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A exposição a sinais relacionados a alimentos pode aumentar a frequência cardíaca, a atividade gástrica e a salivação, bem como um padrão de respostas em várias vias no cérebro associadas à recompensa

 

Foto Freepik

Chocolate, pizza, hamburguer, batata-frita: não é incomum que as pessoas sintam desejos por comida de algum tipo – geralmente aquelas mais hiperpalatáveis, ricas em gordura e açúcar adicionado. Mas de onde vêm esses desejos? E o que pode ser feito para controlá-los? “Muitas coisas podem acionar esses desejos, desde cheiros ou pistas visuais. Em alguns casos, até ouvir alguém falando de algum alimento já é capaz de aguçar os sentidos e fazer a boca salivar. No caso da comida, nossos sistemas sensoriais acionam os caminhos motivacionais ou de recompensa no cérebro. Você não precisa ver a comida em si, mas pessoas, lugares e coisas que lembram você de uma comida que é gratificante farão isso. Esse sinal motivacional vai disparar em nossos cérebros”, explica a Dra. Deborah Beranger, endocrinologista com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ) e curso de extensão em Transtornos Alimentares pela Harvard Medical School. “Os desejos por comida estão fortemente ligados ao sistema de recompensa do cérebro, que envolve a dopamina, um neurotransmissor crucial para a motivação e o prazer. O problema é que viver com muitos efeitos dopaminérgicos pode ter impactos negativos, dependendo do equilíbrio e da intensidade da dopamina, com efeitos como dessensibilização ao prazer, desregulação emocional e desafios na regulação de apetite”, acrescenta.

Segundo a médica, a exposição a sinais relacionados a alimentos pode aumentar a frequência cardíaca, a atividade gástrica e a salivação, bem como um padrão de respostas em várias vias no cérebro associadas à recompensa. “A estimulação alimentar também demonstra ativar o metabolismo da glicose, o processo necessário para transformar alimentos em energia, e a liberação de dopamina, o químico cerebral envolvido na motivação para coisas gratificantes e que nos fazem sentir bem. Desejos não são a mesma coisa que fome e podem ocorrer sem estímulos, como quando as pessoas se privam de um alimento que seu cérebro identifica como gratificante e elas não conseguem parar de pensar nisso. Essas vias de recompensa estão conectadas às regiões de tomada de decisão em nosso cérebro. Uma parte do cérebro, atrás da testa, acrescenta o conceito de valor. Você sente o cheiro de um bolo de chocolate e pensa no alto valor que ele tem porque terá um gosto bom e será recompensador. A recompensa é um sinal poderoso“, explica a médica. Quando há a efetivação disso – e a comida é ingerida – há um aumento na liberação de dopamina. “Esse aumento cria uma sensação de prazer e recompensa, reforçando o comportamento que levou a esse prazer”, explica.

Dra Deborah Beranger

Há uma razão evolutiva para isso. “O acesso a comida era escasso, então o nosso cérebro foi moldado a procurar comida rica em calorias e consumi-las em excesso. Achávamos gratificante comer essa comida porque ela nos ajudava a sobreviver”, diz a Dra. Deborah. “Todo aquele circuito cerebral que cria aquela sensação de recompensa quando comemos ainda existe, mesmo que o ambiente em que vivemos tenha mudado. Agora, na maioria dos países desenvolvidos, há uma abundância de acesso à comida, e fazemos pouco trabalho para obtê-la. Mas, mesmo assim, não é incomum que as pessoas criem um feedback positivo com relação à comida. Então, quando você come algo que satisfaz esse desejo, a dopamina se libera ainda mais, criando um ciclo de que reforça o comportamento. Isso pode levar a uma maior probabilidade de você buscar esse alimento novamente no futuro”, diz a médica. “Quando você come sódio, açúcar adicionado e gordura saturada, há uma alta resposta de recompensa que molda nosso comportamento e nos faz querer nos envolver com ele novamente.”

Como superar o desejo e o reforço positivo?

Apesar de difícil, esses sentimentos podem ser superados. “A distração é um caminho. Dizer a si mesmo que precisa trabalhar, que tem outras coisas para fazer, pode ajudar”, sugere. Outra estratégia é entender e ‘abraçar’ o sentimento, mas sem dar continuidade à ação. “Reconheça esse desejo, tente entender por que ele está acontecendo, mas não dê continuidade. Com o tempo, o cérebro responderá de outra forma e o desejo diminui. A parte do cérebro que agrega valor e está vinculada ao sistema de tomada de decisão também recebe informações do sistema cognitivo, então parte de nossa decisão racional”, explica.

O problema, segundo a médica, é que as pessoas geralmente não esperam – a reação é quase imediata. “Altos níveis de dopamina podem aumentar a impulsividade e, no contexto alimentar, a exposição constante a alimentos altamente prazerosos pode interferir na regulação do apetite e levar ao desenvolvimento de padrões alimentares não saudáveis, como comer em excesso ou desenvolver distúrbios alimentares”, explica a médica.

Mas, ainda assim, dá para se ajudar. “Reduzir a exposição a estímulos alimentares é um bom caminho. Modifique as partes do seu ambiente alimentar que puder, para que você tenha menos exposição e menos acesso a alimentos altamente tentadores que não são uma parte saudável da dieta. Quanto menos exposição você tiver a eles e mais você tiver que trabalhar para obter esses alimentos, tudo isso ao longo do tempo reduzirá os desejos. Se você não resiste a um chocolate, não compre caixas de chocolate para deixar em casa. A questão é a seguinte: o seu desejo é tão forte que você levantaria do sofá e iria ao mercado a pé para comprar esse alimento? Na maior parte das vezes, só adicionar um obstáculo já é suficiente para frear o desejo”, explica a médica. “A maioria das calorias é consumida em casa. Se você não tem acesso fácil aos alimentos que mais deseja, não precisa usar tanta força de vontade para resistir a eles”, finaliza.

FONTE: *DRA. DEBORAH BERANGER: Endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ) e pós-graduação em Terapia Intensiva na Faculdade Redentor/AMIB. Com cursos de extensão em Obesidade, Transtornos Alimentares e Transgêneros pela Harvard Medical School, a médica tem MBAs de Saúde e Qualidade de Vida, de Marketing e Branding Médico e de Mindset, todos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e curso de Obesidade e de imersão em Medicina Culinária pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Fez Fellowship pela European Association for the Study of Obesity, em Portugal; é speaker dos laboratórios Servier, Novo Nordisk, Novartis, Merck, AstraZeneca, Lilly e Boehringer. Instagram: @deborahberanger

Esse texto foi produzido pela Holding Comunicações, assessoria de imprensa especializada em saúde, beleza e bem-estar com 30 anos de experiência no setor.

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