Quando conheci o Yoga Dance, foi como se um novo portal se abrisse para mim. A prática, que combina a presença do yoga com a liberdade da dança, é um caminho de conexão profunda com o corpo, as emoções e a nossa essência. Criado pela yogini e terapeuta corporal Fernanda Cunha, apaixonada por dança e autoconhecimento, o Yoga Dance surgiu da percepção de que tanto o yoga quanto a dança nos conduzem a um estado de presença e meditação, permitindo-nos conectar com quem realmente somos. E isso não tem nada a ver com aprender passos ou seguir regras, mas com se entregar ao movimento espontâneo que habita o corpo, deixando que ele se expresse, sem julgamentos.
Recentemente, participei de vivências com Fernanda e pude sentir os benefícios dessa metodologia tão transformadora. A prática tem me inspirado a viver com mais presença e a acolher tudo o que sou. O Yoga Dance, afinal, nos convida a escutar o corpo, sentir cada emoção e transformá-la em movimento. Uma experiência que não apenas nos ajuda a lidar com a ansiedade e os desafios diários, mas nos conecta ao que Fernanda chama de nossa “casa corpo”. Como ela mesma diz: “O Yoga Dance é uma maneira de voltar para dentro, de desconstruir padrões de vida automatizados e reencontrar uma vida mais consciente, espontânea e verdadeira.”
Atualmente, Fernanda Cunha se dedica a despertar as pessoas para se conectar ao fluxo da vida por meio do Yoga Dance, combinando aulas, retiros e cursos de formação. Nesta entrevista, ela me contou um pouco sobre como desenvolveu o método e os benefícios de dançar sem medo de não acertar o passo, mas com espontaneidade, presença e prazer.
Conte um pouco da sua trajetória, até chegar ao Yoga Dance.
A dança sempre fez parte da minha vida, desde criança. Era o meu refúgio, o lugar onde eu mais me sentia eu mesma, onde encontrava a magia e a alegria que me habitam. Se estivesse brincando de pega-pega e ouvisse uma música que gostava, abandonava tudo para dançar. Com o tempo, entrei na faculdade de administração e precisei priorizar outras coisas que conflitavam com o horário da dança. Mesmo assim, sempre que dançava, sentia uma conexão forte.
Tempos depois, comecei a praticar yoga, inicialmente como uma forma de lidar com a ansiedade. A prática me ajudou a perceber que a ansiedade não me define, é apenas algo que experiencio em alguns momentos. E foi através do yoga que me reconectei com a dança. Certa vez, enquanto preparava um Yoga Kids Camp, nos Estados Unidos, coloquei uma música que amava e comecei a dançar. Naquele momento, senti uma conexão profunda, uma presença total. Compreendi que yoga e dança nos levam para o mesmo lugar: para dentro de nós mesmos. Foi assim que o Yoga Dance surgiu.
Comecei a pesquisar danças terapêuticas, estudei bastante nos Estados Unidos, Let Your Yoga Dance, Journey Dance, Circus Yoga, Yoga para crianças, numa busca para nomear, trazer metodologia e corpo para aquilo que eu sentia dentro de mim, algo que, quando criança, eu não sabia decifrar, mas, depois de adulta e com o estudo do yoga, entendi que era uma consciência divina, que dança, que não obedece aos padrões de certo e errado, bonito ou feio, e que é uma forma do corpo expressar o invisível, a alma, as emoções, todo o amor, todo o caos, toda a alegria, toda a tristeza, tudo o que me atravessa. Desta forma, o Yoga Dance se tornou uma medicina para mim e segue sendo meu laboratório cheio de descobertas e experimentos. Uma medicina para todos que estão dispostos a se conhecer através da sabedoria que habita seus corpos e pode guiar suas emoções e escolhas na vida de uma forma mais leve, alegre e saudável.
Quais os benefícios que a prática pode trazer para as pessoas?
A prática do Yoga Dance é uma jornada de conexão com o corpo e a essência de quem somos. Nos ajuda a sair do automatismo da rotina e a viver de forma mais consciente. Na prática, trabalhamos aspectos como escuta do corpo, acolhimento das emoções e expressão autêntica. Essa presença trazida pela prática é um antídoto para a ansiedade e tantas doenças que vêm da desconexão conosco mesmos. O Yoga Dance nos reconecta com nossa “casa corpo”, onde experimentamos a vida, curamos traumas e desenvolvemos coragem, flexibilidade e autenticidade.
Eu acredito que o mundo será um lugar muito melhor quando tivermos uma massa crítica de pessoas mais conscientes, que escutem os seus corpos e escolham viver de uma nova forma, muito além daquilo que a rotina nos oferece como experiência. Porque, quando estamos vivendo no automático, tensionamos. E, se tensionamos, reagimos. E um mundo com muita reatividade é um mundo extremamente ansioso, violento, que é o que estamos vivendo.
Você compara o Yoga Dance a uma jornada. Como essa jornada pode nos curar, na prática?
Sim. Para mim, o Yoga Dance é uma verdadeira medicina, nos guiando para além dos automatismos que muitas vezes dominam o dia a dia. Por isso, é estruturado como uma jornada em direção ao ser, ao ser que somos. Cada etapa dessa jornada corresponde a um chakra, representando diferentes aspectos da nossa experiência e conexão com a vida. O primeiro chakra, que eu chamo de “Habita Ser”, nos convida a habitar o corpo, a escutá-lo, a dar vazão ao sentir e permitir que a vida seja vivida como ela é. Está conectado ao elemento terra e aos aspectos da materialidade, como família, dinheiro e saúde.
O segundo chakra traz a etapa do “Explora Ser”, uma exploração sensorial do mundo e do corpo. Aqui, aprendemos a sentir todas as sensações – boas ou ruins – sem julgamento, simplesmente acolhendo o que a vida nos traz. Esse chakra nos ensina adaptabilidade, flexibilidade e prazer, sendo representado pelo elemento água, que flui com as circunstâncias.
No terceiro chakra, vivemos o “Assuma Ser”, que é o lugar da coragem e do medo, onde dançamos com essas emoções aparentemente opostas. Este chakra é associado ao elemento fogo, que representa força, transformação, coragem e posicionamento. O quarto chakra é o “Aceita Ser”, o espaço do acolhimento, do amor, do dar e receber. Aqui também aprendemos a estabelecer limites saudáveis, a nos perdoar e perdoar o outro. Seu elemento é o ar, que simboliza leveza, movimento e o ato de respirar profundamente o amor e o perdão.
Avançando, no quinto chakra, encontramos o “Expressa Ser”, que fala da expressão e da escuta. Mais do que falar, ele nos convida a silenciar para escutar, para perceber o que quer ser comunicado. Representado pelo elemento éter ou espaço, esse chakra nos guia a encontrar nossa voz no mundo, a expressar nossa verdade e a ocupar o nosso lugar com autenticidade e clareza. O sexto chakra, o “Revela Ser”, é o lugar da intuição, onde o invisível se torna visível. É a revelação de algo oculto em nós, que se manifesta por meio de sonhos, insights ou pensamentos aparentemente aleatórios. Ele nos ensina a confiar nesse saber interior, naquilo que os olhos não veem, mas que o coração compreende.
Por fim, chegamos ao sétimo chakra, o “Ser”. Este é o espaço da entrega e da confiança, onde abrimos mão do controle e nos conectamos com a magia da vida. É o lugar de estar presente, de confiar plenamente no fluxo do universo, independentemente do que aconteça. Por tudo isso, com essa abordagem comportamental que o Yoga Dance traz dos chakras, é possível desconstruir nossa forma de viver automatizada, dormente e adoecedora, e nos conduzir a uma forma de viver consciente, presente, e portanto mais alegre, mais autêntica. E, quando eu falo mais autêntica, é mais autêntica com você mesma.
Como a prática segue influenciando a sua vida?
Ela me fez compreender que dança não precisa ser performática ou técnica. Me ajudou a ver que meu corpo é um canal para acessar uma inteligência maior. A gente dança o que tem para dançar. E na dança, o que está sendo dançado, seja uma dor ou uma alegria, se transforma em movimento. E esse movimento, por si só, tem uma sabedoria que recoloca as coisas nos seus lugares. Então, você se libera daquelas crenças ou da necessidade de se encaixar nas expectativas de quem quer que seja para realmente viver a dança maior que é a vida, de acordo com aquilo que faz tua alma pulsar. O Yoga Dance me ajuda a assumir quem sou todos os dias. A trair a expectativa alheia para ser fiel a mim mesma. Quando o meu corpo tensiona, a resposta é não, mesmo que vá desagradar alguém. A intimidade que hoje tenho com o meu corpo já me fez perceber que os problemas de saúde poderiam ser agravados se eu não estivesse atenta aos primeiros sinais, especialmente na menopausa, que traz mudanças tão grandes. Para resumir, o Yoga Dance é um convite para não desperdiçar a oportunidade de estar aqui, fazendo o que só você pode fazer, que é viver a sua vida da forma que ela é.
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- Amelia Whitaker,
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