A campanha Dezembro Laranja foi criada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia em 2014 para conscientizar a população sobre a importância da prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de pele. Para esclarecer dúvidas e abordar questões fundamentais, entrevistamos o Dr. Guilherme Furtado, cirurgião plástico da Oncologia D’Or no Rio de Janeiro.
Nesta conversa, o Dr. Guilherme fala sobre como se proteger do câncer de pele, em um verão que deverá ser um dos mais quentes dos últimos anos. Ele explica como a tecnologia está ajudando na detecção precoce de lesões suspeitas e quais são os avanços no tratamento da enfermidade.
É verdade que o câncer de pele é o tipo de tumor maligno mais comum no Brasil?
O câncer de pele se divide em dois tipos: melanoma e não melanoma. O câncer de pele não melanoma é o mais prevalente no país, representando 31% de todos os tumores malignos. Embora acometa apenas 3% da população, o melanoma é mais preocupante por seu alto potencial de metástase. Só este ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que serão diagnosticados 220 mil casos de câncer de pele.
Este ano, a previsão é que o verão será um dos mais quentes dos últimos tempos por causa das mudanças climáticas. Como podemos evitar o câncer de pele?
Vivemos em um país tropical com grande incidência de sol durante boa parte do ano. Por isso, precisamos cuidar da nossa pele, que é o maior órgão do corpo. Cabe lembrar que o câncer de pele surge após anos e anos de exposição ao sol. Você vai aproveitar a juventude, mas chegará uma hora em que vai pagar o preço por ficar horas embaixo do sol. É quando começam a aparecer as lesões, normalmente depois de uma certa idade.
Neste contexto, quando estivermos na praia, mesmo em dias nublados, devemos evitar a exposição ao sol entre 10 horas e 16 horas, passar o filtro solar a cada duas horas e usar barreiras físicas, como camisetas contra raios ultravioleta, chapéus e bonés. Um lembrete importante: barraca de praia não protege contra o sol, porque os raios solares se refletem na areia.
Pessoas com pele e olhos claros, histórico familiar para o câncer de pele ou que fazem uso de medicamentos imunossupressores são mais vulneráveis à doença e devem redobrar os cuidados preventivos. O mesmo vale para pessoas albinas ou que têm vitiligo.
Como identificar os primeiros sinais do câncer de pele?
Existe um autoexame que possibilita a qualquer pessoa verificar se possui uma lesão suspeita. Ele é conhecido pelo método ABCDE, que é uma referência às potenciais mudanças em sinais e pintas. São elas: A=Assimetria, B=Borda, C=Cor, D=Dimensão e E=Evolução. Pessoas que possuem pintas com posições e bordas assimétricas, cores não uniformes, diâmetros superiores a seis mm e que crescem devem buscar ajuda médica.
Para quem gosta de tecnologia, há aplicativos que ajudam a identificar sinais suspeitos. Inclusive, acredito que a inteligência artificial irá contribuir com o aprimoramento dessas ferramentas. Elas não substituem a consulta ao dermatologista, mas incentivam o indivíduo a prestar atenção em sua pele. É o caso do UmSkinCheck, um aplicativo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que permite ao usuário fotografar o corpo inteiro, rastrear lesões, armazenar as imagens para acompanhamento e acessar vídeos e a literatura sobre câncer de pele. Ele opera pelos sistemas Apple e Android e pode ser acessado gratuitamente pelo endereço https://play.google.com/store/apps/details?id=edu.umich.MySkinCheck
O diagnóstico precoce favorece o tratamento?
Sim. Além de adotar as medidas preventivas, as pessoas precisam fazer consultas periódicas ao dermatologista para que o diagnóstico das lesões seja feito de maneira precoce. Nos casos de pacientes com muitas pintas, pintas irregulares e histórico familiar de melanoma, o médico pode prescrever o exame de dermatoscopia confocal, que faz o mapeamento corporal da pessoa. Ele deve ser repetido anualmente para o acompanhamento da evolução das lesões.
O tratamento do câncer de pele avançou nos últimos anos?
Sem dúvida. Hoje existem terapias de última geração para tratar o melanoma. A imunoterapia, por exemplo, estimula o sistema imunológico a reconhecer e destruir as células cancerígenas. Já os medicamentos da classe de terapia alvo funcionam como mísseis teleguiados que destroem o tumor, mas funcionam apenas para os pacientes que possuem uma determinada mutação em um gene chamado BRAF.
Paralelamente, a indústria farmacêutica está ampliando o arsenal terapêutico contra o câncer. Estudos revelaram bons resultados da vacina de neo-antígenos que é usada em combinação com outro medicamento a fim de potencializar o efeito da imunoterapia em pacientes com melanoma. O imunizante usa o material conhecido por RNA mensageiro, o mesmo empregado na vacina contra a covid. Ele é produzido de forma individualizada, a partir do material coletado na biópsia do paciente.
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