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A artista múltipla, Isis Broken, é uma mulher trans, afro-indígena, sergipana, cantora e atriz. Ela está com o seu primeiro papel em novela, na trama das 18h, interpretando Corina Castello em “No Rancho Fundo”, da TV Globo, mostrando os seus diversos talentos. Além da atuação e música, Isis também se dedica ao papel de mãe de Apolo, de 2 anos, filhe (na linguagem não binária, adotada pelo atriz) fruto de um relacionamento centrado na experiência trans, em que seu marido, um homem trans, foi quem engravidou.

O casal tem um clipe, que se chama “Um Rock, Um Roubo, Um Love com Você”, que foi gravado apenas um dia antes do nascimento de Apolo, tornando-o o primeiro videoclipe da história a ter um homem grávido. Hoje, Isis é uma voz potente na luta contra o preconceito e  pelo reconhecimento na maternidade travesti, uma causa que se tornou ainda mais significativa devido às experiências de transfobia que enfrentou em Sergipe antes de se mudar para São Paulo.

Sua  jornada na maternidade será tema de um documentário sobre Apolo, que narra a história do casal trans durante a gestação de seu filhe, com co-direção de Tainá Muller.

No mês das mães, o  Glamurama conversou com a atriz Isis Broken sobre as dificuldades da maternidade transprogenitora:

Como a maternidade surgiu em sua vida? 

Eu não estava esperando ser mãe naquele momento. Tinha começado a me relacionar com o meu esposo, que é um homem trans, e existe um tabu de que homens trans não conseguem engravidar por conta dos hormônios, mas acabou acontecendo! E a minha maternidade surgiu a partir disso, fomos pegos de surpresa, e claro, mudou completamente nossas vidas, mas somos muito gratos e felizes pelo nascimento de Apolo, e posso dizer que dessa união, surgiu um amor inexplicável que é pelo nosso filho.Isso também levantou  um debate muito importante, de que os corpos trans não estão limitados ao que a sociedade diz que estão. Então,  a maternidade trans, vem desse lugar de muita luta, preciso sempre bater na mesma tecla que sim, eu sou mãe.

Qual tipo de preconceito você  vive como uma mãe trans? 

As pessoas nunca me veem como uma mãe, sempre acham que Apolo é adotado, ou foi inseminação artificial, ou me perguntam se sou mãe de pet, sempre as mesmas questões. A maternidade não é ensinada sobre os nossos corpos trans, e infelizmente, não é respeitada. Mas ela existe, é real e potente. Então,  é muito importante que a gente fale sobre a maternidade trans, para que possamos reconfigurar esses padrões sociais que já estão ultrapassados e que precisamos superar.

Como  você lida com esse preconceito em relação ao Apolo? Você tenta blindá-lo de alguma forma? 

Apolo é uma criança muito alegre e educada, mostramos para ele  o mundo de uma maneira mais leve. A professora da escolinha já me ligou dizendo que elu  é uma das crianças mais carinhosas e comportadas da sala, o que me  orgulha muito. Quero  que elu cresça em um ambiente que permita que se sinta livre para ser quem é, sem restrições ou preconceitos, entendendo que o amor e o respeito  é o pilar que guia a nossa família.

Você é uma voz ativa nas redes sociais sobre a maternidade trans. Você recebe muitas mensagens de mulheres trans que desejam ser mães ou que são e se identificam com você?

Como eu falo muito nas minhas redes sociais sobre meu filhe, eu recebo muitas mensagens de meninas trans, dizendo como eu represento esperança para elas, do desejo da maternidade, após verem que eu sou mãe, e que isso é possível. Os corpos trans nunca são vistos como corpos de possível reprodução. E a gente então está na contramão de tudo isso. Então hoje, fico muito feliz por estar abrindo as portas para outros corpos trans.

 

Nos conte um pouco  sobre a criação com a neutralidade em relação ao gênero.

Como um casal trans, nós temos esse direcionamento, porque acreditamos que impor um gênero é muito injusto, só porque nasceu com determinado órgão sexual. Então, quando Apolo crescer, elu pode escolher se quer continuar com o gênero designado ou não.  Muitas pessoas acham que impomos algo para Apolo, mas na verdade é o contrário, ele é livre para descobrir em sua trajetória individual quem é, quando  crescer e tiver essa maturidade também. Agora, Apolo é uma criança, e só precisa ser feliz, se desenvolver, aprender, e ter o amor de sua família.  Para a gente, isso é muito importante.

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