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Miguel Chaia, Giselle Beiguelman e Raquel Kogan. Foto: Iara Morselli

Começou no último sábado ( a primeira grande exposição do Museu Judaico de São Paulo de 2022. Com curadoria de Ilana Feldman, em “Botannica Tirannica“, mostra inédita concebida especialmente para o Museu, a artista e pesquisadora Giselle Beiguelman investiga a genealogia e a estética do preconceito embutidos em nomes populares e científicos dados a plantas como “Judeu errante”, “Orelha-de-judeu”, “Maria-sem-vergonha”, “Bunda-de-mulata”, “Peito-de-moça”, “Malícia-de-mulher”, “Catinga-de-mulata” entre muitos outros.

A mesma lógica se observa em nomes científicos, como virginica, virginicum e virgianiana para designar flores brancas; e Kaffir, uma palavra que é altamente ofensiva aos negros e considerada na África subsaariana um equivalente da palavra “nigger”, nos EUA, que se convencionou ser chamada de N-word, pelo grau de violência social que carrega. Um dos ícones da exposição é a planta popular Judeu errante (Tradescantia zebrina), título de uma narrativa medieval que foi um dos baluartes da propaganda nazista e que tem o mesmo nome em várias línguas, como alemão, francês e inglês, sendo uma das muitas expressões depreciativas usadas contra os judeus.

Reunindo imagens e vídeos produzidos com IA, e um ensaio audiovisual, a artista Giselle Beiguelman propõe uma investigação estética e conceitual a respeito do imaginário colonialista presente no processo de nomeação da natureza, cujas espécies, caso das plantas ditas “daninhas”, recebem nomes ofensivos, preconceituosos e misóginos.

Em conjunto com seu Jardim da resiliência, que ocupa as áreas externa e interna do Museu e onde são cultivadas algumas dessas espécies denomes ofensivos e preconceituosos, na série Flora mutandis a artista cria com a Inteligência Artificial seres híbridos, plantas reais e inventadas, em um jardim pós-natural.

“O patriarcalismo está entranhado no discurso científico. Na divisão binária das plantas criada por Lineu, há as ‘masculinas’, que têm órgão reprodutor masculino androeceu (do grego andros, homem), e são superiores às ‘femininas’, que têm gineceu (do grego gyne, mulher)”, analisa Giselle. Para a artista, “a botânica clássica antropomorfiza o mundo vegetal e faz das plantas um espelho do homem”. Para ela, “o modo como se nomeia o mundo é o modo como se criam as divisões, os preconceitos, e se consolida o pensamento binário. Por isso, a nomenclatura é um ritual de apagamento”.

A mostra também conta com obras do artista convidado Ricardo Van Steen, que produziu sete aquarelas inéditas, de estética naturalista e científica, em que retrata jardins imaginários a partir de grupos de pesquisa.

Para Felipe Arruda, diretor executivo​​ do Museu Judaico de São Paulo, “O preconceito e a intolerância, assim como a resistência e a resiliência, são temas centrais da experiência judaica ao longo da história, assim como desafios absolutos do nosso tempo. A abordagem dessas temáticas pela produção artística contemporânea é um dos eixos basilares do Museu Judaico de São Paulo, por isso a honra de expor a produção atual de uma artista com quase três décadas de uma inquieta atuação nas artes e na academia”.

Botannica Tirannica, de Giselle Beiguelman

Onde: Museu Judaico de São Paulo (MUJ) | Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Quando: até 18 de setembro

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