Cristina Fibe é autora do livro-reportagem investigativo “João de Deus — O Abuso da Fé”, que traz novas revelações sobre os abusos cometidos pelo autoproclamado médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. O ex-líder espiritual foi preso em dezembro de 2018 após denúncias serem publicadas na imprensa. Ele é acusado de violentar mulheres por mais de quatro décadas. O livro será lançado na próxima quinta-feira (14.10) e detalha os crimes sexuais em histórias inéditas com suas 240 páginas, centenas de entrevistas e prefácio assinado por Maria Ribeiro.
Segundo a publicação, os crimes eram vastamente comentados há alguns anos em Abadiânia (Goiás), local da Casa Dom Inácio de Loyola, e onde ele realizava atendimentos espirituais. Em trecho obtido com exclusividade pelo GLMRM, a autora detalha uma entrevista com um morador da região, que revelou: “quando chegava um ônibus de turistas do Sul (de onde vinha boa parte das vítimas), ele e outros moradores homens apostavam para ver de quais fiéis — e quantas — o ex-líder religioso iria abusar sexualmente.
“A gente via as mulheres que desciam e apontava: aquela lá vai ser chamada para conversar com o médium João, aquela também…. A gente apostava para ver quem acertava mais”.
Morador de Abadiânia em trecho do novo livro de Cristina Fibe
Uma das entrevistadas para a obra, Anna Muylaert conta que o caso “era sabido” na região. “Nenhum local ia na Casa (de Dom Inácio). Lá, ele era um bandido, mas para o turista o João era um curador”, diz a cineasta paulistana em depoimento para o livro. A diretora começou a frequentar o centro espiritual depois de terminar de rodar o premiado filme “Que horas ela volta?”, em fevereiro de 2014.
Quando apareceu na imprensa chancelando o trabalho de João, recebeu uma mensagem de um homem dizendo que uma amiga dele tinha sido vítima de abuso. A cineasta nunca mais voltou a Abadiânia. “Consultei pessoas que vão muito lá, e elas me confirmaram que todo mundo sabia, todos os funcionários”, afirma Anna no livro. “Eu até pensei se eu poderia fazer algo, mas eu não sabia o quê. Quem me confirmou (os abusos) lá do pessoal deles falou que os espíritos avisaram João muito tempo antes que ele ia se foder, que ele ia pagar. Era uma crença geral.”
Anna Muylaert começou a contar o que sabia a pessoas de fora de Goiás, que frequentavam muito a Casa. “Elas acharam que era fofoca”, finaliza.
Depoimentos exclusivos
O trabalho de apuração para o livro, lançado pela Globo Livros, demorou três anos até a publicação desta obra, que foi iniciada em setembro de 2018, quando a jornalista começou uma apuração que revelaria, três meses depois, os estupros cometidos pelo autoproclamado médium. Entre as centenas de entrevistas, há depoimentos de figuras públicas próximas do antigo médium, como o ex-governador de Goiás Marconi Perillo e o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.
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