por Alexandre Makhlouf para revista PODER
À primeira vista, parece que Bob Burnquist é tímido. Durante o trajeto até o estúdio do fotógrafo, um dos maiores skatistas do mundo não desgrudou os olhos do skate que trazia no colo. Contou detalhes de sua infância entre o Rio de Janeiro, onde nasceu, e Pleasanton, nos Estados Unidos, cidade em que foi morar com os pais quando tinha 4 anos, e de sua personalidade extremamente perfeccionista. Tudo sem desviar a atenção dos parafusos e das rodinhas de silicone de seu instrumento de trabalho. Ele se considera um workaholic. E é muito feliz com isso. “O que eu mais gosto é de andar de skate. Tudo o que eu consegui foi em cima de um”, justifica. Financeiramente, Burnquist não tem do que reclamar. Apesar de não falar em números, é patrocinado da cabeça aos pés por 12 empresas diferentes, como Toyota, Oakley, Globe e até o energético brasileiro TNT, que mais investe no atleta atualmente. Ele também já começou, ainda que timidamente, a investir em produtos de sua própria marca: joelheiras, cotoveleiras, capacetes etc.
As conquistas no esporte, claro, fazem jus ao sucesso junto aos patrocinadores: só nos X Games, evento esportivo considerado a Olimpíada dos esportes radicais, foram dez medalhas de ouro – cinco delas na megarrampa, maior estrutura para a prática de skate que existe, com mais de 30 metros de altura, o equivalente a um prédio de dez andares. Além dos troféus, Burnquist também ficou conhecido por criar o switch, técnica em que ele inverte a posição dos pés na hora de andar e de fazer manobras com o skate. Ou seja, o atleta desenvolveu uma espécie de ambidestria no esporte.
Juntas elásticas
As vantagens de Burnquist vão além dos “dois pés direitos”. Ele desafia alturas enormes praticamente todos os dias, já que tem uma versão da megarrampa em seu próprio quintal, na Califórnia, para inventar e treinar manobras arriscadas. Já sofreu 28 fraturas, mas nunca rompeu um ligamento, o que é um feito em um esporte que exige muito das articulações. É que tem hipermobilidade nas juntas, condição genética que possibilita movimentos bem mais amplos sem o risco de lesões, como acontece com a maioria das pessoas. É quase como se ele fosse um homem elástico. Melhor ainda: ele é praticamente um super-homem do skate.
E como todo bom super-herói, Burnquist adora voar: em 2006, montou um half-pipe (estrutura em U utilizada para acrobacias verticais) na beira do Grand Canyon, nos Estados Unidos. Depois de algumas manobras, saltou da pista para dentro de um dos penhascos da região e abriu um paraquedas, deixando todo mundo sem respirar de susto. Sua última façanha? Saltar de um helicóptero diretamente para a megarrampa, em queda livre, e girar no ar. Mesmo depois de tantos desafios, ele confessa que ainda sente frio na espinha. “O dia em que eu perder o medo vai ser minha ruína. Ter medo de quebrar barreiras é, na verdade, uma forma de respeito.” Detalhe: tudo isso aos 36 anos, idade considerada avançada para skatistas. E pensa em parar? “Aposentadoria? O que é isso?! Só vou largar o skate quando estiver no caixão”, diz.
Chegando ao estúdio, a versão tímida de Burnquist dá lugar a um extrovertido, piadista e cheio de ideias na hora de posar para as fotos. Dentro de um costume Armani preto, peça bem diferente dos bermudões e camisetas que usa para trabalhar, ele pede: “Tem como fazer alguns cliques para mandar para a minha mãe? Ela vai pirar quando me vir vestido assim!”. Claro, Bob! Dona Dora vai adorar o resultado do ensaio, que surpreendeu, como tudo o que ele faz.
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