Marcelo D2 não quer desacelerar nem no final do ano. O artista, que ficou muito tempo sem subir aos palcos por conta da pandemia da Covid-19, está embalado com o retorno das atividades e a apresentação do seu novo álbum em São Paulo, nesse sábado, além dos novos projetos: o segundo volume do álbum “Assim tocam os meus tambores” (gravado em lives), o retorno do “Planet Hemp” com músicas novas e a direção de um filme e uma série na Amazon. E não para por aí. Aos 54 anos, ele também curte a filha recém-nascida, Maria Isabel, de quatro meses, fruto de seu relacionamento com Luiza Machado Peixoto.
Em um papo com GLMRM, o cantor comenta sobre o atual momento de sua carreira, futuro, atual governo, pandemia, paternidade e carreira.
Vida online
Conhecido no Twitter por falar sobre tudo, do governo atual até o Flamengo, seu time do coração, o artista afirma que tem usado as redes sociais com mais moderação, principalmente quando está elaborando algum trabalho: “As redes sociais nos afetam muito no dia a dia de uma maneira boa e ruim. Fiz o último disco todo online e foi muito louco porque qualquer coisinha uma galera falava alguma coisa no chat e aquilo já mexia comigo, já levava para outro lugar”, comenta.
“Às vezes falo que vou me afastar [das redes], mas daqui a pouco pego o celular e estou abrindo o Instagram, o Twitter.”
Marcelo D2
Segundo ele, há um raciocínio involuntário quando vemos postagens de outras pessoas. “Quando vemos um amigo na praia, a gente já pensa: ‘podia estar na praia, queria estar na praia’. Vemos alguém em Paris e pensamos: ‘to aqui trabalhando, podia estar viajando’. Nas redes alguém te xinga, e você xinga também. Sou muito sensível a tudo isso. Escrevo muito e meu trabalho está no que me cerca. Me afastar às vezes é melhor, mas não consigo muito. A gente é viciado nisso.”
Interpretação de texto
Por ser fiel aos seus pensamentos, Marcelo afirma que já recebeu críticas de seus admiradores por criticar o governo, por exemplo. “Quando você atinge um hype, acaba que muita gente não está nem entendendo o que você está fazendo e vai lá e dança tua música. Acho que isso é normal, o problema real é muito maior”, reflete.
“Em 2018, quando começou uma guerra nas eleições, quase fiquei doente. Naquele momento, eu briguei muito com todo mundo, principalmente com esse tipo de pessoa que falava que era meu fã e agora não é mais. Depois comecei a perceber que essa pessoa que está ali criticando, usa minha música não como arte, mas como entretenimento, o que é válido também”
Marcelo D2
Depois de alguns episódios incômodos, ele resolveu seguir um conselho. “Um camarada meu falou uma coisa que estou levando para a vida: Se você tem vários comentários na sua foto de gente falando que te ama e uma pessoa falando que você é feia e que te odeia, normalmente damos atenção para aquele único comentário negativo. Se tem noventa e nove pessoas me elogiando estou dando atenção para eles. Estou tentando não deixar roubarem meu axé”, diz.
Tamanho família
Concentrado mais do que nunca no amor e na empatia, além de Maria Isabel, o rapper é pai de Stefan, 30, Lourdes, 21, Luca, 18, e Maria Joana, 17. Ele também é avô de Giovana e Calki. Com uma família deste tamanho, D2 se orgulha da criação de sua família de diversas gerações. “Meus filhos têm uma consciência muito grande. Para mim, isso é importante pra caramba! Dividir isso com eles, conversar. Espero que eles façam um mundo melhor. Eu estou tentando fazer o meu melhor agora para deixar um mundo melhor para eles. Se eu estivesse muito preocupado com isso não teria cinco filhos também porque esse mundo (risos). Me orgulho muito de como eles se alimentam, como eles agem no mundo. Para mim, isso faz muito parte do político”, afirma.
Planet Hemp
Sobre o retorno da banda, o rapper afirma que rolaram dúvidas sobre a nova reunião do grupo. “Como artista tenho também minhas dúvidas. A gente estava pensando: ‘Será que vale a pena voltar o Planet Hemp?’. Refletimos que a gente estava precisando botar isso para fora. Na verdade, eu acho que a gente mesmo precisa do Planet Hemp. Pode soar um pouco egoísta, mas faço música para me expressar e não para suprir a necessidade de alguém”, confessa.
“Se eu quero falar de uma coisa, vou lá e faço meu desabafo, o Planet Hemp é isso também e estou com vontade de falar sobre esse momento que a gente está passando”
Marcelo D2
Nos anos 1990, a banda acabou sofrendo censuras e de acordo com o artista isso pode ocorrer novamente. “Não acho nada impossível nesse governo. O Planet Hemp sempre se propôs a esticar a corda. Neste momento, nossa função é essa para ver no que dá. Não faço nada fora da lei. Temos uma emenda constitucional que nos permite debater sobre assuntos. Me valido disso.”
“Enquanto cidadão essa é a minha função. Debater e tentar fazer um lugar melhor para todos. Eu podia muito bem sentar no meu lugar de privilégio hoje em dia, e falar: ‘pra mim tá bom e vamos nessa’, mas não é isso que eu quero para minha vida”
Marcelo D2
Último disco
Inquieto, antes de preparar o retorno do Planet Hemp, Marcelo elaborou o disco ‘Assim tocam os meus tambores’, gravado por meio de lives durante a pandemia, o que acabou alterando todo o processo criativo do músico. “Gravar o disco dentro de casa, com todo mundo olhando, talvez tenha sido o processo mais louco no momento mais louco do mundo. Foi muito interessante pra mim buscar coisa nova, eu sou um cara que gosta de novas ferramentas, novos suportes”, diz. Segundo ele, trabalhar durante a pandemia foi a atividade essencial. “Me ajudou a passar por essa loucura. Esse disco foi essencial para a minha sanidade”, entrega.
Para quem deseja conferir o trabalho ao vivo, D2 convida para seu show na Audio, em São Paulo, neste sábado (18). “Tem tudo para ser uma noite histórica, é isso que a gente quer escrever. O show vai ser como foi o disco, algo bem família. Meu filho está vindo, mulher tá aí, bebê tá aí, ok, bebê não vai participar do show, está muito novinha, quatro meses (risos). Família veio em peso para São Paulo pra dar o suporte para o papai”, brinca.
Segundo ele, este show é uma experiência coletiva. “Tem uma banda de dez pessoas, amigos que tocaram comigo. Fiz um dream team da banda que já tive. O show está bonito para caramba, tocamos quase o disco todo, de Planet Hemp, “A Procura da Batida Perfeita”, “Nada Pode Me Parar”, todos os álbuns!”
Futuro próximo
“Estou fazendo o volume dois “Assim tocam os meus tambores” , o disco do Planet Hemp, série na Amazon e um filme. Estou a milhão. Ainda estamos pensando em soltar o disco do Planet em pílulas: duas músicas e depois de 15 dias mais uma, depois três, depois uma de novo, depois duas, até formar o disco todo”, conta ao justificar a ideia: “É para que as pessoas tenham um pouco mais de atenção sobre aquelas músicas, um assunto específico que a gente possa debater um pouquinho sobre o que se trata a canção na semana”, almeja ele, que convidou Criolo para participar do disco com a faixa ‘Distopia’. “Talvez seja a canção que abra o disco novo, ela é bem potente”, revela.