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Manu Gavassi
Foto: Gabriela Schmidt

Por André Aloi / Fotos: Gabriela Schmidt

Para dar vida ao álbum visual “Gracinha” (cujo álbum orquestrado chegou essa semana às plataformas digitais), Manu Gavassi ficou afastada das redes sociais por nove meses depois de passar 100 dias confinada na casa mais vigiada do País – ou no retiro espiritual, como ela mesma gosta de contar sobre a experiência no Big Brother Brasil (BBB), pelo qual passou em 2020 e inovou o jeito de comunicar. “Sabia que ia ser muito difícil, é muito trabalho, função e um projeto diferente. Precisaria ter coragem e acho que sem todas essas vozes da internet, sem todo esse julgamento, sem toda a expectativa ou comparação, sabia que ia criar uma coisa mais legal”, conta sobre o processo de imersão.

Fotos: Gabriela Schmidt

Gosto sempre de me desafiar, subir o nível e acho que depois do clipe de ‘Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim’ (com participação de Gloria Groove), que era um curta de 10 minutos, pensei: ok, para onde eu vou? Vou fazer um álbum visual, porque fazia todo sentido depois de anos aprendendo tudo: direção, fotografia, estudando bastante roteiro…Foi um caminho natural”

Manu Gavassi, cantora

Enquanto estava no reality show da Globo, a cantora esgotou a turnê de “Cute But Psycho” em algumas capitais do País, que foi remarcada devido à pandemia de Covid-19, mas com o lançamento do álbum visual deixa para 2022 um cenário incerto do que poderia ser sua nova turnê com a retomada dos eventos ao vivo. “Preciso muito descansar. Nunca trabalhei tanto na minha vida como nos dois últimos anos. Até para as minhas ideias seguirem, preciso de um tempo para pensar. A gente ainda não teve essa reunião e planos do que vai ser ano que vem”, conta.

De certo, estará no elenco de “Maldivas”, série da Netflix ainda sem data para ser lançada. Manu fala sobre o processo de afastamento do mundo digital, amizade com Bruna Marquezine e as ex-BBBs Thelma de Assis e Rafa Kalimann e faz votos para o fim de 2021. Ao papo!

Fotos: Gabriela Schmidt
  • O que aconteceu que te fez querer ficar afastada das redes sociais depois dos 100 dias confinada no “Big Brother Brasil”, no ano passado?

  • Manu Gavassi

    Foi uma experimentação muito bem-sucedida sobre a minha saúde mental, minha criatividade, sobre a artista que quero ser daqui pra frente. A gente está perdendo um pouco a mão da quantidade de tempo que fica nas redes sociais e do que isso implica em termos de criatividade. Hoje em dia, os artistas são cobrados a correr atrás dos números o tempo inteiro. É mais sobre você lançar um single a cada quinze dias – número, número e número – do que você, realmente, fazer alguma coisa de diferente. Isso (da cobrança) começou a me deixar muito triste. Estava entrando nessa, pensando: vão me esquecer. Se não lançar uma coisa por mês, minha carreira vai acabar. Uma pressão que não é minha, não é verdadeira e você acaba entrando nessa. Foi uma decisão muito importante para conseguir fazer um trabalho grandioso como esse, que foi um álbum visual para a Disney.

  • avatar glamurama

    Como você conseguiu manter sob sigilo um projeto dessa magnitude?

  • Manu Gavassi

    Descobri a magia do “por favorzinho”. Quando você, realmente, olha no olho das pessoas e explica que é segredo. Magicamente, você é respeitada e é incrível isso. Lidei e tratei com todas as pessoas, explicando porque era legal isso ser sigilo. Ninguém vazou nenhuma informação e olha que tinha muita gente trabalhando e eu me escondi completamente. Estava de cabelo cortado, andava de peruca por Ouro Preto (MG), ninguém sabia. Acho que ninguém me reconheceu.

  • avatar glamurama

    A parceria com a Disney terminou em “Gracinha”. Porque seus fãs ficam especulando sobre uma segunda parte… Manu Gavassi quer uma continuação?

  • Manu Gavassi

    Não sei, porque eu enjoo das minhas fases. Quando você é tão autoral, ao ponto de o que você faz no seu trabalho – nas suas letras, na sua música – conta da sua vida, acho que é um capítulo que se encerra. Não tenho muita pira de ficar na mesma página. “Gracinha” foi o final de um ciclo ao qual sou muito grata e acabou da melhor maneira possível. Mas também não digo que não porque nunca se sabe. Se isso fizer sentido mais pra frente, de repente ter uma segunda parte, por que não? Mas não é algo foi pensado para isso.

  • avatar glamurama

    No Brasil é difícil fazer musicais, porque não há essa cultura, como acontece nos Estados Unidos – com a Broadway e até filmes com essa temática. Como foi pra você entender que seu público estava preparado para um álbum visual e poder adaptar?

  • Manu Gavassi

    É um trabalho ousado porque não é o que a gente está acostumado a consumir aqui no Brasil. Não é a maneira que a gente está acostumado a consumir clipes, dentro de uma plataforma… Sabia que era um projeto estranho para o meu país, mas eu gosto disso. Acho que sou estranha, afinal de contas e é isso que venho provando. (risos). Fico muito incomodada em me repetir, em ficar na mesma por muito tempo. Para mim, o lance da minha arte é sempre me desafiar e evoluir. Foi natural, no meu coração, não foi um projeto de: ‘ah eu preciso fazer algo diferente’. Para onde o cérebro vai depois de ter feito um clipe de 10 minutos? Como juntar tudo que eu aprendi em um projeto? Fazendo um álbum visual! Porque contempla o que eu gosto e tudo o que aprendi a fazer nos últimos anos. E eu comprei esse risco porque sucesso é uma coisa muito pessoal. Desde que entendi isso, pergunto: o que eu gosto? O que que eu quero pra mim? Quem eu quero ser? Daqui 10 anos, vou olhar pra trás e o que vou ter deixado? Esse projeto é tão importante para mim, porque é um grito de liberdade para a minha carreira. De entender que posso ocupar lugares que antes eu não ocupava. Nunca me imaginei sozinha, vendendo um álbum visual para a Disney, com as minhas ideias e fazendo tudo.

  • avatar glamurama

    É um conto de fadas que deu certo?

  • Manu Gavassi

    Com certeza. É o meu conto de fadas todo errado. Todo machucadinho, todo gótico, mas é o meu conto de fadas.

  • avatar glamurama

    “Gracinha” versa sobre artistas emocionalmente instáveis. Quanto mais soltos no palco, mais densos e deprimidos. Você não teve contato com nada na internet ou só redes sociais?

  • Manu Gavassi

    Não tive contato com nenhuma rede social. Fiquei um mês sem celular, só me comunicava por e-mail, o que gerou um hábito em mim, na minha equipe e até em amigos. Se comunicar por e-mail é superlegal porque é muito mais organizado e você não tem aquele imediatismo. Pode mandar, elas vão ler e responder quando puderem. Legal entender que poderia me comunicar de outras formas e que, às vezes, eram mais produtivas. Depois, voltei com o celular e só não tinha as redes sociais. Vou te falar que foi muito fácil essa adaptação, porque o dia tem mais horas, você fica mais produtivo… Metade das minhas ansiedades foram embora porque você não está se comparando, não está ligada na velocidade que todo mundo está fazendo as coisas. Sem essa avalanche de informações, senti que a vida é muito mais tranquila de ser aproveitada. A criatividade fica melhor porque você não está se comparando e tem ideias mais originais porque não está sendo influenciada por tudo. Tudo ficou muito confortável para mim. O ruim é voltar (risos).

  • avatar glamurama

    E pra onde você vai de férias?

  • Manu Gavassi

    Nenhum lugar. Vou ficar na minha casa, no máximo vou para o interior, mas não quero viajar, não. Porque viajar é mais função, vou ficar mais cansada. Quero ficar quietinha.

  • avatar glamurama

    Vai sair a versão física em CD ou em vinil de “Gracinha”?

  • Manu Gavassi

    Não faço a menor ideia (risos). A gente pode perguntar pro Felipe Limas, meu empresário? (risos)

  • avatar glamurama

    Essa negatividade das redes sociais é uma consequência do sucesso? Como lida com isso? Por ser mulher, tem que se provar toda vez em um novo projeto?

  • Manu Gavassi

    Hating é uma coisa que sempre vai existir porque existem diferentes pessoas em diferentes processos de evolução e de seguranças e inseguranças. Não é sobre mim, sobre o que eu faço, o que eu não faço. Sou criticada desde que tinha 15 anos de idade. Então, eu já recebi todo o tipo de crítica. Se buscar meu nome no Twitter, agora, vou ler coisas horríveis sobre mim. Entendi que não tem a ver com quem você é, onde você está na carreira, se você tem talento ou não. Tem a ver com inseguranças de pessoas que estão ali e não sabem lidar com certas informações e querem te atacar. É difícil porque, quando você se coloca no lugar, por exemplo, eu nunca faria isso com uma pessoa que eu não gosto do trabalho. Porque eu só não gosto do trabalho, não quero que ela morra.

  • avatar glamurama

    E tem alguma coisa que você diz não com relação a trabalho? Ou nunca diga nunca?

  • Manu Gavassi

    Nunca diga nunca, né? Cara, eu morei três meses em um reality show. Quem diria? Cada situação é única e se tem uma coisa que eu aprendi confinada é que você nunca sabe o que pode ser bom. Porque uma boa ideia é uma boa ideia em qualquer lugar. Só entrei no reality por conta dessa ideia (de fazer cross entre o que estava rolando lá dentro com uma websérie para as redes). Às vezes, uma excelente oportunidade vem do lugar mais estranho.

  • avatar glamurama

    Em 2022 deve estrear Maldivas, na Netflix. O que você pode falar de série? Como é seu personagem? Houve alguma preparação específica?

  • Manu Gavassi

    “Maldivas” é o sonho da minha vida lançar (risos). Geralmente, os projetos que faço parte são os autorais em que, no mínimo, sei um pouco do que está acontecendo. A gente ainda não sabe (quando vai lançar), não passaram nada para o elenco (composto por Sheron Menezzes, Bruna Marquezine, Carol Castro, Vanessa Gerbelli e a própria Natalia). Eu e as meninas estamos morrendo de ansiedade porque foi um processo intenso. Queria muito trabalhar com a Netflix em um grande projeto e esse convite aconteceu logo que saí do “Big Brother”(em 2020). Foram quatro meses de gravações no Rio de Janeiro e foi muito gostoso trabalhar em um projeto que descanso de mim mesma. Agradeço muito à Natalia Klein, que é a roteirista, porque me escolheu para uma personagem que, teoricamente, não tem nada a ver comigo, mergulhar nesse universo e até me provar como atriz. Acreditava pouco em mim como atriz ao mesmo que eu gosto muito de interpretar. Sempre faço versões de mim mesma. Essa personagem vem de outro universo, uma dondoca de condomínio, casada com um cirurgião. Tem questões ali completamente diferentes da minha vida. Muito legal provar minha força como atriz e meu potencial para mim mesma antes de mais nada.

  • avatar glamurama

    Você e a Bruna Marquezine são muito amigas. Tem algum projeto dos sonhos em que gostariam de atuar juntas ou quando se unem nem falam de trabalho?

  • Manu Gavassi

    A gente conversa muito sobre tudo. É legal ter uma pessoa que, às vezes, passa por conflitos parecidos com o seu em relação ao trabalho. A gente se acolhe, se dá dica, conversa muito uma com a outra. Legal ver como a gente amadureceu, porque se conhece desde muito novinha. Ver o amadurecimento uma da outra, nossas conquistas profissionais, isso é legal. A gente nunca teve essa ideia.

  • avatar glamurama

    Você, Thelma Assis e a Rafa Kalimann seguem amigas pós-BBB?

  • Manu Gavassi

    Sempre falo com a Rafa e com a Telminha. São o tipo de amigas que você pode ficar meses sem falar, mas o que a gente viveu juntas é um laço para a vida inteira. Acabei de receber o livro da Telminha (“Querer, poder, vencer”) e tem uma parte que ela escreve sobre o “Big Brother” e foi muito gostoso ler. Principalmente, porque tem coisas que a gente esquece ou a gente se acostumou a dar tanta entrevista falando disso que, às vezes, você acredita em uma versão porque falou muito e esquece de como era difícil estar lá.

  • avatar glamurama

    Você é head de conteúdo de uma marca de gin. Mas também já lançou linha de make e roupas. Tem algum produto que gostaria de ver seu nome estampado ou um projeto dos sonhos que você queria muito contribuir?

  • Manu Gavassi

    Fico muito feliz com as minhas parcerias com as marcas porque me dão total liberdade criativa. O que, há dois anos, tinha que implorar e ouvir não. Comecei a abrir essas portas e até mudar coisas para criadores que vieram depois. Hoje, as marcas estão dando muito mais liberdade. Em 2018 e 2019, era muito difícil fazer a marca entender que o seu jeito podia funcionar. Depois do Big Brother, virei uma vitrine do meu trabalho. Então, as coisas realmente mudaram para mim. Hoje, existem muito mais possibilidades. É muito legal poder imprimir isso no mercado publicitário. Falando de sonhos futuros, venho traçando um caminho muito legal em publicidade, gosto disso. Queria ampliar e sempre transformar em entretenimento. Uma publicidade legal é aquela que você assiste e é gostoso, te prende, te entretém e não é puramente um comercial. Tem alguma coisa que você se identifica, te chama a atenção, passa uma mensagem além do produto. É o tipo de coisa que gosto de fazer. Espero poder fazer projetos grandiosos, ousados e inusitados na publicidade.

  • avatar glamurama

    Se pudesse escrever um bilhete para o fim de 2021, o que estaria escrito nele?

  • Manu Gavassi

    Acho que estaria escrito “por essa, você não esperava, né?”. Eu amo surpresas da vida.  Estou tão cansada dos dois últimos anos, que quero muito que o ano que vem me surpreenda. Estou cansada de correr atrás, queria receber telefonemas, sabe? (risos) É difícil ser criativa, as ideias saem da tua cabeça e tem que correr atrás delas. Eu brinco: estou tão cansada que eu quero relaxar e sonhar com meu próximo projeto. Espero que, no final de 2022, esteja escrito: “Por essa você não esperava, né, bonitona?”.

  • avatar glamurama

    Nesse ano tão difícil, qual foi a coisa que mais te surpreendeu?

  • Manu Gavassi

    Tive experiências muito únicas. Por mais que a gente esteja passando por um ano difícil, consegui olhar pra dentro, para a minha saúde mental e coisas que – talvez – em outros cenários mascarasse. Consegui focar em mim e no que era interessante. Antes de tudo, me respeitar. Era só para ser um álbum e virou uma grande jornada de autoconhecimento e desafios. Esse processo de “Gracinha” foi uma imersão em vários sentidos, na minha vida pessoal, também, mais do que na vida profissional.

  • avatar glamurama

    Sei que você se cobra muito, você já aprendeu a ser generosa com você mesma?

  • Manu Gavassi

    Acredito que sim. O lançamento de “Gracinha” é um passo muito importante porque é o tipo de projeto que fica, um legado que você deixa… É um filme! O mais legal é receber respostas e mensagens de pessoas que mal ouviram uma música minha na vida, sabe?  “Gracinha” me fez entender que sou boa no que eu faço. Eu acho que foi meu TCC.

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