Publicidade
Por Flávia Meirelles
Conversamos com a Dra. Rafaela Pozzobom, Oncologista Clínica da Oncologia D’Or no Rio de Janeiro, sobre os tratamentos avançados para o câncer de próstata. Abordamos as inovações, como a cirurgia robótica e a medicina de precisão, enquanto desvendamos o impacto dessas técnicas na vida sexual dos pacientes.

Quais são os tratamentos mais inovadores para o câncer de próstata?

Em relação ao câncer de próstata, tratamentos cada vez mais modernos e minimamente invasivos estão sendo utilizados. No estágio inicial do câncer de próstata, quando a doença está localizada somente na próstata, a cirurgia pode levar a uma taxa de cura de mais de 90%. Um grande avanço foi a cirurgia robótica em relação à cirurgia convencional. Nesta cirurgia, o cirurgião controla de um console fora do campo os braços robóticos, que contêm os instrumentos cirúrgicos e microcâmeras. Dessa forma, é possível diminuir o volume de sangramento, que é mínimo, e também a taxa de complicações, levando a uma recuperação mais rápida.

O uso do robô na cirurgia para retirada da próstata facilita a visualização da área que será operada pelos médicos. Como o comando é dado ao braço do robô, movimentos irregulares do cirurgião são filtrados e não são passados para o paciente, levando a uma melhor preservação funcional das ereções (função sexual) e do controle urinário (continência urinária) do paciente.

Nos estágios mais avançados, onde a doença já se espalhou para outros órgãos, o que chamamos de metástases, também há novidades em relação ao tratamento de câncer de próstata. Hoje utilizamos o termo medicina de precisão. A oncologia de precisão utiliza técnicas de análise molecular para identificar as alterações genéticas (sejam hereditárias ou não) das células cancerígenas e compreender como elas se comportam. A partir disso, avaliamos as possibilidades de atingir especificamente essas alterações e, assim, controlar o tumor.

Os pacientes com câncer de próstata metastático que já falharam a um primeiro tratamento devem ter sua peça cirúrgica (tumor ressecado ou biópsia) submetida à análise para identificação de alterações genéticas. Se o tumor apresentar características moleculares compatíveis com tratamentos já desenvolvidos pela ciência, o médico pode optar por prescrever um tratamento “preciso” que vai agir buscando “desligar” especificamente a atividade dessas células anormais, controlando assim a doença.

Em relação ao câncer de próstata, caso alguma mutação seja identificada, principalmente nos genes BRCA, podemos utilizar drogas chamadas de inibidores da PARP (enzima Poli Adenosina difosfato Ribose | Polimerase). Esse sistema PARP é utilizado pelas células tumorais para manter o funcionamento dos seus próprios genes. Quando a via PARP é bloqueada por tratamento com inibidores da PARP, como olaparibe e talazoparibe, as células do câncer, eventualmente, morrem.

Outro tipo de tratamento baseado em medicina de precisão, também em pacientes com câncer de próstata metastático que já falharam a tratamentos, é a terapia com o radiofármaco Lutécio 177-PSMA. O lutécio é um isótopo radioativo, que é carregado por uma proteína localizada na membrana das células do câncer de próstata (PSMA) até o câncer propriamente dito. Este tratamento é um tratamento venoso, se espalhando pelo sangue para todo o corpo, assim ele consegue alcançar os locais onde o tumor e as metástases estão presentes. Sua ação consiste em matar as células malignas com radiação, preservando as células sadias ao redor. Esses tratamentos de precisão podem diminuir as lesões em número e tamanho e aumentar o tempo de vida do paciente.

Como a cirurgia e os tratamentos podem afetar a sexualidade?

Alguns tratamentos podem lesar os nervos que levam à ereção. Enquanto outros afetam os níveis de hormônios que são necessários para ereção. Mas é importante dizer que a maioria dos homens submetidos a tratamento de cirurgia ou radioterapia na doença localizada irá manter a ereção.

Em alguns casos, a cirurgia de remoção da próstata, a prostatectomia radical, pode levar à lesão de nervos necessários para ereção, mas a melhoria das técnicas cirúrgicas vem diminuindo o número de disfunção erétil no pós-operatório. Após três anos de cirurgia, cerca de 60% dos homens irão recuperar a potência sexual de antes da cirurgia, porém esse número pode variar dependendo da experiência do cirurgião e do acometimento dos nervos pelo tumor. Importante também salientar que após a prostatectomia radical o homem não ejaculará mais sêmen, isto porque a próstata e as vesículas seminais são retiradas na cirurgia. Seus testículos irão continuar produzindo testosterona e espermatozoides, mas os espermatozoides serão reabsorvidos no corpo. Ainda terão orgasmo, mas será um orgasmo sem ejaculação. Alguns homens relatam que este tipo de orgasmo pode ser menos intenso e prazeroso. Em relacionamentos do mesmo sexo, a cirurgia também pode mudar a sensação do sexo anal nos parceiros passivos. Alguns homens têm prazer com estímulo do pênis na próstata, mas não haverá mais próstata.

A hormonioterapia, terapia de bloqueio hormonal, reduz os níveis de testosterona, afetando a capacidade de ter e manter a ereção, além da diminuição do desejo de fazer sexo. E a radiação da radioterapia pode lesar os nervos responsáveis pela ereção. Geralmente, esse efeito aparece mais tardiamente, podendo ocorrer após três a cinco anos de tratamento.

Existem tratamentos para melhorar a sexualidade dos pacientes?

Existem muitos tratamentos para o manejo dos problemas sexuais. O especialista pode ajudar na reabilitação da disfunção erétil com terapia, sugestão de hábitos de vida saudáveis, medicações orais, medicações injetáveis, bombas a vácuo e até implantes penianos. O mais importante é saber que o sexo de qualidade vai muito além da penetração e que o mais importante é fazer a prevenção.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter