O nosso convidado desta sexta-feira foi Dodô Azevedo, que bateu um papo com Joyce Pascowitch sobre pensamento, arte e cultura. Ele atua em várias frentes como jornalista, escritor, roteirista, cineasta, e professor de história e filosofia, e é especializado na questão negra. Dodô é autor de vários livros e já escreveu e dirigiu alguns filmes. Ele vive em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, e foi roteirista do programa “Lazinho Com Você”, com Lázaro Ramos na TV Globo. Hoje, escreve toda semana Folha de SPaulo, mas já foi colunista de cultura do Jornal do Brasil, O Globo e portal G1.
Na conversa, Dodô explicou como podemos entender melhor a questão do negro e ser mais proativo na causa: “Lendo pessoas negras. Cresci em um mercado editorial que a variedade era muito pequena. Hoje temos nas livrarias, na própria vitrine, vários autores negros. Em 2019, fiz uma ficha dos livros que li e tomei um susto. Quando terminei só tinha autoras mulheres, e a maioria negras. Outra boa fonte são videos do Youtube. Na Netflix tem especiais com nomes como ‘Malcom X’, o filme ‘A Voz Suprema do Blues’ (…) A única coisa que tenho para dizer é que não tem um manual, tem que ouvir o outro. Tenho 10 mil livros. A gente está bem nutrido e informado sobre o que pensa o homem intelectual branco, só ouvimos a opinião deles até hoje. É preciso ouvir o outro lado. Estamos em uma espécie de Renascença, é só navegar e abrir a escuta.”.
Ele conta por quê os negros americanos se revoltam muito mais que os brasileiros diante da causa e por quê são mais articulados: “Existem duas explicações. No início da pandemia, quando ainda não existiam casos aqui, o Brasil chorava vendo o que acontecia na Itália. Hoje estamos com 1500 mortes por dia e festejando, quebrando quarentena. O brasileiro tem uma aderência maior ao que acontece fora daqui. No Brasil, se uma pessoa for esfaqueada no meio da rua, em Higienópolis, vai virar uma noticia maior do que se fosse no Capão Redondo. A colonização aqui deu mais certo, no sentido de que o propósito do colonizador é diminuir o colonizado. Nos Estados Unidos, 15% da população é negra e aqui, 60%.”, conta Dodô, que ressalta a segunda razão: “A miscigenação. Durante muitos anos romantizamos a miscigenação. O Brasil utópico da miscigenação é a menininha dos olhos de cantores e poetas. Saiu no ano passado uma pesquisa do IBGE sobre a demografia do Brasil no século 17 e naquela época 80% dos homens eram brancos, europeus colonos, e 80% das mulheres eram indígenas ou negras. Em algum momento, sou o fruto de um estrupo de uma mulher do século 17. A gente precisa olhar essas raízes e ver o que aconteceu com a miscigenação. Nos EUA, os negros sabem que são negros desde que nasceram”. Confira a live completa:
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