Assim como a J.P, Luísa Sonza também celebra 15 anos de carreira. Sim, você leu certo. A garota da capa começou a cantar profissionalmente aos 7 anos em uma banda de casamento em Tuparendi, cidade de 7 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul. Mas, antes disso, Luísa conta que era requisitada para soltar a voz nas longas viagens de carro que fazia com a família para manter o pai desperto ao volante. No repertório, sertanejo raiz. Também aprendeu em casa a gostar de rock nacional dos anos 1980 e Beatles.
Atualmente, diz ela, anda obcecada por Legião Urbana, Elis Regina e Cássia Eller. Foi há quatro anos que Luísa se lançou em carreira solo e, como não poderia ser diferente de sua geração, a internet foi seu primeiro palco. Em 2017, desbancou quatro youtubers da música e levou o prêmio de melhor cover da web no Prêmio Multishow com “Fica”, de Anavitória e Matheus & Kauan. Desde então, vive uma relação agridoce com a exposição virtual.
A gaúcha de 23 anos contabiliza mais de 24 milhões de seguidores no Instagram, e é por lá que os fãs emanam amor e admiração ao mesmo tempo que outras pessoas destilam ofensas. Alguns episódios tomaram proporções absurdas em sua rede social, como a separação do humorista Whindersson Nunes, com quem ela se casou aos 19 anos, e o namoro com o cantor Vitão. “Passei a fazer terapia depois de entrar na internet, há uns quatro anos”, conta. Mas precisou tomar uma atitude mais radical e se afastar de tudo para atravessar o pior momento, no início de junho, quando sofreu ataques de haters após a morte do filho prematuro que Whindersson teve com outra mulher: Luísa se isolou no México e ficou sem acesso às redes sociais.
“Foi uma fuga, me fez muito bem, mas eu não estava lidando com a situação em si, estava fugindo. Precisei desse tempo, praticamente fui viver uma outra realidade, não queria voltar. Fiquei uns 15 dias no México, mas tive que retornar para trabalhar e cumprir contratos e tal, não tinha como adiar mais as coisas”, relembra. “A gente tem que dosar as redes sociais todos os dias, não fugir por um tempo e voltar para a mesmice. Acho que o mundo tem que rever um pouco a forma como está encarando as coisas, tudo se baseia muito no imediatismo, no número, e nem sempre o imediato é o melhor”, reflete. Luísa abre o jogo de como vem se tratando.
“Minha terapeuta me acompanha o tempo todo e tomo ansiolítico e antidepressivo porque as crises de pânico ficaram fortes. Não tinha, sempre fui uma pessoa ansiosa, mas lidar com isso é bem complicado porque é uma coisa que atormenta todos os dias.”
Luiza Sonza
A artista tem dimensão de que é espelho para muita gente e por isso divide os altos e baixos da vida. “Gosto de falar por causa das pessoas que passam por isso dentro da sua realidade e pensam: ‘Ela se recuperou, está bem, e eu estou aqui e não estou aqui conseguindo, estou há anos com terapia, há anos tentando e não consigo’. Não é assim, sou um ser humano da mesma maneira, não é um conto de fadas, em que se dá a volta por cima, é tudo lindo. As coisas têm que ser levadas mais a sério.”
O momento de fuga impactou inclusive no lançamento do aguardado segundo álbum, Doce 22, que foi adiado por alguns dias. Hoje, Luísa colhe os louros da atual fase artística, em que assume as próprias rédeas e, não à toa, tem o nome do disco tatuado no dorso da mão, como um lembrete de sua caminhada.
Fotos: Mauricio Nahas Fotos: Mauricio Nahas Fotos: Mauricio Nahas
“A música sempre foi terapêutica. Estou me tornando mais madura e mais segura da minha música, da minha arte, do que eu sou, e consigo externalizar melhor artisticamente”, diz ela, que passou 14 meses dedicando-se totalmente ao “Doce 22”, gravado em sua casa, em São Paulo, entre amigos, e aprovando cada detalhe. “A melhor parte do meu trabalho é criar, produzir, cantar. Isso é o que me encanta, e faz eu fazer todo o resto e me desdobrar em várias. A parte mais desafiadora é saber lidar com a indústria, entender os mecanismos, observar, empresariar. Não existe formação para isso, não existe regra, é você dar tiro no escuro o tempo todo, arriscar o tempo todo.”
Outro reconhecimento da carreira em ascensão foi o convite para comandar seu próprio programa, “Prazer, Luísa”, do Multishow. Cada vez mais dona de si, a cantora passou a falar de outro assunto relevante, a bissexualidade. “É uma coisa natural. Nunca namorei meninas, mas já me envolvi. Me sinto uma mulher livre. Sou uma pessoa tranquila em relação à sexualidade, não sou de ficar com muita gente. Mas já me interessei por homens e já me interessei por mulheres, e é isso.”
Solteira desde o fim do namoro com Vitão, em agosto, ela aproveita as delícias de estar sozinha. “É muito bom fazer o que quer, a hora que quiser. É um momento importante para mim, para aproveitar as coisas que conquistei, de me sentir completa sozinha. Depois de tantas coisas que vivi, está sendo fundamental olhar e falar: ‘Pô, que foda, eu passei por isso, eu consegui e estou aqui, intacta’.” Luísa é assim, está pronta para o que der e vier. E que sua caminhada siga mais suave e gentil.
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