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Falar sobre sexo nunca foi algo muito natural entre as mulheres. Por décadas o tema foi visto como errado, proibido e até sujo. Inúmeros tabus faziam com que a narrativa girasse em torno de como dar prazer ao outro. Porém, nos últimos anos, as mulheres passaram a assumir mais seus corpos e desejos, e estão focadas no próprio prazer.

“A indústria pornô, por muito tempo, focou apenas no homem, mas estamos caminhando para um cenário de mais liberdade e incentivo ao prazer feminino”, diz Li Rocha, orientadora, educadora e terapeuta sexual. Segundo ela, há um movimento de mais informação e especialistas debatendo o assunto ao redor do mundo, além de empresas investindo em produtos sexuais para o público feminino.

Essa indústria é, inclusive, dominada por elas. Uma pesquisa do Portal Mercado Erótico mostra que 76,13% dos empreendedores da área são mulheres. “Vivemos uma nova revolução sexual, na qual o prazer feminino tem sido prioridade”, afirma a ginecologista Marcela Mc Gowan, que se autointitula “genital influencer”. De acordo com ela, há mais estímulos para que mulheres possam se conhecer e a maioria está aberta a isso. “Finalmente falamos sobre clitóris, orgasmo e desejo.”

“Quando nos conhecemos e entendemos nosso corpo, nos tornamos responsáveis pelo nosso prazer sem delegar ao outro”

Li Rocha, orientadora e terapeueta sexual

A educadora sexual Lais Conter, criadora do Me Lambe, perfil no Instagram que se propõe a quebrar tabus e incentivar o empoderamento e a educação sexual, diz que vem observando a busca das mulheres por alternativas para ampliar o prazer e se conhecer melhor. “É compro-vado que quanto mais a gente se conhece, maior potencial de gozar”, diz. Uma dessas alternativas é o chamado JOI, acrônimo de Jerk-Off Instruction, ou masturbação guiada, em tradução livre. Trata-se de uma técnica de relaxamento na qual a pessoa deixa que sua masturbação seja direcionada segundo estímulos verbais.

Uma das maiores plataformas é a Dipsea, criada pela americana Gina Gutierrez em 2018. Em um TED este ano, que foi acompanhado por 1.500 pessoas, ela ressaltou que sexo não é apenas um ato físico, mas uma experiência sensorial. “Não depende só do parceiro, começa em nós”, explicou. Segundo ela, a imaginação é a ferramenta mais poderosa para expandir nossa capacidade de prazer e, especialmente para as mulheres, a cognição é tão importante quanto a presença de estímulos físicos.

Menos tabus e padrões

Na visão de Marcela, a masturbação guiada é uma ferramenta muito boa para auxiliar as mulheres a chegarem ao clímax. Isso porque é bem comum ouvir queixas sobre a dificuldade de se concentrarem e, até, de criarem contextos excitantes. “Fomos ensinadas a sermos desejáveis, mas não desejantes. Por isso, é bem normal ver mulheres que não sabem o que as excita”, destaca Marcela.

Segundo ela, o JOI pode trazer novas descobertas. Entre as vantagens do método, ressalta a ampliação da consciência corporal, a descoberta de desejos e a capacidade de ficar imersa naquilo, evitando distrações, o que ajuda a chegar ao orgasmo. Li Rocha explica que o processo pode ajudar no autoconhecimento, o que se gosta ou não na hora do sexo. “Quando nos conhecemos e entendemos nosso corpo, nos tornamos responsáveis pelo nosso prazer sem delegar ao outro. E isso liberta padrões e dá autoconfiança.”

“Fomos ensinadas a sermos desejáveis, mas não desejantes. Por isso, é bem normal ver mulheres que não sabem o que as excita”

Marcela Mc Gowan, ginecologista e sexóloga

Mas é importante ter em mente que tudo em demasia pode ser prejudicial. “O excesso do pornô auditivo pode afetar a sexualidade causando distúrbios e, até mesmo, o desinteresse pelo sexo presencial.” Por outro lado, quando usado com consciência, é uma ótima opção para quem tem dificuldade ou não sabe muito bem o que fazer para se estimular:

“Pessoas mais tímidas, que não têm o costume de se masturbar ou que sofreram muita repressão, por exemplo, podem se beneficiar da masturbação guiada. Assim como as que simplesmente ainda não possuem repertório e não sabem o que fazer”, diz Laís, ressaltando que por ser uma interação, normalmente via áudio gravado, a mulher recebe instruções do que fazer, como e onde tocar, e que ritmo utilizar. “Isso acaba facilitando o processo e também dando asas à imaginação.”

*Com reportagem de Caroline Marino (a íntegra da reportagem está na nova edição da revista J.P, já nas bancas)

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