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Por Verrô Campos

O artista norte-americano Theaster Gates chegou nesta segunda-feira a São Paulo para a abertura da exposição “My Back, My Wheel and My Will”, na galeria White Cube. São duas exposições de Theaster que a galeria abre simultaneamente, em São Paulo e Hong Kong, sendo que muitas das obras fazem parte de seu trabalho exposto na Documenta de Kassel, no ano passado, quando o artista foi reverenciado por galeristas, mídia e colecionadores. Além disso, ele foi eleito pelo “Wall Street Journal” a personalidade inovadora de 2012 na área das artes plásticas. Theaster é também músico, diretor e professor do departamento de arte da Universidade de Chicago, ativista social e pensador do espaço urbano. Ele costuma reutilizar materiais de demolição e imóveis degradados em suas obras, muitos provenientes de casas abandonadas de Dorchester, bairro negro no sul de Chicago onde Theaster nasceu, cresceu e vive até hoje, usando parte do dinheiro ganho com a sua arte em reformas de casas para centros culturais. Praticante de capoeira e amante do samba, está aqui pela primeira vez, e conta que o Brasil era como “Meca” para ele e seus amigos. Glamurama teve uma conversa exclusiva com o artista, que prometeu voltar ainda muitas vezes:

– Por que São Paulo e Hong Kong? “Eu escolhi porque este trabalho da Documenta é sobre materiais migrando -quando as coisas vão de um de um lugar para outro elas adquirem valor. É como as pessoas que ficam se gabando sobre as suas viagens, os materiais também adquirem o direito de se gabar. Escolhi dois lugares com história de pobreza e um rápido crescimento econômico, são dois lugares que as pessoas trabalharam duro e as coisas estão começando a funcionar, pelo menos para alguns.”

– De onde são os materiais que estão aqui? “São de Chicago. Em muitas formas o trabalho é sobre estes lugares específicos em Chicago, que na morte destas casas pudemos criar tanta vida e, de alguma forma, agora os materiais pagam por eles mesmos.  Eu simplesmente chamei atenção para coisas e pessoas lindas que não eram vistas.”

– E de alguma forma isto vai voltar para Dorchester, certo? ( Theaster reinveste o dinheiro que ganha com sua arte no bairro. Suas obras na exposição custam de R$ 150 a R$ 650 mil.) “Sim, os prédios que estou reformando serão centros culturais. Às vezes o nosso trabalho nos dá a possibilidade de fazer mais, e todos têm o direito de decidir o que fazer com o dinheiro que ganha. Eu amo fazer arte e amo as questões sobre arquitetura. Em Chicago os espaços são separados por raça, é a geografia, só negros vivem num lugar, em outros só brancos. Em Dorchester a violência é palpável. Normalmente, se eu pudesse morar em outro lugar eu moraria, todo mundo que pôde fez, mas eu disse não, como um ato político, espiritual  e social eu decidi ficar e vou tentar fazer o que puder com o que tenho. Antes eu não podia fazer muito, mas agora posso fazer um pouco mais. É o que as pessoas devem fazer em sua vizinhança.”

– Na semana passada o discurso de Martihn Luther King Jr em Washington ( “Eu tenho um sonho”) completou 50 anos. Como você vê o preconceito nos Estados Unidos hoje? “Quando o preconceito racial era tão tangível, as pessoas sabiam pelo que estavam lutando. Tinha algo sobre este momento de liderança e clareza que perdemos. Agora a estratégia é: você tem mais, tem um presidente negro e agora se as coisas não dão certo para você é porque você não trabalhou o suficiente. Mas, ao mesmo tempo, os empregos estão indo embora de minha cidade, não existe mais trabalhos com as mãos, se você não estuda, não há nada para você. E agora não existe mais racismo [afirma com ironia]. Todas as outras formas de causar isolamento, segregação e discriminação continuam. Ao mesmo tempo, 50 anos depois, eu tenho acesso a coisas que os negros nos Estados Unidos nunca tiveram. Existem muito mais “Theasters” hoje. Ainda parece um progresso simbólico. Talvez devêssemos aprender a costurar de novo, ordenhar uma vaca… Em Dorchester tivemos que amplificar nossa voz para buscarmos ajuda, mas penso que talvez seja o momento de ficarmos mais quietos. Isso acontece também com os artistas brasileiros, são rotulados como “o artista da favela”. Aí nos separamos do trabalho e ele vira um trabalho de mainstream.”

– Existe uma separação entre a sua arte, sua vontade pessoal e o trabalho da comunidade? “Não, talvez só no resultado da arte das outras pessoas, que saem dos centros culturais que construo. Minha vida toda é uma coisa apenas, é maravilhoso ter a liberdade de dizer que é tudo arte.”

Leia mais: Assista ao vídeo em que Theaster canta uma música de escravos enquanto percorre sua exposição na Galeria White Cube

Siga a seta e confira algumas das obras de Theaster Gates expostas na White Cube de São Paulo.

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