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Dono da fortuna que mais cresce no planeta, o selfmade chinês Qin Yinglin criou um império suíno a partir de 22 cabeças. Ele é o único controlador da Muyuan Foodstuff, companhia avaliada em R$ 270 bilhões

por Anderson Antunes

De acordo com o horóscopo chinês, o ano do porco foi em 2019, justamente aquele em que a China – que domina o mercado mundial de suínos – mais sofreu com a febre suína africana que matou milhões de animais desde 2018 e fez os preços dos não contaminados (ou de suas carnes, melhor dizendo) dispararem. A sorte pode até não ter andado ao lado dos suiformes chineses no ano passado, mas certamente tampouco deixou de fazer companhia a Qin Yinglin, um bilionário chinês de 55 anos que é praticamente um anônimo em seu país, apesar de deter o título de maior produtor de porcos do mundo. Mesmo assim, seu nome passou a figurar no noticiário nos últimos meses em razão de uma distinção que ele conquistou: proporcionalmente, nenhum outro membro do clube dos dez dígitos internacional viu sua fortuna aumentar nos últimos 12 meses no mesmo ritmo que a dele, e mesmo levando em conta a pandemia que chacoalhou e continua chacoalhando a economia global no fim desse período: a do novo coronavírus.

Qin Yinglin, bilionário chinês de 55 anos // Reprodução

Yinglin fez sua estreia nos rankings de bilionários em 2015, com um patrimônio pessoal estimado em US$ 1,2 bilhão. A soma foi revisada para US$ 1,7 bilhão, US$ 2 bilhões, US$ 3,6 bilhões e US$ 4,3 bilhões nos anos seguintes, respectivamente, sendo a última atribuída ao empresário nascido na província de Henan, a terceira mais populosa da China, em março de 2019. A partir daí, e no auge da crise causada pela febre suína africana, o montante começou a disparar como poucas vezes antes ocorreu no mundo dos super-ricos, e chegou a US$ 18,5 bilhões em abril deste ano. Para entender o interesse que a figura de Yinglin e seus negócios têm causado em especialistas econômicos, basta citar o valor atualizado: US$ 41,8 bilhões, mais do que o dobro de quatro meses atrás, e o suficiente para torná-lo o 43º homem mais rico do planeta no momento. Tamanho sucesso é resultado direto da empresa de Yinglin, a Muyuan Foodstuff, que por sua vez também viu suas vendas e valor de mercado aumentarem consideravelmente e bem acima da média, entre agosto de 2019 e agosto deste ano. Nesse um ano, o lucro da companhia sediada em Nanyang, no sudoeste de Henan, saltou mais de 300%. Com ação negociada nas bolsas de valores de Xangai e Shenzhen, a Muyuan viu seu papel pular 110% entre o começo e o fim do intervalo de tempo, e sua capitalização atual é de R$ 270 bilhões – Yinglin a controla praticamente sozinho.

A boa performance da Muyuan em tempos tão ruins para os produtores de porcos chineses se deve basicamente à ciência. Acionista majoritária da maior parte de suas fazendas, a gigante alimentícia exerceu esse poder para implantar medidas rígidas para melhorar os índices de higiene em todas as plantas de produção e aumentar sua biossegurança. O resultado foi que pouquíssimas de suas varas de porcos tiveram problemas, levando suas vendas no primeiro trimestre de 2020 a um aumento de 863% em relação aos mesmos três meses do ano anterior. Em resumo, a febre suína africana fez de Yinglin o fazendeiro mais rico do mundo.

De origem humilde, mas nem tanto para os padrões de seus conterrâneos, Yinglin estudou agricultura na Hunan Agricultural University de Henan. Foi lá que ele conheceu a mulher, Qian Ying, que mais tarde se tornou também sua sócia. Ao lado dela, o futuro bilionário “self- -made” começou a criar porcos em 1992. Com apenas 22 cabeças naqueles tempos e em seus 20 e poucos anos, o casal praticamente não tinha vida social e dedicava todo seu tempo ao trabalho. Qian, que se formou em economia na mesma instituição de ensino, possui uma fatia menor da Muyuan, de estimados US$ 3 bilhões.

Ainda assim, é incerto se os dois vão continuar prosperando no mesmo ritmo por muito tempo. Isso porque o mercado de alimentos chinês, que tem na carne de porco sua principal fonte de proteína, costuma ser um dos que mais sofrem intervenções do governo comunista do país. Este, por sua vez, só age quando os consumidores demonstram insatisfação com aumentos repentinos de preços ou falta de produtos nas gôndolas dos supermercados, o que de certa forma são alguns dos fatores que levaram o império de Yinglin a chegar onde está. Para o bem de todos, uma normalização dos preços de produtos suínos é esperada para os próximos meses.

Já Yinglin, que por ser um bilionário relativamente novo entre seus pares, tem dito em entrevistas que fará o possível para evitar mais quebradeiras entre os produtores de porcos independentes, que foram os que mais sofreram e ainda sofrem com as consequências da febre suína africana, nem que para isso perca dinheiro. “Ninguém imaginava que a criação de porcos, uma das atividades mais antigas da China, poderia gerar tanta riqueza”, disse Rupert Hoogerwerf, analista da empresa americana de consultoria de gestão global Hurun, ao Financial Times, em seguida citando que os figurões do Partido Comunista chinês que medem o humor dos habitantes da China ou até mesmo uma nova crise estão entre os cenários previstos por economistas para o futuro iminente de Yinglin. O bilionário que mais tem enriquecido no mundo em números proporcionais também pode ser, por uma ironia do destino, um dos que mais precisam continuar com a sorte sorrindo para si mesmo.

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