Maria Ribeiro volta aos palcos nesta sexta-feira (29) com uma temporada de “Pós-F”, de Fernanda Young, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. A atriz, que já havia performado o monólogo dois anos atrás, em formato digital e no mesmo espaço, retorna agora para muito mais do que uma segunda temporada, “uma estreia presencial”, como ela mesma prefere chamar.
Com direção de Mika Lins, o solo é inspirado na obra “Pós-F, Para Além do Masculino e do Feminino”, a primeira de não-ficção de Young, que venceu o Prêmio Jabuti em 2019, mesmo depois de sua precoce morte, em agosto do mesmo ano.
Maria e Fernanda chegaram a trabalhar juntas no projeto, ensaiaram e tiveram uma única apresentação dividindo o palco. “Comprei o livro e devorei em uma noite. Cismei que queria o transformar em espetáculo, escrevi para a Fernanda e perguntei o que ela achava. Ela achou tão ótimo que quis estar junto. Primeiro dirigindo, depois atuando”, contou ela em entrevista exclusiva ao GLMRM.
Por todo esse simbolismo, a atriz, escritora e diretora de cinema entregou estar sentindo um nervosismo inédito para a estreia do espetáculo, que fica em cartaz até 26 de junho.
“Estou nervosa como se fosse minha primeira vez. Voltar a fazer teatro para plateia, com essa peça específica e em São Paulo, cidade que Fernanda escolheu para ser dela, é muito especial para mim”, conta. Mas Maria diz não sentir tristeza em encenar o monólogo tão discutido e dividido com a amiga, autora de tantas comédias de sucesso: “Triste não, emocionante. Tenho a sensação de que continuo convivendo com ela”. A seguir, a atriz divide um pouco dessas sensações:
Com Fernanda Young no palco
“Durante os ensaios que tivemos, existia sempre uma preocupação em se divertir, ser feliz. Fazer com que as pessoas se identificassem com o que estávamos falando e colocar as ideias dela de uma forma dialética, com muito humor, um feminismo divertido. Fernanda era irônica, debochada, sarcástica e isso eu mantenho no monólogo até hoje, é algo que veio dela. Era uma ideia de ‘Vamos fazer uma coisa transgressora, sem caretice. Quando acharmos que estamos ditando regra, vamos rir de nós mesmas’.”
Com Fernanda Young na vida
“Ela foi uma grande amiga antes mesmo de ser minha amiga, me abriu caminhos. Fernanda foi uma super professora da liberdade e tinha muita coragem de ser quem era. Falava umas coisas que a gente sabe que não se pode falar. Não tinha vergonha de dizer, por exemplo, que não tinha paciência para brincar com criança e, no entanto, era uma excelente mãe. Pra mim, ela sempre foi uma referência de feminista, de coragem e subversão. Ainda por cima, era uma grande dramaturga e escritora. Muito à frente do nosso tempo. Uma Leila Diniz, eu diria. Sempre fui louca por ela”.
“Fernanda era irônica debochada e sarcástica. Uma referência para mim de feminista, de coragem e subversão”
Maria Ribeiro, atriz
Maria lembra que Fernanda faleceu cerca de seis meses antes do início da pandemia e afirma que, conhecendo a amiga, aposta que ela estaria horrorizada. “De lá para cá, só piorou. É inacreditável o que estamos passando. Acho que, hoje em dia, a gente não poderia ter ‘Os Normais’ [série escrita por Young e Alexandre Machado] na TV, porque era uma produção muito subversiva. Acho que esta foi a última série brasileira, produzida aqui, que pensei ‘Poxa, queria ter feito’.”
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