mabel se tornou membro fundador do Lesbian Herstory Archives e doando toda a sua coleção de material para a instituição como recurso para a comunidade gay e lésbica.
13 – Ruth Ellis e Ceceline “Babe” Franklin
Ruth conheceu Ceciline em 1936, e juntas se mudaram para Detroit e lançaram Ellis e Franklin Printing, o que fez Ellis a primeira mulher na cidade a possuir seu próprio negócio de impressão. Elas compraram uma casa em 1946, que ficou conhecida como o “Gay Spot” (algo como “Ponto Gay”), um local de encontro para a comunidade negra gay e lésbica local. Elas também hospedaram moradores gays recém-chegados do sul e ajudaram jovens em fase de faculdade. Desde 1999, o centro de Ruth Ellis em Detroit foi um lugar de refúgio para a juventude LGBT desabrigada.
14 – Del Martin & Phyllis Lyon
Um dos casais de lésbicas mais conhecido nos Estados Unidos, Martin e Lyon, estavam juntas desde o início dos anos 1950 até a morte de Martin, em 2008. Em 1955, elas fundaram o Daughters of Bilitis – a primeira organização social e política para as lésbicas nos Estados Unidos.
15 – Ellen Degeneres e Portia de Rossi
Ellen é uma das figuras mais importantes da comunidade LGBTQ da atualidade e seu relacionamento com Portia começou em 2000. Em 2008, elas se casaram e continuam como um dos casais mais poderosos do showbiz. Seu casamento foi de extrema importância para visibilidade lésbica nos Estados Unidos.
16 – Daniela Mercury e Malu Verçosa
Casada com a jornalista Malu Verçosa, Daniela Mercury se assumiu lésbica em 2013, e hoje, é uma das principais militante da causa e luta contra o preconceito e a violência contra a comunidade gay e trans no Brasil, usando sua visibilidade e, inclusive sua música, para dar voz ao movimento. O casal esteve até no Congresso Nacional, por conta da sua luta em prol da comunidade LGBTQ+, durante uma sessão em comemoração aos 50 anos da Revolta de Stonewall.
17 – Fernanda Gentil e Priscila Montandon
Um dos casais femininos mais famosos do país, Fernanda começou seu relacionamento com Priscila no fim de 2016, cinco meses após terminar seu casamento com Matheus Braga. Apesar de muito reservado, o casal teve grande importância e visibilidade na comunidade LGBTQ+ do Brasil, já que diferente de músicos e artistas, foi a primeira vez que uma jornalista de rede nacional se assumia lésbica abertamente.
- Neste artigo:
- casais lésbicos,
- famosas lésbicas,
- orgulho lésbico,
- visibilidade lésbica,