Silvia Machete lançou um disco durante a pandemia. Nomeado como “Rhonda”, o trabalho tirou a artista de sua zona de conforto. Cantado em inglês, o álbum, mais introspectivo, calhou perfeitamente com o isolamento social, como ressaltou a própria. Em conversa com o GLMRM, a artista de 45 anos comentou sobre o remix de uma das faixas (que acaba de ser lançado), nova versão mais dançante do disco, suas influências, trabalho em série e o papel da arte em sua vida.
Play para conferir a playlist que a cantora fez para o GLMRM:
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Você acaba de lançar o remix da música “Cactus”. Como foi elaborar essa canção?
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“Cactus” foi a primeira do disco a ser composta. Tinha acabado de mudar para São Paulo e estava completamente apaixonada, em um clima muito novo para mim. Esse clima realmente me inspirou para fazer o disco. Essa canção foi a primeira porta da inspiração a ser aberta.
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Como foi produzir um álbum durante a pandemia?
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Foi um desafio para qualquer pessoa que decidiu lançar algo. Como a gente não sabia quanto tempo tudo isso ia durar, não tive condição de segurar esse trabalho, feito justamente durante os anos de 2019 e 2020. O disco tem toda uma história, mas é bem simples, é baixo, bateria, piano, guitarra e alguns instrumentos, não tem cordas e sopros. Foi bem curioso, mas coincidentemente esse disco é algo completamente diferente dos anteriores. Ele é super introspectivo, então calhou de ser o momento ideal. Foi uma música muito ouvida, senti que foi um sucesso mesmo sem poder fazer show, que é o meu veículo de maior prazer. Durante a pandemia fiz meu primeiro vinil, venderam todos. Não foi nada fácil, foi difícil manter a cabeça (no lugar), assim como todo mundo.
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Para você, tem diferença entre cantar em português e inglês?
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Pelo inglês não ser minha primeira língua, não ser a nativa, rola uma liberdade maior. Fico bem menos crítica em termos poéticos, fico bem mais à vontade. Me julgo menos, fico menos preocupada em termos da poesia. Quando você canta em inglês, a voz é diferente. Esse personagem é completamente diferente dos meus olhos trabalhos, a “Rhonda” é chique, foi super pensado na atmosfera. É bem diferente dos trabalhos anteriores mais tropicais, coloridos. Esse é bem mais sóbrio.
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Vimos que a Liniker ouviu o disco e te mandou uma mensagem…
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Trocamos várias ideias. Não nos conhecemos pessoalmente, ela só é minha colega, mas com certeza acho que no mínimo vamos tomar um vinho juntas. Ela tem um trabalho muito importante, fiquei feliz da minha música ter chegado até ela. Achei foda. Ela me mandou um vídeo dela cantando uma música minha.
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Como será o disco remix de “Rhonda”, que será lançado em dezembro?
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O trabalho original foi um disco introspectivo e, agora, essa versão remix, está indo para as pistas, acompanhando a gente após a vacinação. Estamos começando a voltar, os shows estão voltando, já tenho show marcado na Casa de Francisca, no começo do ano que vem. Agora temos um ponto de referência, de tempo, estamos podendo planejar as coisas. Uma loucura! O pior sentimento do mundo. Tem um ar de esperança voltando.
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Vimos que você participou da série “Desajuntados”, da Amazon Prime. Como foi essa experiência?
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Fiz as músicas dessa produção. Li o roteiro todo, é uma comédia romântica, é bem a minha praia. Amei esse processo de escrever dentro do tema desses personagens, da trama. Foi muito divertido.
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O que você fez durante a pandemia para se manter criativa e conseguir trabalhar?
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Não tenho nenhuma técnica, passei por momentos difíceis, de procurar ajuda mesmo. Foram altos e baixos. Até que uma hora eu peguei meu passaporte e fui ver minha irmã nos Estados Unidos para me vacinar. Fiquei com medo. Passei por tudo, desde aquela fase de malhar, compor, até momentos de profunda solidão. A gente não nasceu para ser assim, e sim para estar junto, para fazer parte de uma sociedade. A gente não é o que foi nos dois últimos anos. Ainda vivemos essa crise absurda. O ser humano é muito louco, não está nem ai para o futuro, só quer viver o presente. Você fala que vai acabar a água, que está acabando a natureza. Tudo cagado.
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O que você ouviu e assistiu durante esse isolamento?
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Ouvi desde Bill Withers, Arthur Verocai, fiz uma viagem musical muito louca. Ouvi muita música, a maioria dos anos 1960. Tenho essa queda por essa década. Assisti “Normal People”, que é uma história de amor, assisti “Years and Years”, assustador, “Sex Education”, que achei genial, e essa última que está todo mundo comentando muito, “The White Lotus”, que são, tipo, as piores pessoas do mundo.
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Essas obras influenciaram você?
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Vivi através desses personagens, loucura. Eu queria que as pessoas soubessem como a gente precisa ter um governo que investe na arte, na ciência e educação, é o mais importante. Esses três quesitos estão no topo da lista.
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