Gregorio Duvivier é multiuso. O idealizador do “Porta dos Fundos” é ator, cronista, roteirista, comediante e poeta. E é nessa última faceta que o carioca, de 27 anos, está investindo cada vez mais o pouco tempo que tem. Gregorio acaba de lançar seu segundo livro”Ligue os Pontos – Poemas de Amor e Big Bang”, pela editora Companhia das Letras, em que transforma momentos simples do dia a dia em puro lirismo. Com humor e ironia, claro. Exemplo disso são os poemas “Posto Nove e Meio” ou “Difícil ser Feliz nas Festas de Santa”. Alguns críticos já até comparam sua escrita com a de Manuel Bandeira. Ah, e tem muitas poesias de amor para Clarice Falcão, mulher de Duvivier. É sobre isso e mais que Glamurama conversa com ele. Olha só.
– A dedicatória de seu livro diz “Para a Clarice, é claro”. O quanto ela participa desse livro? “Minha relação com a Clarice é muito próxima. Claro, ela é minha mulher, mas temos uma profissão muito parecida. Gostamos de ler e escrever. A gente está junto mesmo. Influencia e inspira um ao outro. Não tinha como não ser assim. Foi ela que insistiu para que eu publicasse esse livro. Com a correria do dia a dia, escrevo para a ‘Folha’, o ‘Porta dos Fundos’, faço roteiro de programa para o Multishow, não conseguia ter tempo de escrever poesia. São obrigações diferentes. Por isso a dedicatória para ela. E acho que todos os poemos de amor são para ela.”
– Você fez Letras. Isso te influenciou? “Sempre gostei de ler e lá aprendi que escrever poesia demanda sobriedade e profissionalismo. Não é nada fácil. Aprendi muito com meu professor na faculdade, Paulo Henrique Britto. Foi no curso também que além de ler muito, me apaixonei por linguística. É sério.”
– Sua mãe é cantora e seu pai, músico. Como foi crescer em um ambiente de pessoas brilhantes? “Tive muita sorte. Meus pais foram minha primeira referência na vida. Lembro da minha mãe [Olivia Byington] fazendo shows pelo Brasil todo, meu pai tocando sax. Ela fez uma turnê comigo ainda na barriga! E pessoas como Millôr Fernandes frequentavam minha casa. Sorte de crescer nesse ambiente, elas foram as pessoas que me formaram.”
a baía de guanabara é uma sopa de óleo
a baía de guanabara é uma sopa de óleo
diesel detritos ferramentas sal de lágrimas
e a saudade dos que já partiram — quando
atingimos seu vórtice devemos jogar cinzas
anéis e outros restos mortais de uma pessoa
a ser engolida pelos deuses subaquáticos
pois para isso cariocas fomos feitos — para
salgar esse imenso caldo que nos banha.
– Mas sempre se sentiu seguro? “É difícil. O ser humano sofre comparações e é muito complicado. Nunca criei muita expectativa para ser famoso, mas tive minhas facilidades. Lembro dos meus pais virando a noite escrevendo e compondo a noite inteira e ganhando uma mixaria. Não acho que o Brasil leva tão a sério a cultura, sempre soube. É opressor ter a genialidade perto de você. Tem muita gente que trava quando é filho de artista. Há uma cobrança interna mesmo.”
– E como é trabalhar com o pessoal do “Porta dos Fundos”. Existe muito ego? “O grande barato é que nós somos amigos antes do ‘Porta’. E trabalho profissional precisa de intimidade e confiança entre os colegas. O Fábio eu já conhecia cinco anos antes, já tinha uma relação muito boa no palco. O sucesso se deve a isso. Também tive sorte. Foi uma alinhamento de arte que aconteceu e deu certo. Acredito que a vida é um encontro, com a Clarice, com eles. O ‘Porta dos Fundos’ tem o elenco dos comediantes mais brilhantes dos últimos tempos.”
ligue os pontos
enquanto você dormia liguei
os pontos sardentos das suas
costas na esperança de que
a caneta esferográfica revelasse
a imagem de algum ser mitológico
de nome proparoxítono o mapa
detalhado de algum tesouro
submerso formasse quem sabe
alguma constelação ruiva oculta
na epiderme e me deparei
com o contorno de um polígono
arbitrário que não me fornecia
metáforas não apontava direções
simplesmente dizia: você está aqui.
– Você escreveu um livro de poesia com humor. Só existe humor poético nos livros? “Existe poesia sim no ‘Porta’. Tem o humor escrachado, mas tem as esquetes mais profundas como o ‘Fundo Verde’ ou o ‘Batalha’. É um tipo de humor que tem um monte de tipo de público. Humor é legal quando ajuda a viver. Woody Allen, por exemplo, transforma a vida. Não é só entretenimento ou passatempo. É uma maneira de ver a vida. O ‘Porta dos Fundos’ mostra isso.”
– Acha que todo mundo que assiste ao “Porta” entende isso? “Não, nem todo mundo. Mas tem público para todo o tipo de humor. Tem quem goste do humor mais antigo que passa na TV. Nosso humor subverte as expectativas, surpresa, passa o tapete nas suas expectativas. Quebra um pouco o fanatismo, a homofobia. Humor tem essa função, de eliminar o preconceito. Prefiro quando se tem um motivo.”
– Não achei você tímido, você sempre comenta que é… “Sou sim. Mas estou melhorando. Era tímido, mas com o teatro mudei um pouco. Subir no palco não é nada fácil.” (Por Thayana Nunes)
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