Sexual care: hidratante íntimo é a nova aposta da indústria, mas é realmente necessário?

Foto: Reprodução/Unsplash

O mercado anda a todo vapor para atender as demandas do mais novo – e picante – segmento de bem-estar e autocuidado: o universo do sexual care. Depois de vibradores, lubrificantes, sex toys, óleos e velas afrodisíacas que colocaram, pela primeira vez, o prazer feminino sob os holofotes, o mais novo lançamento da indústria são os hidratantes íntimos.

Quem encabeça a novidade, fincando a bandeira do pioneirismo dentro do movimento de skinintimate no Brasil, é a Lubs, marca que já era referência em sexual care com suas fórmulas naturais e veganas, e a Profuse, label de dermocosméticos do Aché Laboratórios. Mas para que serve (de fato) um hidratante íntimo?

“A hidratação é um hábito que sempre deve ser estimulado. Afinal, a pele é uma barreira de proteção do nosso corpo e mantê-la hidratada reforça esta proteção, evita sensibilidade e irritações além do envelhecimento precoce. Já que hidratar é algo tão importante, por que a região íntima não merece também esse cuidado?”, questiona a ginecologista Cidinha Ikegari.

“Já que hidratar a pele é algo tão importante, por que a região íntima não merece também este cuidado?”

Cidinha Ikegari, ginecologista

Segundo a especialista, que auxiliou no processo de desenvolvimento do Sérum Íntimo Hidratante Reparador, da Lubs, não existe uma obrigatoriedade de prescrição médica para o uso de hidratantes na região íntima. Estar em dia com a consulta com o ginecologista e fazer um acompanhamento com o dermatologista regularmente é sempre o indicado.

Pontos de atenção

A médica uroginecologista Lilian Fiorelli explica que a vagina tem mucosa, assim como em várias outras partes do corpo. A grande diferença da mucosa vaginal é que, diferentemente das outras, ela tem comunicação com o meio externo.

“É o que a gente chama de uma flora polibacteriana, várias bactérias que transitam por ali. Por isso, ao longo do processo evolutivo, a vagina foi criando um sistema de autorregulação. Ou seja, não é necessário nenhum produto para ajudá-la a se proteger de bactérias ruins”, pontua Lilian, que também é especialista em sexualidade feminina.

Cidinha Ikegari esclarece que produtos com composição limpa e que não alteram o pH da região são bem-vindos – sempre e apenas na área externa, ou seja, vulva e ânus.

“É claro que a pessoa pode desenvolver alguma alergia a um ativo específico ou até irritação pelo contato direto do produto, mas isso pode acontecer na pele de qualquer parte do corpo e tem mais a ver com a predisposição de cada individuo. Em caso de infecções, como a candidíase, a recomendação é consultar um médico ginecologista”.

Lilian Fiorelli também chama a atenção para a composição dos produtos: os hidratantes íntimos, ainda que apenas para uso externo, devem ser à base de água. “O ácido hialurônico é um excelente ativo para checar na composição também, ele tem um alto poder de hidratação e não agride a flora”, acrescenta ela.

Estamos indo longe demais?

Quando o assunto é os avanços da indústria do sexual care, as duas especialistas discordam. Cidinha responde enfaticamente que não concorda que estamos indo longe demais. Já Lilian pondera: “Eu acho um pouco demais, não precisa de tanto”.

Apesar de discordarem nesse ponto, as duas especialistas acreditam que a existência de produtos como o hidrante íntimo pode ajudar mulheres a se olharem, se tocarem e se conhecerem. “Nessa sociedade machista em que vivemos, que sempre repreende meninas com frases como ‘não pode’, ‘tira a mão daí’, ‘fecha a perna’, permitir que uma mulher se toque para se conhecer é um exercício de autocuidado”, reflete Lilian.

Cidinha Ikegari completa: “Para nos conhecermos melhor, nos apropriarmos da nossa sexualidade e quebrar tabus, precisamos olhar para nossa intimidade com naturalidade. Partindo daí, qual o problema em introduzir um ritual de autocuidado para a região íntima? Assim como o skincare não é regra, o uso desse tipo de produto não é obrigatório.”

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