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Bom Dia, Verônica
Klara Castanho em Bom Dia Verônica. Foto: Divulgação/ Laura Campanella/Netflix © 2022.

“Bom Dia, Verônica” é uma daquelas séries difíceis, mas obrigatórias de se assistir. A história da Netflix, que está em sua segunda temporada, trata de diversos tipos de violência contra a mulher, como feminicídio, abuso psicológico, sexual e até contra criança e adolescente.

Nesta temporada, a policial Verônica (Tainá Müller) tenta salvar Ângela (Klara Castanho) e sua mãe, Gisele (Camila Márdila), dos abusos e violências de seu pai, o guru religioso Matias Cordeiro (Reynaldo Gianecchini). Durante a investigação, ela percebe que ele é muito pior do que aparenta ser quando descobre que é o chefe de uma máfia de tráfico humano.

Para entender as similiaridades entre ficção e realidade, GLMRM conversou com a promotora Gabriela Manssur, fundadora da organização Justiça de Saia e conhecida por atuar em casos como o do médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, preso acusado de abusar de mais de 500 mulheres.

“O escopo do personagem do ator Reynaldo Gianechini é muito parecido com o caso do João de Deus. Ouvi mais de 200 mulheres que foram enganadas por terem fé numa figura religiosa, que foram abusadas psicologicamente e sexualmente. Elas são sobreviventes, porém tiveram a vida estigmatizada por um criminoso”, disse.

A promotora também diz que, apesar de ser uma série de ficção, “Bom Dia, Verônica” mostra a realidade de muitas brasileiras vítimas de abusos que encontram dificuldades de denunciar. Aproveite e veja como comunicar as autoridades sobre crimes como os que aparecem na série:

Violência sexual

Um dos principais arcos da série é a violência sexual que tanto a família de Ângela quanto as seguidoras de seu pai sofrem. Na história, Matias atraía as mulheres para uma suposta “cura” de algum problema – ao final, descobrimos ser só para abusar sexualmente delas.

Como o machismo é a base do abuso, seja físico, psicológico, moral, sexual ou patrimonial, as vítimas, muitas vezes, não percebem quando sofrem qualquer tipo de violência, explica Manssur.

“Homens acreditam que as mulheres são sua propriedade, seu objeto e reproduzem atitudes de que as mulheres ‘devem’ aceitar os inúmeros abusos.”

Violência psicológica e física

Matias costumava causar medo em sua filha e sua mulher, Gisele, com ameaças verbais e até com o uso de um cilício – uma arma usada para autoflagelo. Segundo a promotora, a violência psicológica é “muito comum no ambiente familiar” e está tipificada no Código Penal.

Manssur alerta que é importante “não desacreditar as vítimas, escutá-las, oferecer acolhimento e ter conversas francas” para tentar tirá-las de situações de abuso.

Pedofilia e estupro de vulnerável

Cuidado, contém spoilers!

A segunda temporada mostra uma grande rixa entre Ângela e Gisele, filha e mãe. O espectador fica sem entender por que a mulher de Matias é tão agressiva e tem tanta raiva da filha, que não faz nada além de fugir à noite para se divertir com as amigas. Esse mistério é desvendado no final da trama.

Ângela é fruto de um estupro que Matias cometeu em Gisele. Não bastasse isso, o falso guru também é o verdadeiro pai da atual mulher – ou seja, Gisele e Ângela são mãe e filha ao mesmo tempo em que são irmãs, vítimas da rede de abusos.

Matias também começa um “ritual” para descartar Gisele como sua mulher para colocar Ângela, uma adolescente, no atual lugar da mãe. O desejo dele é que ela assuma o posto de sua mulher perante aos fiéis.

“O perfil do abusador quase sempre é alguém que a criança ou adolescente conhece, convive, confia e ama. É muito complexo e difícil, pois, em sua maioria, são membros da família. Por isso, detém poder sobre as vítimas, a exemplo de pai, padrasto, irmãos, primos, tios ou avós”, observa Manssur.

Crimes como esse podem se enquadrar em pedofilia. É possível denunciá-los ligando para o Disque 100.

Tráfico humano

Cuidado, contém spoilers!

Na trama, Verônica descobre que Matias é, além de estuprador e abusador, o chefe de uma máfia responsável por tráfico de pessoas. O comércio de seres humanos, mais comum para a exploração sexual, também pode (e deve) ser denunciado, por meio dos números 100 ou 180.

Os dois números do Disque Denúncia também podem ser usados para denunciar outros tipos de violência contra a mulher. Gabriela Manssur também indica o Projeto Justiceiras, que recebe denúncias e orienta por WhatsApp, no número (11) 99639-1212.

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