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Cannabis
Reprodução/Unsplash

O uso medicinal da maconha não é novidade para ninguém, apesar do preconceito histórico sobre o assunto e resistência de setores sociais e do governo federal em gerar esse debate. Mas uma nova página dessa história, muito promissora e vanguardista, tem surgido no que talvez seja o meio mais improvável para tal finalidade: o esporte. Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram a primeira competição desde que a Agência Mundial Antidoping (Wada) retirou o canabidiol (CDB) da lista de substâncias proibidas – um dos derivados não psicoativos da maconha. Fato que fez crescer, cada vez mais, o debate de como essa substância pode fazer a diferença de um jeito positivo.

Pós-graduanda em Medicina Esportiva pelo Instituto Vita e em Cannabis Medicinal pela Unyleya, a médica esportista Jéssica Durand possui certificação internacional em terapias à base de cannabis pela Green Flower. Mas é como atleta amadora que ela enxerga na prática clínica o potencial da cannabis na qualidade de vida e bem-estar dos pacientes. “Esse é um tema muito importante, pois, como vimos nos últimos Jogos Olímpicos, com o caso da ginasta Simone Biles, não podemos ignorar a temática da saúde mental em atletas de alto rendimento”, ressalta. Segundo ela, o CDB auxilia na aceleração da recuperação muscular. “A gente acha que inflamação é algo negativo, mas, toda vez que praticamos exercícios físicos, ocorrem microlesões nas fibras musculares, o que ativa o processo inflamatório, que é vital para que músculo se regenere e consiga ter funcionalidade após essas microlesões… O CBD modula a inflamação, tirando a tirando a parte ruim que envolve dor, edema, reação imune exacerbada e otimiza a parte positiva que é de reparação celular”.

“O CBD pode auxiliar os atletas, melhorando tanto o desempenho quanto a qualidade de vida. Na performance, um dos pontos importantes é a melhora da ansiedade no cotidiano e na pré-competição.”

Jéssica Durand, médica esportiva

A médica faz parte de um dos grupos do esporte que discutem o assunto no Brasil, o “Atleta Cannabis”, fundada pelos triatletas Fer Paternostro e Peu Guimarães e pelo piloto Ale Biasi. “Somos uma plataforma de experiência e conteúdo para quem busca qualidade de vida através da cannabis medicinal e a ferramenta que escolhemos para fazer isso foi o esporte. O mercado já conhece bem a parte das patologias, mas as questões dos benefícios para a qualidade de vida, mesmo para quem não tem patologias, não é tão discutida. É esse debate que queremos trazer para mesa: a pessoa não precisa ter uma doença para usufruir desses benefícios”, explica Peu Guimarães. Atleta de esportes de aventuras, ele sofreu por 10 anos com dores crônicas resultantes de lesões das práticas, cenário que mudou completamente quando iniciou seu tratamento com o canabidiol. “Há nove meses, comecei esse tratamento e o primeiro benefício que pude notar foi deixar de sentir dor”, revela.

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Mas a dupla sabe que os tabus em relação à cannabis foram construídos historicamente, pautados em questões políticas, econômicas e raciais. Desconstruir todos esses mitos que estão enraizados na sociedade será um trabalho árduo, que claro, começa com educação. “Nosso governo é muito conservador. Há uma bancada ideológica muito forte, cheia de preconceitos e desinformação. Mas é com o acesso a informações científicas, qualificação dos profissionais de saúde, que vamos avançando”, lembra a médica. “Acho que o mundo está se abrindo para essa questão e é o esporte o principal veículo para isso”, conclui Guimarães.

Caso tenha interresse em saber se o tratamento com cannabis é indicado para você, o Atleta Cannabis tem uma plataforma para conectar todas as necessidades do paciente aos médicos. Para adquirir os produtos à base de cannabis, como o óleo, é necessário passar por uma consulta médica e adquirir a prescrição dos seus medicamentos. A partir daí há dois caminhos: o primeiro é o uso de medicamentos produzidos nacionalmente pelas associações, que realizam um trabalho social importante e fornecem os produtos à base de cannabis a baixo custo, principalmente àquelas pessoas que têm limitações socioeconômicas. E o segundo, mais comum, segundo a doutora Jéssica Durand, é por meio da importação da medicação, quando é necessário liberação da Anvisa.

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CDB na saúde mental

O CBD atua em diversas vias neurais e regiões cerebrais relacionadas ao estresse, à ansiedade e à depressão, com efeitos ansiolíticos muito potentes, também aponta Jéssica. Segundo a especialista, diversos estudos têm relatado que o tratamento de transtornos ansiosos e depressivos em diferentes gravidades é possível e tem uma resposta muito positiva com o CBD. Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP), inclusive, demonstrou que a substância foi efetiva no tratamento do burnout em profissionais da saúde que atuaram na linha de frente da pandemia. “O ponto positivo disso é que o CBD é uma medicação muito segura e tem um espectro de efeitos colaterais baixo, principalmente se comparado aos antidelressivos convencionais”, ressalta.

Em tratamento

Enquanto este debate parece estar apenas começando, figuras públicas e importantes para o mundo esportivo parecem dispostos a mostrar os benefícios dessa substância. A norte americana Megan Rapinoe, atual bicampeã mundial, dona de um ouro olímpico e eleita melhor jogadora de futebol do mundo em 2019, é uma das atletas que faz uso e também é embaixadora do CBD. Segundo ela, a medicação ajuda a lidar com as dores e a se recuperar das lesões do esporte. Já em terras brasileiras, o ex-pugilista Maguila usa o canabidiol para controlar uma doença degenerativa no cérebro. Em entrevistas, médicos e familiares disseram que o tratamento melhorou sua qualidade de vida.

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