Mais um novo ano começou e, com ele, buscamos novos horizontes. Desejamos que seja um ano de alívio, com uma dose de alegria, e mais tranquilo do que os que passaram, visto que uma pandemia global não é algo muito fácil de encarar, sem contar o caos político e climático que estão tirando nossa paz. Só queremos respirar fundo e sentir o alívio do peso sumir, certo? Pois bem, pensando nisso vamos trazer uma reflexão importante para seu início de ano, que, uma vez incorporada e bem refletida, pode proporcionar a sensação de libertação que tanto buscamos: vencer, vencer na vida.
O lema que norteia os passos de muitas pessoas e vem se popularizado como inconsciente coletivo é a necessidade de “vencer na vida”, que nada mais é que uma atualização do dualismo clássico ocidental, que desde os tempos antigos controlam o modo de pensar a vida com culpa, desejo, remorso e ambição idealista. Mas a questão primordial é: o que é vencer na vida?
É de fato muito vazio e abstrato imaginar uma vitória sobre um fenômeno, ainda mais quando se trata da vida. Pressupondo uma vitória, então temos adversários, certo? Mas quem são esses adversários? O seu amigo? Conhecido, vizinho, colega de serviço, concorrente, a pessoa de quem você não gosta? A pobreza, a falta de bens materiais, a falta de seguidores necessários para o arrastar pra cima? Ainda temos que pressupor a figura do derrotado: se nosso papel é vencer, alguém tem que perder, certo? Seguindo por essa lógica, é impossível vencer na vida, uma vez que a morte, quando chega, torna tudo o que foi conquistado inútil, honras e glórias ficam restritas à memória, e nada salva do toque da morte.
Esse discurso de se vencer na vida nada mais é que uma atualização do dualismo clássico que outrora dominava a mente de todos os ocidentais, e os alienava a moldarem suas vidas em torno daquele propósito, pois veja: os vencedores herdarão os céus e os perdedores serão castigados no inferno.
É obvio que, em uma sociedade absurdamente materialista, essa atualização é necessária. Se – parafraseando Nietzsche – “Deus está morto e nós o matamos”, a sociedade buscou algo mais concreto para basear seu norte. As pessoas já não buscam mais o reino dos céus como antes, mas todos querem estar no topo. O medo do inferno não controla mais os impulsos da população, mas se sentir um fracassado é um desconforto que ninguém quer passar. O pecado já não é o mais o código moral vigente, mas, sim, os valores dos vencedores: a forma como uma pessoa “bem-sucedida” se comporta torna-se, então, a nova engrenagem de como a máquina do ser humano funciona.
O que precisamos entender fundamentalmente é que essa história de vencer na vida nada mais é do que uma alienação vazia que tem controlado a forma da sociedade se comportar e se desenvolver. Não há o que vencer na vida. A vida não é inimiga nem adversária de ninguém. O que a vida pode nos proporcionar, além da possibilidade de se viver? Não há mal nenhum em se almejar bens materiais, conforto financeiro e afins, contudo isso tem se tornado uma narrativa que aliena e escraviza sua mente a girar apenas em torno disso. Apreciar uma boa companhia, apreciar a arte, apreciar a si mesmo são coisas que trazem uma riqueza que nem sequer se pode tocar.
A experiência de viver pode ser muito maior do que apenas material. Reflita em si mesmo: o que você gostaria de vivenciar na vida, além do material?
(*Audino Vilão, filósofo, cursa História na universidade e é youtuber – no insta @audinovilao e no Youtube)
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