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José Vicente
Fotos: Roberto Setton

Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente é um acadêmico. Fez dos livros seus aliados para deixar a infância pobre em Marília, no interior de São Paulo, onde, junto aos pais boias-frias, trabalhou nas plantações de café, algodão e cana. Não querendo que os filhos tivessem a mesma sorte, estudou até se formar em Direito. Advogou por um período e foi aprovado em concurso público para delegado. De volta às salas de aula, na tradicional Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entrou em contato com militantes negros e, juntos, desenvolveram projetos de inclusão no espaço educacional.  “Naquela época, entre 1996 e 1998, acompanhando o fim do apartheid e a situação dos negros americanos, em comparação com nossa democracia racial, que nos levou a ter apenas 2% de jovens negros nas universidades de São Paulo, percebemos que tinha algo muito errado. O que fazer? Os americanos resolveram esse problema com educação e conhecimento. Seguimos na mesma linha”, relembra.

O sonho se tornou realidade em 2004, com a fundação da Unipalmares. A faculdade oferece acesso a todos, mas 50% das vagas são destinadas a afrodescendentes. “Foi o resultado de uma conscientização e do comprometimento de um grupo de jovens com um sonho na cabeça. Agora estamos ocupando espaço nos ambientes corporativos e até na política. Uma grande evolução.” Para estar afinado com o atual momento da discussão em torno de questões raciais, José Vicente indica livros que considera necessários para o melhor entendimento da história negra no Brasil.

BARRAS, VILAS & AMORES (Martinho da Vila):

“Conta a infância do sambista em Barra Mansa, em uma fazenda na qual sua mãe era empregada. Depois, quando fica famoso, compra a tal fazenda. Também fala da Vila Isabel e de seus amores. Faz um relato tocante de passagens e mostra uma característica que nem todos conhecem: Martinho é um hábil escritor, com 13 obras publicadas e membro da Academia Carioca de Letras.”

CARTAS DA PRISÃO (Nelson Mandela):

“Um livro fabuloso que reúne as correspondências que Mandela trocou durante os 27 anos em que esteve preso na África do Sul. Em cada uma delas, um profundo aprendizado. Vale muito ler.”

QUARTO DE DESPEJO (Carolina Maria de Jesus):

“Carolina era uma favelada, que catava latinhas e papelão nas ruas. Uma mulher negra, que registrava sua rotina em um diário. Relatava o cotidiano e suas impressões sobre a vida. Tudo isso em uma data muito remota. E ela acabou se tornando a primeira grande escritora negra do Brasil. Este livrofoi traduzido para mais de 20 idiomas.

CRUZ E SOUSA: O POETA DO DESTERRO (Sylvio Back):

“Personagem importantíssimo que, com sua poesia, conseguiu impactar muita gente, colocando o negro nesse ambiente da literatura e permitindo que parte de nossa história fosse registrada. Sua trajetória reverberou no Brasil e em diversas partes do mundo.”

RACISMO ESTRUTURAL (Silvio Almeida):

“Literatura necessária em um momento em que o país está debatendo o racismo em todas as suas dimensões e manifestações. Traz informações qualificadas para ajudar as pessoas a entenderem mais sobre o racismo estrutural, de que maneira ele se apresenta e se manifesta.”

ESCRAVIDÃO 1 E 2 (Laurentino Gomes):

“É indispensável para qualquer pessoa que queira saber sobre si mesmo, porque lendo o livro entendemos o Brasil atual, a história do país, com seus erros e acertos. Quem ler esses dois livros com certeza vai estar mais conscientizado e capacitado para construir seus argumentos.”

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