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Marieta Severo
Foto: Globo/Fabio Rocha

Há algumas semanas o nome da atriz, roteirista e produtora cultural Marieta Severo tornou-se um dos assuntos mais falados na internet. Em uma entrevista à revista Marie Claire, ela comentou sobre o atual momento de vida, aos 75 anos. “Posso estar toda enrugada, mas quero meus neurônios funcionando”, disse. Não me espantou o fato de Marieta – uma grande intelectual brasileira – ter dito isso. Mas sim a repercussão dessa fala nas redes sociais.

Foram milhares de compartilhamentos, provavelmente não só de mulheres. Recebi dos meus trainees, de clientes, de amigos. Logo soube que Marieta Severo era trending topics no Twitter. Pode ser que do ponto de vista biológico ainda faça algum sentido falar em 50+, 60+, 80+. Sabemos que o corpo passa por mudanças e, sim, há perdas. O que posso dizer é que no âmbito de comportamento, quando se fala em propósito de vida, divisões assim não dão mais conta de cobrir o espectro amplo, complexo e fascinante da maturidade.

Depois dos 50 anos, outros 50

O envelhecimento é um fenômeno novo no Brasil. Pela primeira vez na história, dentro de pouco tempo seremos um país com mais idosos do que crianças. Uma realidade que não conhecemos ainda. Sempre fomos um país majoritariamente de jovens, adultos e crianças. Até 2050, no entanto, veremos mais cabeças brancas nas ruas. Com isso, está a caminho também uma transformação que irá do planejamento urbano, à forma como lojas, produtos e serviços atendem – e não excluem – uma sociedade mais longeva. Cada vez que vejo um semáforo de pedestres com pouco tempo para a travessia de uma pessoa mais velha ou um restaurante que só tem cardápio em QR Code, penso: o Brsil tem muito chão pela frente nesse assunto.

“Sempre fomos um país majoritariamente de jovens, adultos e crianças. Até 2050, no entanto, veremos mais cabeças brancas nas ruas. Com isso, está a caminho também uma transformação”

Daí a gente chega num mar de oportunidades. Negócios que ainda não existem, caminhos ainda não explorados. Soluções que, no contexto macro, têm a ver com inclusão. Tenho a mais plena certeza de que formas de comunicação poderão ser revistas e marcas terão o desafio de desestigmatizar esse público, que está muito, muito além de um número; 50, 60, 70… Mas como?

Na comunicação e no entretenimento, deverá haver espaço para narrativas de senioridade que fujam do estereótipo difundido: a velhice como um lugar apenas de fragilidades, um lugar pretensamente ruim, onde ninguém quer estar. Isso está longe de ser verdade. Talvez esse tenha sido o ponto da Marieta, quando ela diz não ligar para a pele estar mais ou menos enrugada – e sim para sua enorme potência criativa, a caminho dos 80 anos. Campanhas publicitárias também poderão ser repensadas, assim como as caracterizações de personagens em séries, filmes e novelas.

Envelhecer pode ter uma parte chata, como todo processo de mudança. Mas também tem muita conquista e usufruto. Lembrando que perdas e ganhos fazem parte de qualquer processo de vida. Quando a criança cresce e se torna adolescente ela perde: os dentes de leite, a inocência, a fantasia. Por outro lado, ganha: descobertas, autonomia, perspectiva. Na juventude para a vida adulta, a gente também perde e ganha. Por que na maturidade seria diferente? Tem parte chata, mas a parte boa é ótima. Deixando de rotular indivíduos por faixas etárias – acompanhadas por um símbolo matemático “+” – já daremos um grande passo.

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