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Maria Bethania
Por Jorge Bispo

Quando a pandemia se instalou e os shows online dominaram o cenário musical, Maria Bethânia optou por se manter reclusa, a não ser pela única live realizada em fevereiro, quando celebrou os 56 anos de carreira. Há quase dois sem a energia dos palcos e a troca com o público, lançou, em julho, “Noturno”, seu mais recente álbum de estúdio, porque, segundo ela, “era imprescindível cantar”.

Gravado entre setembro e outubro de 2020 e em maio deste ano, no estúdio da Biscoito Fino, no Rio de Janeiro, a cantora revelou ao Glamurama que precisou de disciplina para superar as dificuldades de gravar um disco durante o isolamento: “Me apliquei no sentido de suportar todas as estranhezas e alcançar o que eu queria: realizar esse trabalho”. Com produção musical de Jorge Helder, produção artística de Ana Basbaum, direção musical e arranjos de Letieres Leite e direção geral de Kati Almeida Braga, “Noturno” é o resultado do esforço de uma das maiores cantoras e intérpretes do Brasil para se adaptar aos novos formatos de mídia e compartilhar com o público, mais uma vez, sua poderosa voz.

“Cantar é a melhor coisa que tem.”

Maria Bethânia
Por Jorge Bispo
  • Glamurama Avatar

    Em “Noturno”, você mesclou músicas de compositores que já são seus parceiros com outros novos. Como é para você o processo de curadoria de um disco? É melhor do que cantar?

  • Maria Bethania

    Nada é melhor do que cantar. Nada. Sou aplicada, rigorosa, trabalhadora, mas nada se compara a cantar, é a melhor coisa que tem. A curadoria foi como em qualquer outro disco, sem muita novidade. Aguardo que os compositores, gentilmente, procurem a minha voz e me concedam canções. Então, vou distinguindo as que acho necessárias para aquele momento, que traduzam os meus sentimentos. E aí o meu trabalho como intérprete é uma busca pelo subtexto para cantar uma canção, tem dramaturgia. É isso o que eu faço. Muito simples!

  • Glamurama Avatar

    Como as mudanças ocasionadas pela pandemia interferiram na construção desse trabalho? Acredita que se não estivéssemos passando por esse momento o disco seria diferente?

  • Maria Bethania

    Ah, dificulta tudo. É difícil cantar sem ver o rosto dos músicos, suas expressões. Testes todos os dias; se convidamos um músico, teste; quando vem o técnico para fazer outra gravação, teste. Tudo fica muito complicado, duríssimo como todos nós sabemos que é, mas era imprescindível cantar. Acredito que todo acontecimento artístico vem com um impulso. Às vezes, não precisa ser de ontem para resultar hoje, nem de hoje para resultar hoje mesmo, pode vir de mais tempo. O repertório desse meu novo disco vem do show “Claros Breus”, que fiz no Manouche, aqui no Rio. Um repertório variado, mas com um centro vivo, ativo. Encerrar o disco “Noturno” com poema de Jorge de Sena “Uma Pequenina Luz” é a tradução da minha procura toda nesse disco: luz. Mas uma luz não bonitinha, ‘elegantezinha’, um pôr do sol charmoso com um drink, não. Uma luz perene, firme, forte que é a nossa vida, que são os nossos quereres.

  • Glamurama Avatar

    Qual a primeira coisa que pretender fazer quando se sentir mais segura?

  • Maria Bethania

    Primeira coisa que eu quero fazer é ir à Santo Amaro da Purificação, minha terra, ver Nossa Senhora.

  • Glamurama Avatar

    Bethânia é uma pessoa diurna ou noturna?

  • Maria Bethania

    Eu sou diurna. Gosto do dia, embora seja atraidíssima pela noite. Acho a luz da noite deslumbrante, teatral. Meu trabalho é noturno, meus shows, enfim, tudo meu é de noite. Agora, quando tem a possibilidade de gravar ou usar um estúdio, a minha criação é mais matinal. Ou seja, diurna.

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