A paixão avassaladora de Romeu e Julieta, clássico de Shakespeare, só é eterna porque a morte chegou antes que a rotina e os percalços do dia a dia minassem o romantismo dos jovens de famílias rivais, Capuleto e Montecchio. Pós-doutor em psicologia experimental pela USP, professor da The School of Life e especialista na temática amor, Saulo Velasco brinca que a intensa, mas curta história entre Romeu e Julieta não permitiu que cada um conhecesse o lado miserável do outro. “Todas as histórias de amor do cinema e da literatura acabam quando o casal consegue ficar junto e não mostram sua continuidade. Mas essa paixão é muito diferente do amor. O amor mesmo só começa quando o filme termina”, acredita ele.
Apesar do ideal romântico ter criado uma série de mitos prejudiciais, como “depois que você encontrar sua alma gêmea seus problemas estarão resolvidos”, Velasco relembra que é justamente depois da paixão que é preciso arregaçar as mangas: “Esquecem de nos contar que amar dá trabalho. Amar é uma habilidade aprendida e envolve aprender e ensinar, constantemente”.
E não se engane, talvez o que você considera amor, seja uma paixão avassaladora. Segundo Saulo, as expectativas dos livros e filmes fazem a gente confundir os sentimentos. “A paixão é intuitiva e de repente você é pego. O amor é tão bonito quanto, mas ele é construído, precisa ser regado e cuidado, tanto envolvimento pessoal, quanto financeiro, por exemplo. Hoje a gente paga boleto, pega os filhos na escola, faz compra no mercado…Dentro do ideal romântico não tinham essas premissas”, ele explica.
O psicólogo ressalta que o romantismo é importante, trouxe afeto e a conexão do relacionamento, mas com isso trouxe regras de um amor impossível, que não se sustenta a longo prazo. “O romantismo foi um movimento artístico e literário, mas todas as histórias de amor que conhecemos se espelham nele. Se temos como parâmetro esse tipo de amor, a tendência é sempre estarmos insatisfeitos com o outro”.
É possível ser feliz sozinho?
O ser humano precisa de conexão e de afeto. O amor a dois não é a única forma de supri-los. Agora, acho impossível ser feliz sem outros seres humanos. O isolamento predispõe situações de risco. Somos seres sociais. Nós precisamos do outro para nos entendermos, para nos construirmos humanos. É possível ser feliz tendo pessoas significativas em sua vida que tenha intimidade. Ser feliz sozinho completamente é impossível. (por Denise Meira do Amaral)
* Matéria originalmente publicada na Revista J.P, do Grupo Glamurama
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