Uma nova era. Após um hiato, Negra Li ressurge e lança seu mais novo single “Comando”, que nada mais é que um manifesto sobre os obstáculos e preconceitos que a comunidade preta enfrenta diariamente. Aos 41 anos, a rapper está mais madura, à vontade consigo mesma e cheia de novidades. E mandou um papo reto com o Glamurama. À entrevista!
Glamurama: Quais suas expectativas para esse novo trabalho?
Negra Li: São as melhores! Estou muito confiante porque esse trabalho foi feito com tempo, dedicação, com uma equipe maravilhosa por trás. Tudo foi feito com muito amor.
G: Você está lançando seu novo single em plena pandemia com a ajuda das plataformas de streaming. Acredita que esse é o novo modo de fazer música?
NL: É um novo jeito de fazer música que já está acontecendo há muito tempo. Acho maravilhosa essa ferramenta, que impulsiona e faz nosso trabalho chegar mais rápido para o maior número de pessoas. Isso é incrível para nós que somos artistas!
G: Sua filha Sofia, de 11 anos, participou do clipe. Ela pensa em seguir a mesma carreira da mãe?
NL: É o terceiro trabalho em que eu envolvo a Sofia e sim, todos os dias ela demonstra que quer seguir minha carreira. Ela, inclusive, faz aulas de teatro musical, para se preparar caso seja isso que queira fazer. Ela diz que quer estudar cinema. Menina talentosa e linda! Não tenho como não utilizar isso dela e não aproveitar no meu trabalho (risos).
G: O clipe foi ambientado em uma fazenda construída por trabalho escravo na época dos barões de café. Você acha importante essa ressignificação?
NL: É importante ressignificar tudo que faz a gente sofrer, que remete a sofrimento. O meu nome é uma ressignificação, é uma afirmação, é um orgulho de onde eu vim, que me faz lembrar todos os dias quem eu sou. Acaba ficando menos doloroso o nosso sofrimento. É como ter resiliência, a gente tirar lição daquilo que nos faz sofrer.
G: Você anuncia uma nova era aos 41 anos. Como é sua relação com a idade?
NL: Me vejo muito mais madura neste momento. É uma fase incrível… realmente chegar aos 40 é especial. Estou me sentindo cheia de energia. Nunca me senti tão jovem, sabe? Ter amadurecimento é tudo na vida, porque tudo que você faz é de um jeito mais leve, não sobrecarrega. Você já entende, já se conhece. Autoconhecimento é tudo. Com certeza, estou vivendo uma das melhores fases da minha vida.
G: Você postou um vídeo emocionadíssima nas redes, chorando… fale desse momento.
NL: Quando eu vi o resultado de uma das fotos que a gente fez na gravação do videoclipe, fiquei impressionada como deu leitura no meu olhar, daquilo que eu estava sentindo. Consegui expressar o que estava sentindo por dentro, através da imagem. Aquilo me impactou, passou um filme na minha cabeça, de toda luta, vontade, sonho de chegar neste momento que estou vivendo agora. É muito bom estar aqui!
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G: Ao mesmo tempo, foi uma exposição de um momento íntimo. Como lida com essa exposição nas redes sociais?
NL: Estou me acostumando, mas sei que junto com aquilo que quero alcançar vai vir uma maior exposição. Então é bom para que eu já me prepare para lidar com isso. Na verdade, me sinto preparada, acho que chegou a hora. Estou me adaptando muito bem, são ossos do ofício.
G: Em seu trabalho, você destaca a importância das questões sociais. Seria esse o seu jeito de mostrar indignação com o Brasil?
NL: Comecei minha carreira no rap já relatando os problemas sociais. Isso é uma coisa que é de mim antes mesmo de começar a cantar. Desde o colégio, quando eu debatia com os meus professores de história, sempre fui muito curiosa a respeito do que acontece com a desigualdade, preconceito, escravidão. Não poderia ser diferente. Em todos os meus discos você pode encontrar letras que de alguma forma falam da situação que eu acredito que a gente deva lutar, que não deva aceitar.
G: Ao falar sobre a crise da Covid em Manaus, você afirmou que o descaso dos governantes está custando vidas. Você consegue enxergar futuro no Brasil?
NL: A gente está vivendo um momento muito desastroso politicamente falando e tenho esperanças, porque acredito no nosso país e principalmente nas pessoas que vivem aqui, que estão cansadas de desigualdade e tantas coisas erradas.
Play para conferir o clipe de ‘Comando’. (por Baárbara Martinez)