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Cristina Fibe
Foto: Leo Aversa/Divulgação

Cristina Fibe conversou com centenas de pessoas, entre anônimos e famosos, para dar origem ao livro “João de Deus – O abuso da fé”, que chega às livrarias nesta quinta-feira (13.10) e prefácio assinado por Maria Ribeiro. A jornalista foi a responsável, em setembro de 2018, pela série de reportagens que revelaria, três meses depois, os estupros cometidos pelo autoproclamado médium João de Deus, em Abadiânia (GO). “Ouvi, por exemplo, homens e mulheres tratando os abusos como algo de pouca gravidade, eventualmente culpando as vítimas, acusando-as de querer tirar alguma vantagem das acusações”, conta em entrevista do GLMRM.

“Os moradores ficam desconfortáveis ao falar no nome de João Teixeira de Faria (verdadeiro nome de João de Deus). Como mulher, tudo é estarrecedor”.

Cristina Fibe, autora de “João de Deus – O abuso da fé”

No livro, que demorou três anos para ser construído, a jornalista disse que teve de falar com muitas fontes em “off” (quando as fontes não querem se identificar) porque ainda há atmosfera de medo na pequena cidade goiana. “Essas pessoas não imaginam o calvário que enfrentam as sobreviventes de crimes sexuais depois que elas decidem denunciar. Infelizmente, ainda temos um longo caminho a percorrer no combate à violência contra a mulher.

Capa do livro “João de Deus — O Abuso da Fé”, de Cristina Fibe, que chega às livrarias em 14 de outubro

Entre centenas de depoimentos, Cristina conversou com Anna Muylaert, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo e o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. GLMRM já havia adiantado trecho da publicação, editada pela Globo Livros, que revelava moradores apostando sobre quem seriam as vítimas dele. Agora leia a íntegra completa desse papo, que detalha ainda mais o processo de apuração e mais. Scroll!

  • glamurama

    O caso de João de Deus ganhou repercussão nacional, questionando o papel desses “curandeiros” e virando gatilho para muitos outros.

  • Creio que o caso João de Deus tenha deixado em alerta fiéis de outros cultos. Não significa que o abuso seja regra, mas sim que devemos estar atentas a violências que podem surgir “disfarçadas” de tratamento.

  • glamurama

    O que só no seu livro as pessoas vão saber sobre essa história?

  • O meu livro parte da investigação biográfica para responder, entre outras, a uma questão que passamos a nos fazer depois que as denúncias vieram à tona na imprensa — no programa “Conversa com Bial” e no jornal “O Globo” (onde eu trabalhava): como é possível que abusos cometidos em série, durante mais de 40 anos, ficassem impunes, tendo sido cometidos por uma figura que estava sob holofotes internacionais? João Teixeira só tinha, até ser preso, biografias autorizadas, algumas delas feitas sob encomenda dele. Voltei o meu olhar a histórias não contadas, a pontos sem nó, a eventos mal explicados. No meu livro, o leitor verá, por exemplo, que João promovia grandes comemorações por seu aniversário no dia 24 de junho de cada ano — Dia de São João. Seus documentos, porém, atestam que nasceu em 16 de junho de 1941.

  • glamurama

    Tem alguma história de bastidor que possa compartilhar?

  • De bastidores, posso dizer que levei muitos “nãos” de celebridades que eram frequentadoras da Casa de Dom Inácio antes das denúncias, mas que, depois de tomar conhecimento dos estupros cometidos por João Teixeira, preferiram não se posicionar.

  • glamurama

    Com quantas pessoas falou? Tem algum caso que foi mais estarrecedor para ti?

  • Conversei com centenas de pessoas, mas muitas delas em “off”, como chamamos quando as fontes não querem se identificar. Ainda há uma atmosfera de medo em Abadiânia, os moradores ficam desconfortáveis ao falar no nome de João Teixeira. Como mulher, tudo é estarrecedor. Ouvi, por exemplo, homens e mulheres tratando os abusos como algo de pouca gravidade, eventualmente culpando as vítimas, acusando-as de querer tirar alguma vantagem das acusações. Essas pessoas não imaginam o calvário que enfrentam as sobreviventes de crimes sexuais depois que elas decidem denunciar. Infelizmente, ainda temos um longo caminho a percorrer no combate à violência contra a mulher.

  • glamurama

    Na hora de escrever, como conseguiu se distanciar da história?

  • Procurei manter a imparcialidade e o distanciamento jornalístico, o mesmo que aplicamos a qualquer apuração, não me envolvendo pessoalmente com os casos — o que não significa não me sensibilizar, não me importar com o sofrimento daquelas mulheres.

  • glamurama

    Tem algum outro caso que gostaria de revelar e ir atrás, na história recente? Ou tem algum futuro caso que está apurando e possa se tornar livro, também?

  • Infelizmente, o Brasil é um país onde mulheres são violentadas e mortas todos os dias. Tenho ainda muitos outros casos a investigar, e certamente livros em vista, mas prefiro manter os detalhes em sigilo, por enquanto.

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