João Incerti decidiu pedir as contas na Farm, onde fez carreira como designer de estampas, para se dedicar a seu trabalho autoral. Acostumado a desenhar desde cedo, num período em que o lápis e o papel serviam de passatempos para a vida na fazenda em Teresópolis (RJ), onde cresceu, o artista de 26 anos lembra que, assim que precisou escolher uma profissão, só conseguia pensar em carreiras que estivessem relacionadas a tal habilidade. Foi durante um curso livre, no qual se viu desafiado a copiar imagens de croquis, que a moda apareceu como uma opção. Mais ou menos nesse período, antes ainda de ingressar na faculdade de moda no Senai Cetiqt, ele começou a customizar roupas com água sanitária para vender na Feira do Lavradio, no Rio, e, mais tarde, acabou entrando em contato com a estamparia por meio de uma oficina com o diretor desse núcleo na Farm, marca na qual, em pouco tempo, passou de designer júnior a especialista em arte, o cargo mais alto dentro da sua área.
Com a pandemia e o excesso de tempo em casa, surgiu a ideia de decorar o espaço que antes era “apenas para dormir”. “Eu tinha muita identidade com a roupa, mas, quando ia colocar algo na parede, não era a mesma coisa”, diz João, que passou a pintar telas para preencher o próprio lar e, em uma semana, conseguiu ressignificar, por meio da pintura, até mesmo o corredor de sua casa. No ano passado, ele também recebeu o convite para desenvolver uma coleção de itens de decoração com a bobinex Uau, que ganhou o título “Ai que perrengue”. “Gosto dessa coisa divertida nas roupas e trouxe isso para a coleção, mas é algo que comecei a abrir mão [na pintura] porque não acho que os quadros tenham que ser cômicos, mas trazer sentimentos”, explica. “Quero que meu trabalho tenha um significado. As coisas que a gente coloca na parede representam muito a energia do lugar.”
Não à toa, suas criações foram ganhando as redes e seu perfil no Instagram, @o_incerti, atraiu não só um punhado de seguidores (mais de 80 mil), como pedidos para que imprimisse sua marca em lares que não o seu. Além da cenógrafa e designer de interiores Gigi Barreto, que o chamou para pensar o quarto de sua filha, o artista foi convidado pela estilista Betina de Luca para desenhar o hall de entrada da sua casa em São Paulo. A ideia da Betina era que a pintura transmitisse alegria, para que seus convidados se sentissem bem recebidos logo que chegassem, e João trabalhou com o conceito de entusiasmo. “Às vezes um sentimento entra na minha cabeça e fico obcecado por ele, pensando em como poderia retratá-lo”, conta o artista, que chegou a perder seu voo de volta ao Rio para conseguir terminar o trabalho. “Fiquei superemocionado quando vi o resultado. Achei tão elegante, tão grandioso que, quando olhei, nem parecia que eu que tinha feito”, lembra João. Ele agora planeja se dedicar não só à produção de quadros – no seu Instagram, chegam a 100 os pedidos por obras suas –, mas a projetos cada vez mais ambiciosos. “Pretendo pintar em muitos lugares ainda e coisas cada vez maiores. Estou com a sensação de que, em breve, vou conhecer muito do mundo por causa do meu trabalho.”
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