Publicidade
Bivolt
Foto: Luq Dias

Entre rimas e coreografias, as mulheres sempre estiveram lá, fazendo rap na quebrada, mas com pouca visibilidade e batalhando por espaço em um meio dominado por homens. Do fim dos anos 1980, época em que locais como a Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, começaram a ser ocupados pelas batalhas de rap, até hoje, muita coisa mudou. Nos últimos anos, uma geração de rappers americanas, como Cardi B e Megan Thee Stallion, mostrou a que veio e dominou a cena com postura e letras provocadoras, fazendo com que o mercado da música e o público olhassem com mais atenção para as cantoras desse estilo.

“As minas rappers sempre existiram, mas não estavam em evidência”

diz a rapper carioca Ebony, de 21 anos, que, em 2021, lançou Visão Periférica, seu primeiro álbum autoral.

A mudança rumo a um cenário mais inclusivo está em curso, mas ainda há algumas barreiras a serem quebradas. O que acontece, segundo Bivolt, paulistana da comunidade do Boqueirão, que teve sua foto estampada em plena Times Square, em Nova York, em ação do Spotify, é as mulheres terem mais visibilidade quando recebem
apoio dos homens – aí, o retorno é fenomenal. “Os ouvidos do público ainda são muito mais abertos para os homens. Ou seja, as pessoas só param pra te ouvir se um cara falar que teu som é bom”, afirma ela, que iniciou o ano se apresentando no festival SXSW (South by Southwest).

Dona de versos afiados, Drik Barbosa começou nas batalhas do Santa Cruz, mesmo lugar onde surgiram nomes consagrados, como Emicida, Rashid e Projota. Chamou atenção ao colaborar com artistas como DJ Caique, Flow MC e Marcello Gugu. Mas ela queria mais. Queria ser vista e ouvida por sua arte. Assim, Drik apostou na carreira solo. Em 2018, lançou o EP Espelho, que transita entre o rap e o R&B, e conta com participações de Rincon Sapiência e Stefanie Roberta. Recentemente, apresentou seu novo trabalho com o single “Quem Tem Joga”, no qual se joga no funk ao lado de Karol Conká e Gloria Groove. O videoclipe da faixa passou a marca de 2 milhões
de views. “Acho que quanto mais mulheres entrarem na cena e sentirem motivação e segurança para serem quem são com sua arte, melhor”, diz Drik. Ela lembra que, no início da carreira, ver outras mulheres no hip-hop a ajudou muito, despertando uma sensação de pertencimento.

Resistência

O preconceito muitas vezes está no próprio meio. Segundo Drik, ainda existem muitos rappers homens que não entendem a potência que é ter mulheres fazendo rimas, contando sobre sua realidade e expressando seus sentimentos, lutas e desafios. “A gente tem que enfrentar um público masculino que parou no tempo. Muito do que eles pensam é alimentado pelo machismo estrutural.” Para ela, só tem um jeito de mudar
isso: metendo o pé na porta.

“Temos de mostrar que somos potência e quem não aceitar, vai chorar”

Drik Barbosa

A rapper ressalta que essa luta é travada pelas mulheres em todo o cenário musical: “Ainda falta reconhecimento, patrocínio e retorno financeiro para que a gente tenha segurança e continue fazendo arte”. Mas as minas do rap seguem firmes e cheias de planos. “O que me inspira é saber que sou referência para outras garotas pretas, que alguém vai ouvir minha história e vai se sentir encorajado”, diz Ebony, frisando que é impossível existir sem fazer o que ama, “e o que mais amo é a música”. A jovem não deixa de citar suas principais influências: a avó, a quebrada e suas múltiplas vivências. “Como rapper tenho a possibilidade de expressar, contar e influenciar outras mulheres periféricas como eu. Estamos vivas e presentes, ocupando e resistindo”, finaliza.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter