O chá é a segundo bebida mais consumida no mundo, atrás apenas da água. Mas no Brasil, a despeito de ter raízes indígenas e afrodescendentes, acaba perdendo para o café, mais consumido por uma questão de tradição. É essa realidade que os sommeliers de chá querem mudar.
GLMRM conversou com Dani Lieuthier, fundadora do Instituto Chá, a primeira escola de sommelier de chá do Brasil. A empresária é pioneira no assunto e explicou sobre a bebida (ainda) não é tão popular aqui como em outros países. Para começo de conversa, é preciso diferenciar chá e infusão. Como Dani explica, chá é o nome de uma planta, a Camellia Sinensis, que produz os populares chás verde, preto e o branco. Enquanto o chá de camomila, por exemplo, seria uma infusão.
As infusões, ela explica, são as bebidas que têm mais apelo por aqui, devido justamente às raízes indígenas e afrodescendentes, que empregam o uso de ervas para cura, principalmente no Norte e Nordeste do país.
Por meio de cursos sobre a bebida, a especialista quer mostrar que o chá é muito mais do que uma bebida quente para aquecer ou um substituto do café. “O chá traz inúmeras possibilidades de termos um prazer gastronômico. Temos uma imensidão de sabores e aromas que são originados da mesma planta. Uma diversidade incrível, assim como tem no vinho, na cerveja e no café”, explica.
Crescimento na pandemia
Dani relata que o isolamento social durante a pandemia aumentou o consumo, num momento em que a maioria das pessoas buscou, de alguma forma, cuidar da saúde.
“Em 2020 houve um aumento gigantesco no consumo de chás: o crescimento esperado pela Leão, marca líder de mercado, dobrou. Tem muita oportunidade de mercado porque é um setor que está crescendo, tem cada vez mais gente consumindo. Muitas pessoas procuram nossa escola buscando mudar de carreira e se encontram”, comenta a sommelier.
Morando em plantações
O Instituto do Chá surgiu quando Dani foi passar nove meses viajando por oito países produtores de chá. Morou em três plantações da bebida durante esse tempo e fez um intercâmbio em que os voluntários trabalhavam em fazendas orgânicas das mais diversas culturas.
Na Turquia, por exemplo, ela morou em uma plantação de chá preto. “Quando vemos a planta já seca, pronta para ser usada, acabamos não nos conectando tanto com ela, mas poder estar na plantação foi uma experiência que fez meus olhos marejarem. Aquele aroma e aquela energia são incríveis.”
A consultora, que visitou 11 países para pesquisar a Camellia Sinensis, lançou de início o instituto como uma escola itinerante. “Estivemos em 10 cidades com o curso de sommelier de chá. No curso, degustamos mais de 60 tipos de chá da Camellia Sinensis, então, imagina como é a mala, cheia de bules, copinhos”, comenta.
Após percorrer quatro dos cinco continentes estudando e repassando conhecimento, Dani reforça que a ideia é difundir a cultura do chá. “Essa é uma planta tão sagrada! Eu estudo e apoio as tradições indígenas no Brasil. Busco proteger o conhecimento desse povo e transformar em algo lucrativo para apoiá-los. Vejo o chá como uma possibilidade de mudar o mundo.”
Além de entender e difundir a cultura do bebida, o sommelier aprende a conhecer os diferentes processamentos, como harmonizar chás com diferentes alimentos e se aventurar na criação de receitas culinárias com a bebida. Dani Lieuthier comemora o interesse cada vez maior pelo curso:
“A gente difunde a cultura do chá e assim ele cresce em progressão geométrica. Temos mais de 600 alunos formados, se cada um ensinar para 10 outras pessoas, já são 6 mil.”