Quem são, onde vivem e o que fazem os estilosos? Numa época com tantas referências e diferentes modos de vida, como saber o que é estilo? Talvez a resposta não esteja do lado de fora
Por Victor Santos para a revista J.P
No poema “Style”, o escritor Charles Bukowski questiona a percepção da sociedade sobre uma palavra: estilo. Nos versos, ele aponta o estilo como uma diferença, uma maneira de fazer ou deixar de ser feito, a ponto de uma tarefa das mais maçantes, como abrir uma lata de sardinha, e tarefas perigosas do cotidiano de alguns podem ser levadas com leveza – ou estilo – e se tornar arte, talvez.
No passado, uma série de combinações de fácil identificação e classificação era o que configurava a questão de ter ou não estilo. Nos primórdios das sociedades, o estilo de vida não era interpretativo nem elaborado, e sim um destino predeterminado pelo nascimento; nele a vida só tinha um caminho – ponto final. Nasceu de um jeito… seria assim até o fim. Num passado mais recente, o mesmo conceito passou a ser definido por certos gurus comportamentais, ex-membros de famílias tradicionais e, nas últimas décadas, por outros tipos de agentes culturais com certa estatura de influência. Um dos mais famosos desses atores, no caso uma mulher, chegou a ser retratada no cinema como o diabo que veste… uma marca de luxo.
No século 21, estilo já não é propriedade de ninguém, mas fica a dúvida: quem é que tem estilo hoje? A confusão é natural de um tempo em que as referências são múltiplas e a ampliação do acesso as faz crescer a cada dia – um cardápio amplo de escolhas acompanhado de uma transformação constante. Assim, surge uma pergunta ainda mais interessante: o que é estilo nos dias de hoje? Voltando a Bukowski, em seu poema não há uma resposta objetiva, mas sim uma série de dicas; uma delas é a solução para todos os problemas – dos mais interessantes aos mais maçantes.
De onde vem essa ideia de estilo? De acordo com o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo Edison Bertoncelo, nossa concepção de estilo, mais focado no estilo de vida, ainda vem de uma época em que as classes eram definidas pelo nascimento na sociedade. E hoje? “Atualmente, essa ideia nos remete a uma materialização de um gosto individual, pelo menos estilo de vida entendido como um conjunto mais ou menos coerente de escolhas que materializam uma certa narrativa do ‘eu’. De quem a pessoa pretende ser aos olhos dos outros”, elabora.
Porém, lembra de algumas questões um tanto problemáticas, frutos de uma sociedade tão desigual como a brasileira. “Existem indivíduos com valor e estilo porque existem aqueles que não têm nenhum dos dois. Tendemos a naturalizar questões como o ‘bom gosto’, enquanto isso não é um dom. Existem condições sociais de produção disso que entendemos por estilo próprio”, avalia. No entanto, o professor também explica que a ideia de autenticidade costuma acompanhar o que entendemos como estilo. “Os estilos de vida e as práticas mais valorizadas são as consideradas autênticas – que não são cópias ou que sejam exclusivas. Mesmo numa cultura de massa como a nossa em que as pessoas têm acesso a muitas coisas, você consegue se diferenciar por fatores como o consumo, por exemplo.” Em um plano amplo, tendemos a ter os mesmos costumes, como tomar vinho e viajar, mas no micro existe uma diferença da forma como cada um o faz. O vinho pode ser estudado ou não, a viagem pode ser de luxo ou ter um caráter mais turístico de pacotes. Cada um faz de um jeito.
Para ampliar a discussão, perguntamos a pessoas que são referências em suas áreas: o que é ter estilo hoje?
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