Rincon Sapiência está se aventurando livremente na música sem a pressão de acompanhar o mercado frenético, em que os artistas disponibilizam uma canção por semana. O artista, que lançou recentemente o single “Sol” em parceria com a cantora Marissol Mwaba tem dedicado o tempo para finalizar algumas letras de sua autoria e sem a pressão de lançar um álbum a qualquer custo.
“Está sendo bacana produzir, chamar alguém para ajudar na composição, entender o que sai, trocar com outras pessoas. Estou me divertindo bastante”
Rincon Sapiência
Em papo com Glamurama, o rapper comentou sobre a liberdade na carreira, relação com a moda, o impacto da pandemia na quebrada, os elogios recebidos de Mano Brown, novos projetos e o começo de ciclo, já que completou 36 anos no último dia 9 de setembro.
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O que mudou no Rincon artista desde que lançou, em 2016, “Ponta de Lança”, o álbum que o colocou nas paradas de sucesso, para o atual?
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O artista é uma camada do indivíduo que por sua vez muda. É assim a vida toda. Você tem uma forma de se posicionar e com o tempo vai revendo isso, mudando a personalidade, vendo o que funciona e o que não funciona. Na arte não é diferente, então de lá para cá as minhas perspectivas mudaram, tanto na área pessoal como na musical. Tudo o que acontece no mundo influencia a gente. De 2016 até agora, as mudanças são bruscas falando do mercado de música, política, sociedade, arte, tudo.
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Você completou 36 anos recentemente. Chegou a refletir sobre o que passou e esse novo ciclo na sua vida?
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Inconscientemente acabamos fazendo isso nos términos de ciclos, mas desta vez acabei pensando naquilo que está valendo ser feito e o que não quero mais. Meu processo passou mais por essa parte.
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Você considera que está em uma fase mais “livre” na carreira?
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Carrego esse espírito livre, de permitir, mas tenho meus caprichos em determinado momento. Pretendo construir algo com uma narrativa, talvez um álbum.
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Então podemos esperar um álbum novo? Quais os projetos futuros?
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Eu gosto muito de fazer álbum e as coisas caminham para que mais para frente, no ano que vem, exista essa possibilidade. Por enquanto, tenho lançado singles e tem sido interessante para entender como as pessoas sentem a música. Por serem lançamentos individuais, da minha parte não existe a cobrança das canções terem uma continuidade. Tenho curtido bastante esse momento.
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Como foi a elaboração do seu novo single “Sol”?
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Foi uma música em que comecei pelo instrumental e me trouxe algo solar. Ela tem aquele clima diferente de outras letras de rap que remetem a algo noturno, balada e aquela coisa toda urbana. É sempre um desafio quando vou compor, falar sobre um assunto interessante ou algo que ainda não retratei. Quando tive a ideia de contemplar o sol pensei que não faltavam referências para compor em cima do instrumental, até que em determinado momento não consegui mais dar continuidade, então recorri a Marisol por distância (devido à Covid-19). Ela acabou trazendo a melodia e ideias novas deixando a canção com esse clima agradável. Foi algo muito espontâneo, a natureza em si acabou me inspirando.
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Como foi o convite para a participação da Marisol?
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Ela é muito talentosa. Já acompanhava nas redes sociais até que no meu último disco “Mundo Manicômio” contei com a presença dela em uma das faixas tocando baixo e fazendo os vocais. Neste processo, entendi a forma como ela trabalha: é minuciosa, cuidadosa e detalhista, porém muito espontânea. Essas características são muito parecidas com a forma com que eu trabalho, então naturalmente ela se tornou uma pessoa fácil de trabalhar no estúdio, ter ideias e executá-las. Então, quando me senti um pouco ‘travado’ na canção logo pensei nela. Sabia que teria essa solução para dar continuidade na música.
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A canção vem de encontro com a atual situação política e social do Brasil?
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O Brasil atual acaba precisando disso. A gente vive essas questões e como artista entende a situação e como ela nos atravessa. Mas, ao mesmo tempo, me permito narrar qualquer tipo de sentimento que não seja esse também porque precisamos trazer uma energia oposta a do Brasil atual, seja na área social, política e em tudo mais. Acabei fazendo essa música com essa energia, mas tenho total noção e ciência dos tempos que vivemos e que infelizmente não são os mais agradáveis. Se essa música servir para ser um momento de quebra eu já me sinto feliz porque sei que não está fácil.
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O Mano Brown, que é um dos principais nomes do rap nacional, elogiou você recentemente. Como se sente?
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Sou suspeito para falar do Brown, tanto do artista como da pessoa. Ele é bacana e inspirador pelas letra e história. A gente nota que é um excelente comunicador, mas agora com o podcast mostrou um outro lado. Cada hora fico mais fã da pessoa dele.
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Você é muito estiloso. Qual a sua relação com a moda?
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É aquele lugar que você precisa comunicar porque todo mundo tem esse anseio de transmitir algo. Antes de falarmos qualquer coisa, o que vestimos e a forma como nosso corpo está alinhado mostram muito sobre a gente, nossas pesquisas, gostos, astral… Quanto mais entendi isso, mais me impulsionei artisticamente. A moda acaba sendo um grito.
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Na sua visão, como foi o cotidiano da periferia durante o isolamento causado pela pandemia?
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Na periferia esse isolamento não aconteceu por não ter escolha. Se isolar ou não, como fazer isso? Para ficar esse tempo em “off” era preciso ter grana. Existem pessoas que entendem que é um problema de saúde e estão se cuidando, mas por aqui pouco se escuta sobre essa situação, o pessoal teve que trabalhar, pegar ônibus, condução, além dos desempregados e autônomos que dependem dos outros. Teve quem conseguiu trabalhar de casa ou fazer seu serviço online. Já nas quebradas, não teve essa realidade.
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