O mundo pôde participar de uma sessão de terapia do príncipe Harry em um dos episódios de ”The Me You Can’t See”, série sobre saúde mental que ele coproduziu ao lado de Oprah Winfrey em março deste ano. Durante a entrevista, o duque de Sussex dividiu sua experiência com uma técnica que tem ajudado ele a lidar com traumas e ansiedade: a dessensibilização e reprocessamento do movimento dos olhos, ou terapia EMDR. Na oportunidade, Harry explicou que começou a terapia há quatro anos e que a experiência tem sido fundamental para seu bem estar emocional.
“O método ainda não é muito difundido, mas foi projetado para ajudar os pacientes a lidarem com memórias traumáticas, tendo também efeitos positivos para tratar transtornos como o de ansiedade, depressão e burnout”, explica a psicóloga Maristela Jukoskis, formada pelo Centro Universitário Avantis (UNIAVAN), que trabalha com a técnica no Brasil. Segundo ela, a prática de psicoterapia nova e revolucionária criada pela psicóloga americana Francine Shapiro é uma abordagem bem fundamentada cientificamente e especialmente útil para o alívio dos sintomas resultantes das experiências traumáticas do passado. “O tratamento permite o reprocessamento dos fatos ocorridos no passado por meio dos movimentos oculares que ativam as lembranças difíceis e traumáticas com o uso da técnica chamada “oito fases” e a estimulação bilateral (visual, auditiva ou tátil), que permitem o ‘diálogo’ entre os hemisférios cerebrais e o reprocessamento do trauma”, ressalta ela.
Durante a entrevista, o caçula de Diana e do príncipe Charles abriu o coração e contou que usa o tratamento para lidar com a sensação de “aflição” e “preocupação” que sempre experimenta ao voar para o Reino Unido, por exemplo. “Para mim, Londres é um gatilho. Infelizmente por causa do que aconteceu com minha mãe e por causa do que experimentei e vi acontecer”, relembrou Harry. Durante a sessão, o terapeuta orienta que ele cruze os braços e bata nos próprios ombros enquanto relembra memórias e relate o que sente. “Esse é um procedimento de simulação bilateral. O tapinha nos ombros tem como objetivo ajudar o cérebro a processar novamente as memórias difíceis, enquanto se concentra em uma sensação externa”, explica Jukoski.
A psicóloga ressalta que normalmente o paciente é ‘convidado’ a voltar ao passado e entender como ele ainda afeta os acontecimentos atuais. No caso de Harry, durante a sessão mostrada, seus olhos se movem sobre as pálpebras fechadas enquanto ele bate nos ombros, tudo muito visível aos telespectadores. “Esse é o componente de ‘movimento dos olhos’ do EMDR. Acredita-se que ele seja semelhante ao estágio de movimento rápido dos olhos durante o sono quando o cérebro processa as informações do dia”, conta a especialista.
De forma geral, os traumas são desenvolvidos quando o organismo ou o cérebro não conseguem “digerir” a experiência, e por conta disso as feridas emocionais precisam de ajuda para cicatrizarem. “Os resultados observados com a terapia EMDR mostram que a pessoa é capaz de se organizar psicologicamente melhor e se desfazer de emoções e pensamentos inadequados produzidos pelas questões traumáticas. Assim, ele consegue ter uma vida mais equilibrada emocionalmente”, ressalta a psicóloga. Para ela, a prática precisa de mais pesquisas com estudos randomizados para se tornar mais popular.
Embora seja reconhecido como um tratamento eficaz pela Associação Americana de Psiquiatria, pela Organização Mundial de Saúde e pelo Departamento de Defesa, o EMDR ainda tem seus críticos que argumentam que é uma pseudociência e que os estudos acompanham apenas a recuperação de um pequeno número de pacientes. Ainda assim, Harry não é o único famoso que vem dando visibilidade à prática: Evan Rachel Wood, Brie Larson e Whitney Cummings também são adeptas, Cummings até escreveu “A EMDR salvou minha vida” nos comentários de um post de Wood no Instagram. “Quando pessoas com muita visibilidade na internet compartilham suas histórias de saúde mental ajudam a quebrar o estigma e reforçam a mensagem de que é OK não estar Ok. Também encoraja os outros a procurarem ajuda quando precisarem”, conclui Maristela Jukoski.
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