Você está parado na plataforma do metrô a espera de sua viagem, quando, de repente, um pensamento muito estranho te ocorre: o que aconteceria se você pulasse no vão da plataforma? Ou pior, e se você empurrasse um estranho sem motivo aparente? Que tal jogar um bebê chorão pela janela, pular de um avião em pleno voo, fazer o mal por vontade própria a alguém de quem você gosta, machucar um animal por diversão. Se qualquer um desses pensamentos já ocorreu a você e o fez questionar se havia algo de errado, acalme-se. Exemplos clássicos de pensamentos intrusivos, eles são normais e podem acontecer a qualquer um.
O psicanalista Christian Dunker, formado pela Universidade de São Paulo, onde hoje é professor titular do Instituto de Psicologia, explica que, de certa forma fruto de como a mente humana funciona, os pensamentos intrusivos são justamente o que o nome sugere: pensamentos intrusos, que surgem do nada, sem que tenhamos conscientemente pensado em algo.
“São sons, ideias, pensamentos e, às vezes, até frases que parecem ter vindo de uma outra pessoa, ou então como aqueles pensamentos indesejados que não queremos pensar. É como se tivéssemos perdido a liberdade de conduzir nossos próprios pensamentos.”
Christian Dunker
Dunker ressalta ainda que tais pensamentos podem ser caracterizados pela inconveniência, importunação e incoerência com os momentos nos quais nos vêm à mente. “É muito comum que, em algum ponto da vida, todos nós experimentemos esse tipo de pensamento. Mas eles são também uma característica de um estado de dissociação, estados de estresse agudo, cansaço extremo, situações onde uma ideia pode ocupar um conjunto ramificado de outras preocupações”, aponta.
Segundo o especialista, os tipos desse pensamento são bastante extensos, podendo estar relacionados a autoestima, relacionamentos, religião, violência, sexo e, ainda, a pensamentos obsessivos. O problema começa quando este tipo de pensamento se torna cada vez mais recorrente, preocupante e intenso ao ponto de desencadear estresse, frustração e ansiedade. Podem até acabar fazendo com que as pessoas tenham medo de si mesmas. Afinal, seriam elas capazes de agir a partir de determinados pensamentos, principalmente os violentos? Nestes casos, os pensamentos intrusivos passam a causar sofrimento, angústia e ansiedade. “Quase sempre essas ideias intrusivas são ideias negadas. Então esses pensamentos voltam de forma disfarçada, intrusiva”, ressalta o médico, alertando que, nesses casos, os pensamentos intrusivos demoram para serem revertidos em tratamento. “Isso muitas vezes pode demandar um trabalho de transformação. Não tem receita, não tem técnica, mas é preciso não fugir disso, não fingir que não esta acontecendo e, claro, procurar ajuda.”, finaliza.
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