Gilberto Gil, referência máxima do Carnaval de Salvador, bateu um papo com Glamurama na tarde deste sábado no Camarote Expresso 2222, o metro quadrado mais concorrido por aqui e que foi criado por ele em parceria com sua mulher, Flora Gil, há 20 anos. Gil chegou ao local mais cedo do que de costume, por volta das 16h, só para ver passar o trio de Ivete Sangalo. Ao papo!
Glamurama: Qual é a sua opinião sobre o Carnaval sem cordas?
Gilberto Gil: “A pipoca sempre foi uma instituição muito forte no Carnaval da Bahia, e agora está se tornando muito forte no Carnaval de São Paulo, do Rio e de outras cidades. Isso tem muito a ver com a internet, com a possibilidade de conexão imediata entre vários grupos. E também com a mobilização rápida pra tudo. Acho que é uma tendência natural, está vindo com a socialização das tecnologias.”
Glamurama: Do que você sente falta do Carnaval de Salvador de anos atrás?
Gilberto Gil: “Depende do ponto de vista. Do ponto de vista saudosista dos mais velhos, evidentemente pode faltar alguma coisa. Falta um pouco da visão romântica dos encontros, não só pessoais e interpessoais, mas os encontros grupais que eram mais românticos e ligados a um ritmo menos frenético. A frenetização do ritmo carnavalesco dos últimos anos, tanto no samba carioca, no Sambódromo, quanto no trio elétrico… É uma tendencia natural e se intensifica ainda mais com conexão de rede, onde as pessoas fazem essa troca de forma muito imediata.”
Glamurama: Com a apropriação cada vez maior de Carnaval de trios elétricos das cidades, você acha que Salvador precisa se reinventar?
Gilberto Gil: “O Carnaval de Salvador, de uma certa forma, deu a fórmula pra esse carnaval contemporâneo. É esse modelo de Carnaval baiano que está se reproduzindo no Rio, em São Paulo e em outros lugares. Quais transformações o Carnaval de Salvador vai sofrer daqui pra frente, a gente não sabe. Já foram tantas nos últimos 20 anos… Teve a chegada de Moraes Moreira cantando no trio elétrico, depois o Luiz Caldas, Daniela Mercury, tantos seguiram… E os blocos com pegada mais africana como o Timbalada, o Ile Aiyê, então é difícil saber qual é o aspecto inovador que vai surgir no Carnaval da Bahia, já que ele é tão antropofágico, já engoliu e processou tanta coisa.”
Glamurama: Ao que você atribuiu essa disseminação?
Gilberto Gil: “A rapidez da comunicação contemporânea. A internet tem uma influência muito grande nessa disseminação mais rápida do Carnaval da Bahia para o resto do Brasil.”
Glamurama: Como aconteceu a escolha da Preta Gil para dar continuidade ao Expresso 2222?
Gilberto Gil: “Preta já vem participando do Carnaval conosco há muitos anos. Já fez a tenda elétrica, já participou do Bloco dos Mascarados. Acho que ela está preparada para isso. Ela já tem um público, uma inserção muito nítida na música popular, na música de festa… Ela já está pronta pra isso.”
Glamurama: ACM Neto já conquistou quase 75% de popularidade em Salvador. Qual é a sua opinião sobre o mandato dele?
Gilberto Gil: “Acho que ele vem trabalhando muito bem. Ele é cuidadoso, recuperou a limpeza da cidade e a autoestima do baiano com uma cidade confortável, estendendo benefícios não só na parte central da cidade, mas também nas periferias. Acho que a gente está vivendo um período relativamente bom.”
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