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Elliot Page
Reprodução/Instagram

“Me sinto mais empolgado como não sentia em muito tempo”, revelou o ator Elliot Page, em entrevista à BBC, sobre o lançamento de sua autobiografia, “Pageboy”, no início do mês, que se tornou um best-seller instantâneo batendo recordes de venda. 

“Acabamos de terminar a última temporada de The Umbrella Academy (série de sucesso da Netflix) e me senti muito mais presente e centrado, podendo começar o dia como ‘eu mesmo, em vez de estar em meu camarim com um desconforto constante.” O personagem de Page – originalmente chamado de Vanya – fez a transição para Viktor na terceira temporada acompanhando sua transição de gênero na vida real.

“É quem eu sempre fui”, diz o personagem Viktor aos seus irmãos, em uma cena. Viktor pergunta se isso é um problema para alguém e os irmãos garantem que não, antes de retornar à história original.  A Netflix contratou o escritor trans Thomas Page McBee para incorporar a transição de gênero de Viktor à trama e a abordagem suave funcionou. A Nielsen Media Research – que avaliou as visualizações em todas as plataformas – afirma que a série acumulou mais de 10,5 bilhões de horas de streamming, tornando-se o 13º programa original mais visto do ano.

Viktor se tornou um dos homens trans mais conhecidos da ficção – um dos grupos menos representados na indústria. De acordo com o relatório “Onde Estamos na TV” de 2022-2023 do grupo de defesa LGBT Glaad, apenas 11 dos 596 personagens LGBT retratados em 100 plataformas globais de TV, cinema e streaming eram homens trans.

Page diz que está ciente de que é um dos homens trans mais conhecidos do mundo e leva isso a sério. “Estou nessa posição única e tenho que usar meu privilégio e minha plataforma para fazer o que posso, para ajudar minha comunidade.”

Quando escreveu sua autobiografia, “Pageboy”, ele escolheu a letra de uma música do músico trans Beverly Glenn-Copeland para as primeiras linhas: “Este mundo tem muitos fins e começos \ Um ciclo termina, algo permanecerá? \ Talvez uma faísca, outrora tão brilhante, floresça novamente”. As palavras ressoaram com Page, porque “em muitos momentos, eu me pegava pensando: ‘Eu nunca fui uma menina. Nunca serei uma mulher. O que vou fazer? Só quero ser uma criança de 10 anos'”, revelou o ator à reportagem. “Então comecei a perceber: ‘Ah, é porque essa foi a última vez em que me senti como eu mesmo, a última vez em que me senti como se parecesse comigo e estivesse em meu corpo’, sabe? Agora está voltando. Essa faísca.”

Foi em dezembro de 2020, no auge da pandemia global de Covid-19, que Page se assumiu publicamente como um homem trans por meio de sua conta no Instagram. Em uma postagem que rapidamente chegou a mais de três milhões de curtidas, Page escreveu que se sentia sortudo por fazer o anúncio. “Foram anos e anos de turbulência sobre isso, de chegar muito perto e depois recuar, me convencer a desistir.”

Parte dessa relutância era uma ressaca dos anos em que ele escondeu sua identidade, seguindo conselhos de executivos de cinema que moldaram sua carreira inicial. Em seu livro, ele descreve Hollywood como um lugar “plástico, vazio, homofóbico” que encontrou quando tinha 20 anos e era estrela do filme independente “Juno”, um sucesso na época em que foi lançado. No longa, ele interpretou uma adolescente que passa por uma gravidez não planejada. O papel rendeu a Page uma indicação ao Oscar e fama mundial.

“O sucesso de Juno coincidiu com pessoas da indústria me dizendo que ninguém podia saber que eu era queer”, revela em “Pageboy”, “que não seria bom para mim… Então, eu usava vestidos e maquiagem”. Ele descreve o nível de desconforto, a disforia de gênero, como esmagador. “Tinha que evitar meu reflexo. Não podia olhar para fotos, porque eu nunca estava ali. Isso estava me deixando doente.”

Nos dias de hoje um jovem trans poderia vir para Hollywood, sem conexões, e ter uma carreira de sucesso? “Não tenho 100% de certeza. Talvez. Mas agora estamos também em um momento de retórica extremamente odiosa contra as vidas trans. Ainda há um longo caminho a percorrer.”

A comunidade é a resposta para os debates polarizadores online sobre pessoas transgênero e o ator deseja se conectar com jovens LGBTQIA+ de todo o mundo por meio de seu trabalho. “Minha mensagem é apenas para resistir e se amar com todas as suas forças, e saber que não há absolutamente nada de errado com você. Procure apoio onde puder. Pessoalmente ou online. Procure narrativas que ofereçam algum tipo de representação, algum tipo de conforto. Apenas um lembrete de que você não está sozinho.”

Mudar a narrativa sobre a representação trans na mídia é algo que ele espera fazer com sua empresa de produção cinematográfica, Page Boy Productions, bem como com seus próprios papéis como ator no futuro. Ele espera que sua plataforma possa ajudar a mudar as percepções às vezes limitadas das pessoas sobre a masculinidade. “A agressividade é incentivada nos homens. Espero que essas expectativas do que significa ser um homem, o que a masculinidade significa, possam ser redefinidas e curadas”.

Page finaliza a entrevista com um desejo para toda sua comunidade: “Sinto que estou realmente vivendo minha vida pela primeira vez. Estou feliz. Apenas acordar, passear com meu cachorro, passar um tempo com os amigos e sentir que estou no meu corpo pela primeira vez.”

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