“Nove Dias” (“Nine Days”, no título original), longa-metragem de estreia do cineasta brasileiro Edson Oda, chega aos cinemas nesta quinta-feira (09.12). A história é uma reflexão ao jeito que olhamos a vida e passamos por situações extremas, do bullying à depressão que pode chegar ao suicídio. Em entrevista ao GLMRM, o brasileiro radicado em Los Angeles conta como gostaria de seguir sua jornada internacional:
“Estou superaberto a tudo quanto é projeto. Estou indo a várias reuniões, conversando com as pessoas. E não descarto nada… Se for uma coisa que eu me conecte e me relacione, estou aberto até mesmo para – como dizem – coisas mais comerciais”
Edson Oda, diretor de “Nove Dias”
No filme, Will (Winston Duke) é um homem solitário que observa a vida humana se desenrolar por meio de uma série de televisores antigos. Ele fica de olho em pessoas aleatórias por todo o mundo enquanto elas se encarregam de seus afazeres diários. A beleza do filme está em captar essas tarefas corriqueiras, mas que deveriam ser apreciadas com mais atenção. O plot-twist do longa é quando uma dessas pessoas morre e deixa a vaga para uma outra vida, e Will começa entrevistas para selecionar o candidato substituto ideal ao longo de nove dias, lançando uma série de desafios para determinar sua aptidão emocional e espiritual.
Ele recebe essas pessoas para conversar em uma casa no meio do deserto, que pode ser interpretado como o limbo. No entanto, uma única alma pode vir a nascer, com os demais candidatos enfrentando o esquecimento depois de terem um desejo final realizado por Will — eles escolhem um momento de como a vida na Terra teria sido caso tivessem sido os selecionados. Leia a íntegra desse papo:
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Qual cena ou quais memórias gostaria ter arquivado em um VHS como aparece no filme?
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Com certeza, alguma com a minha família. Minha mãe, irmão e pai. Lembro quando a gente ficava ao redor da piscina e meu pai me puxava pela mangueira. Ficava indo de um lado para o outro. É uma coisa tão simples, mas tão legal… Saber que a minha mãe estava lá, irmão, primos e amigos. Coisas desse tipo, assim, eu carregaria com certeza.
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Há algumas cenas gravadas em São Paulo, mas também no deserto. A casinha existe?
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A casinha foi construída. É engraçado porque a gente construiu o interior da casa em um galpão em Utah (estado no oeste dos EUA) e a gente só construiu a fachada no deserto e um pedaço do hall… Fazer (a casa) em efeito especial seria difícil, achei que era uma coisa que valia a pena ser construída.
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Há perguntas que precisam ser respondidas no longa, como sobre aquela de “sua vida começa agora”. Não vou perguntar como gostaria que acabasse… Mas quais os caminhos quer trilhar a partir de agora?
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Gostaria de fazer meu próximo “Nine Days”, não que seja uma sequência. Mas quero fazer um projeto que venha de um lugar pessoal, e eu tenha um certo controle e autonomia, do mesmo jeito que eu tive para fazer este filme. Seria legal meu segundo filme ser como o primeiro. Ao mesmo tempo, estou superaberto a tudo quanto é projeto. Estou indo a várias reuniões, conversando com as pessoas. E não descarto nada… Se for uma coisa que eu me conecte e me relacione, estou aberto até mesmo para – como dizem – coisas mais comerciais. Mas, para um segundo filme, queria tocar um projeto pessoal de novo.
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E qual a diferença de lançar um filme lá fora e aqui no Brasil?
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Não sei porque ainda não estreei aqui (risos). Mas tô me sentindo um pouco surpreso. Nos Estados Unidos foi muito legal e incrível, moro lá alguns anos, mas vi as pessoas se relacionando com o filme, me mandando mensagem… Tem um pouco de conquista, sabe? Ah, eu conquistei isso em minha carreira. E aqui (no Brasil) tem uma coisa muito mais nostálgica. Convidei algumas pessoas para verem o filme, como amigos de infância, ou gente que me acompanha e está comigo desde sei lá quando… E é quase uma releitura do filme. Indo ao passado falar com meu professor de inglês, que me deu aquela aula, que daí consegui ir para os Estados Unidos. A família, meus tios, primos, pais… Tem um pouco esse caráter emocional, sentimental e familiar, que é diferente.
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Quanto tempo demorou para captar as imagens de inserção, que aparecem nas TVzinhas?
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Muitas das coisas principais que iam na TV, a gente filmou em Utah, entre nove e 10 dias. E muitas outras coisas que iam na TV, a gente foi filmando… e eu fui meio que falando com as pessoas e um amigo meu, Jean Paulo, do Brasil também começou a filmar. Mas foi tão espalhado que é difícil falar, mas as captações restantes levaram entre 10 e 15 dias, mas várias equipes diferentes. Porque tinha muito material para filmes.
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Em uma cena de stand-up comedy, quando aparece um humorista, nos remete ao Zacarias, de Os Trapalhões. Foi uma coisa proposital ou não?
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Ele é um cover do Zacarias (risos). E foi uma das coisas mais legais de gravar porque os gringoes não entenderam nada, mas sempre que um brasileiro vê, morre de rir.
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As cenas da sensação de estar em contato com o mar e, também, a de andar de bicicleta por São Paulo são lindas. Você acha que – por conta da pandemia -, em algum futuro próximo, essas experiências in-door serão comuns? Tem também uma coisa de metaverso, lembrando que tudo foi gravado antes da pandemia, né?
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Espero que não (risos). Mas tem uma coisa de ficar enclausurado… A solidão é um pouco de você se fechar dentro de si mesmo, né? Acho que o Will tem isso. E a pandemia propiciou a gente fazer isso ao se fechar dentro de nós mesmos. E o metaverso está aí, então, no final, é quando você se abre para experiências fora. Nesse sentido, sim, tem essa representação de se abrir para o mundo.
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Algo que não perguntamos e gostaria de acrescentar?
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Eu não sei… Qual o personagem que você mais se relaciona das almas?
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Acredito que a Emma (Zazie Beetz), pois ela tem esse quê de liberdade…
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Que legal. Muito obrigado!
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